sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Dólar sobe 22% e fundos cambiais lideram aplicações em 12 meses

DANIELLE BRANT e THAIS FASCINA - Folha de São Paulo



A alta do dólar favoreceu a aplicação em fundos cambiais, que lideraram o ranking de investimentos da Folha. O levantamento computa o desempenho nos últimos 12 meses e desconta Imposto de Renda. Vale destacar que, quando há perda, o IR não é cobrado.

Os fundos cambiais tiveram valorização de 17,35% em 12 meses (após desconto de IR, que é de 17,5% na categoria). No mês, a alta foi de 4,65% (sem IR). O produto, que costuma ter custos elevados de taxa de administração, é uma alternativa para diversificação de investimentos e de proteção para pessoas com despesas em dólar.

No sentido contrário, os fundos de ações livres –opção para o pequeno investidor que quer aplicar em Bolsa– tiveram o pior desempenho em 12 meses, após subirem 6,5% (após o desconto de IR, de 15%). No mês, a alta foi de 5,28% (sem IR).

A inflação medida pelo IPCA (índice oficial) foi de 7,14% nos 12 meses encerrados em janeiro. Para fevereiro, a projeção é de 1,04%, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central.
Ranking de aplicações
Além do desempenho mensal, que ajuda a identificar as principais influências sobre os investimentos nesse período, o retorno em 12 meses é considerado por refletir o comportamento dos investimentos em um prazo maior, corrigindo eventuais oscilações de curto prazo. Manter uma aplicação por pelo menos um ano também reduz a alíquota de IR a pagar.

Para tomar uma decisão de investimento, não deve ser levada apenas em conta a rentabilidade passada, pois, como bem alertam os informativos de fundos e outras aplicações, ela não é garantia de rentabilidade no futuro.
DÓLAR

A alta de 6,3% do dólar no mês favoreceu os fundos cambiais. Em 12 meses, a moeda americana subiu 22,3%. Para Carlos Pedroso, economista sênior do Banco de Tokyo-Mitsubishi, a moeda americana foi pressionada pelas incertezas em torno do aumento da taxa de juros nos Estados Unidos e também pela necessidade de ajuste fiscal no país.

"Se a gente olha o que aconteceu nas ultimas semanas, o principal fator de influência foi a preocupação com o ajuste fiscal. Mas entra na conta também o
rebaixamento da nota da Petrobras e a preocupação de que isso possa contaminar a avaliação do risco soberano", avalia.

Para os próximos meses, a dúvida em torno de quando os EUA elevarão seus juros devem causar volatilidade, afirma. "Outra fonte de volatilidade vai ser a questão fiscal, principalmente em março. É um mês-chave para a questão fiscal, com votações no Congresso de leis e do orçamento de 2015", ressalta.

Com a valorização da moeda americana, os fundos cambiais lideraram o ranking.
De acordo com Mauro Calil, especialista em investimentos no banco Ourinvest, antes de escolher um fundo é preciso ficar atento às diferenças de investimento. 

"O fundo cambial passivo, que acompanha a flutuação da Ptax, não está valendo a pena nas atuais condições. É melhor optar pelos fundos ativos, que compensam o DI e têm uma rentabilidade melhor a médio e longo prazo", avalia.

Vale lembrar que os fundos cambiais são indicados para quem tem alguma despesa em moeda estrangeira ou uma viagem planejada e quer se proteger da oscilação cambial.

BOLSA

A Bolsa se recuperou após fechar em baixa por dois meses seguidos. No mês, o Ibovespa acumulou alta de 9,97% e em 12 meses, o avanço foi de 9,53%.

A alta ocorreu na esteira da melhora nos mercados internacionais, principalmente nos Estados Unidos. O alívio causado por uma solução para a crise grega também ajudou a Bolsa brasileira a ter ganho no mês.

No entanto, a perspectiva para os próximos continua nebulosa, avalia Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil. "Não estou otimista. A expectativa é de recessão, os investimentos produtivos devem continuar caindo pelo menos durante a primeira metade do ano e o governo está sendo obrigado a recompor parte dos preços administrados por causa do ajuste fiscal, para tentar colocar as contas públicas em uma trajetória sustentável", diz.

"Isso tende a exercer pressão nos custos das empresas. Soma-se a isso o risco de racionamento de energia e de água. Tudo isso atrapalha", afirma.

OURO

A commodity teve alta de 2,02% no mês e 12,66% em 12 meses, de acordo com dados preliminares. Para Maurício Gaiote, analista da Ourominas, a alta do ouro no mês se deve a dois fatores: a tentativa de acordo da Grécia com a zona do euro e a valorização do dólar. "Esses fatores fizeram do ouro um investimento estável e valorizado, principalmente com o valor do dólar em relação ao real", afirma.

Para investir em ouro, é possível comprar contratos negociados na BM&FBovespa, que são padronizados em 250 gramas. O grama hoje está R$ 112,2. Quem quiser comprar uma barra terá de desembolsar R$ 28.050. Há corretoras, porém, que oferecem contratos com quantidades menores do metal.

O metal é considerado uma opção segura de investimento e, por isso, é mais procurado em momentos de instabilidade no mercado financeiro, como o atual.
Ainda de acordo com Gaiote, para acompanhar o andamento do ouro, é necessário ficar atento à política monetária dos Estados Unidos e à economia brasileira. A perspectiva, porém, segue favorável.

"O mercado continua dando pista de que este ano será favorável para o investimento em ouro. A economia brasileira só deve se estabilizar em 2016 e a tendência é que o dólar suba ainda mais. A perspectiva para este ano é de compra para pensar em vender apenas o ano que vem", conclui.

RENDA FIXA

O aumento do juro básico (Selic) favoreceu os fundos de renda fixa, que tiveram valorização de 9,69% em 12 meses (após o desconto de IR), e os fundos DI, com ganho de 9,21% (após IR) no período. No mês, a alta foi de 0,50% e 0,57%, respectivamente.

Esses produtos aplicam em títulos cuja remuneração acompanha a tendência do juro básico, ou que estão atrelados à própria Selic.

"Houve a alta da taxa básica de juros e do CDI (Certificado de Depósito Interbancário, a taxa de juros entre os bancos). Além disso, o crédito privado também ficou mais caro, contribuindo para a escolha deste tipo de investimento", informa Mauro Calil, do banco Ourinvest.

A poupança, tanto para depósitos até 3 de maio de 2012 quanto após essa data, rendeu 0,52% em fevereiro e 7,01% em 12 meses. A caderneta é isenta de IR.