sábado, 28 de fevereiro de 2015

'House of Cards' estreia com Underwood presidente (Políticos brasileiros rejeitam comparação...)

Fernanda Reis - Folha de São Paulo



O ardiloso político Frank Underwood manipulou todos à sua volta nas duas primeiras temporadas de "House of Cards", mas começa a enfrentar suas primeiras dificuldades no terceiro ano da série, que estreia nesta sexta (27) na Netflix. (Atenção, esta reportagem contém spoilers.)

Quando terminou a segunda temporada, disponibilizada no serviço há um ano, Underwood (Kevin Spacey), que começou a produção como deputado, atingiu seu objetivo máximo: tornar-se presidente dos EUA após causar a renúncia de seu antecessor.

Seu mandato, porém, não começa fácil. Com aprovação baixa e sem apoio do partido, o político tenta emplacar um projeto arriscado para ampliar o emprego reduzindo programas de governo.

Editoria de Arte/Folhapress
Em seu momento mais baixo, é sua mulher, Claire (Robin Wright), quem se encarrega de levantá-lo. Se nas primeiras temporadas ela já era destaque, nesta chega ao pé de igualdade com o marido.

No primeiro episódio, ela entra na briga para se tornar representante do país na ONU, relutante em se contentar como primeira-dama.

Em entrevista à revista "The Hollywood Reporter", o criador da série, Beau Willimon, desconversou sobre o futuro do casal Underwood.

"Dá para Frank subir ainda mais? A única direção possível é para baixo? Ele lutará para permanecer no topo? Tudo isso é possível", disse.

Vencedora de dois prêmios no Globo de Ouro, a série colocou de vez a Netflix no papel de protagonista no cenário televisivo, popularizando o "binge watching" –ver um episódio atrás do outro.

NO BRASIL

Deputados brasileiros que assistem ao seriado, que mostra todas as tramoias por trás do governo americano, dizem que "House of Cards" é um bom retrato –ainda que exagerado– dos bastidores da política, mesmo no Brasil.

"Traduz com muito realismo as tramas da política, onde traição, ambição, poder, lealdade e dissimulação surgem com muita força", relata o deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB-BA), que assistiu à primeira temporada. "Na política no Brasil também há armadilhas, ciladas, dissimulação."

Mendonça Filho (DEM-PE), por sua vez, ressalta que há diferenças entre o sistema político brasileiro e o americano. "A política nas democracias ocidentais tem algo de semelhante, mas os EUA têm um bipartidarismo consolidado, com um Congresso com mais protagonismo", afirma.

O deputado diz não imaginar que uma figura como Underwood –que define como "do mal", por recorrer ao crime para subir na carreira– exista hoje. "Não imagino isso acontecendo no Brasil. Muito menos nos EUA", afirma, lembrando que o personagem chega a matar um colega.

Para o deputado Lucio Vieira Lima (PMDB-BA), Underwood engloba todas as qualidades e defeitos dos políticos. "É um conjunto de personagens, não tem alguém que encarne tudo aquilo."

A revista "IstoÉ" comparou o protagonista a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, o que repercutiu em veículos internacionais como a revista "The Economist".

Ao "Valor", Cunha respondeu: "Acho um absurdo. Eu vi essa série. Existem três diferenças clássicas, ali: o cara é um assassino, um corrupto e ainda é um homossexual. Não dá para aceitar a comparação. É ofensiva".

Para Arlindo Chinaglia (PT-SP), que disputou a presidência da Câmara com Cunha, a série não abarca a complexidade da vida política americana. "Há verdade ali, é um mundo cínico, mas é uma caricatura", afirma.