O PT inverteu o foco da narrativa e voltou a atirar em seus fantasmas prediletos: a mídia, a reação, a direita, a cobiça internacional, os especuladores, os de sempre
Há alguma coisa sobrevoando a Operação Lava Jato e não são aviões de carreira, como se dizia antigamente.
Desde que o ministro da Justiça resolveu receber advogados de empreiteiras acusadas em audiência fora da agenda e que começou a tricotar estranhamente com o procurador geral da República, Rodrigo Janot, cuja integridade física estaria ameaçada às vésperas da divulgação de uma supostamente “bombástica" lista de políticos envolvidos na operação, há uma forte suspeita de “abafa" no ar.
O fato de que alguns empreiteiros importantes tenham desistido de recorrer à delação premiada depois da conversa com Cardozo é um indício de que alguma porca pode estar torcendo o rabo. O fato de Cardozo não parar de defender o seu encontro “extra-agenda” como se fosse uma prerrogativa dos ministros da Justiça ignorar o dever da transparência no trato com a coisa pública, reforça mais ainda a suspeita de que alguma trama esteja sendo urdida por baixo dos panos.
O juiz Sergio Moro criticou o encontro do ministro com as empreiteiras e o MP se manifestou contra um eventual acordo de leniência entre governo e as empresas envolvidas na apuração dos crimes na Petrobras.
Este porém não é o único imbróglio que envolve a Petrobras, embora nada seja mais letal para a empresa do que a sua transformação num balcão de negócios de sustentação de esquemas políticos.
Ela perdeu o grau de investimento da agência de avaliação de risco Moody’s não só pelos prejuízos causados pelo esquema de desvio de dinheiro, mas acima de tudo pela perda de controle de governança da empresa, que não conseguiu sequer divulgar um balanço devidamente auditado.
A presidente Dilma comentou a perda de grau de investimento com mais uma das platitudes que tem pronunciado com preocupante insistência, coisa que ela faz com a solenidade de quem anuncia ter descoberto o sentido da vida. Ela disse que a agência de risco não tem informações suficientes sobre a situação da Petrobras-como se agências de risco não fossem capazes de identificar riscos-ainda que tardiamente.
De resto, quem tinha “informações suficientes”? Ela? Gabrielli? Graça Foster?
Mesmo sendo responsável por uma administração que conseguiu a façanha inimaginável de transformar as ações da Petrobras em “junkie bonds”, o PT, como é de hábito, inverteu o foco da narrativa e voltou a atirar em seus fantasmas prediletos: a mídia, a reação, a direita, a cobiça internacional, os especuladores, os de sempre.
Todos são culpados pela desgraça da Petrobras, menos os que a provocaram. O discurso já é conhecido e só os fiéis da seita acreditam nele e o repetem como se fosse a Ave Maria. Mas desta vez o discurso veio acompanhado de uma ferocidade inédita.
Ao colocar na rua uma tropa de bate-paus mal encarados e de camisetas vermelhas para conter os protestos anti-governistas e a favor da impeachment da presidente, o PT criou um cinturão de segurança em torno do prédio da ABI, onde o líder supremo fazia a sua arenga “em defesa da Petrobras” (contra quem, além dele mesmo?)
Com a habitual serenidade e equilíbrio, Lula disse: “Quero paz e democracia. Mas eles não querem. E nós sabemos brigar também, sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele na rua”.
Ficamos sabendo, então, que há uma tropa de choque de prontidão para entrar em campo e ajudar a enriquecer o debate político e quem sabe melhorar a nota da Petrobras com paus e pedras.
O ex-presidente Lula e João Pedro Stédile, líder do MST (Imagem: Divulgação)