Justinho às vésperas de indiciar em inquérito parlamentares suspeitos de envolvimento com a roubalheira do Petrolão, por uma dessas coincidências da vida, o procurador-geral da República — chefe de uma instituição cuja independência é assegurada pela Constituição — foi conversar, em encontros não agendados, com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (sim, o mesmo Cardozo que recebeu advogadões de empreiteiras apanhadas pela Operação Lava Jato, igualmente ignorando a agenda pública) e com o vice-presidente da República, Michel Temer, principal figura do PMDB.
Falaram da Operação Lava Jato?
Claro que não! — jurou Janot, jurou Cardozo.
Claro que não — da mesma forma que Cardozo teve, com um dos advogadões de empreiteiras, um “encontro casual”, e com outros “bate-papo entre amigos”.
Claro que não — da mesma forma que Elvis Presley não morreu, tanto é que fará em breve um show na Arena do Corinthians.
A razão do encontro com Cardozo foi “melhorar a segurança” do procurador-geral, já que ele teve sua residência invadida por desconhecidos… há UM MÊS!
Ou seja, o procurador-geral está tão preocupado com sua segurança e a de sua família que levou um mês para tratar do tema com o ministro da Justiça e para, finalmente, hoje, revelar publicamente o fato. (Leia aqui reportagem a respeito.)
Mas certamente não deveríamos estranhar esse tipo de coisa na República dos Cochichos.
Ou República da Embromação, da Impostura, da Maracutaia.
Afinal, “neztepaiz” em que boi magro já custou mais caro que boi gordo, em que a gasolina sobe de preço justamente quando o do petróleo baixa em todo o planeta, em que presidente se reelege demonizando o adversário por supostamente defender medidas que ela própria tomaria imediatamente depois da eleição, em que se fazem CPIs para NÃO investigar nada, em que se “defende” a Petrobras atacando quem clama pela punição dos culpados, e não o governo responsável pela ladroagem, em que um ex-presidente, o Grande Embusteiro, fala em “paz” e “democracia” mas ameaça colocar os baderneiros do MST nas ruas, há de se estranhar o quê?
A CPI da Petrobras, por exemplo, que tem como relator um deputado governista até a raiz dos bigodes, e cujo principal objetivo é investigar irregularidades acontecidas ANTES da Grande Roubalheira? Um deputado — Luiz Sérgio (PT-RJ) — que, como ministro das Relações Institucionais, teve atuação tão chinfrim que era apelidado de “garçom” — só entregava pedidos de parlamentares a outros ministros realmente importantes, ou à própria presidente, e vice-versa? Mostrou-se tão operoso e relevante que só durou seis meses no cargo, aceitando depois, de forma humilhante, deixar o Palácio do Planalto para tornar-se ministro da Pesca (sem jamais ter sequer usado um anzol)?
Há de se estranhar, por acaso, a atuação e o comportamento do procurador-geral?
Pois ele vai empurrando com a barriga o momento de oferecer denúncia no Supremo contra estimados 40 políticos investigados pela Operação Lava Jato – inicialmente deveria fazer isso hoje, sexta-feira, depois ficamos sabendo que não, que hoje talvez saísse apenas uma lista de nomes de políticos ainda a serem submetidos a inquérito; finalmente, a notícia é de que nem a lista iria sair hoje, mas talvez na semana que vem.
Alguns desses políticos, segundo procuradores da República que trabalham no caso, já teriam contra si elementos de prova suficientes para serem denunciados ao Supremo, sobretudo como resultado da colaboração de vários réus — a chamada “delação premiada”. Mas não: ainda haverá um inquérito, de prazo e resultados naturalmente desconhecidos, para somente depois haver, se for o caso, as denúncias. Deus sabe quando.
Então, não estranhemos, não. A República dos Cochichos tem tudo isso, e, como sabemos, muito, muito mais.