domingo, 1 de fevereiro de 2015

Ligações perdem espaço, e celular vira internet de bolso

Bruno Rosa - O Globo

Em vez de conversas, troca de mensagens, vídeos e voz por aplicativos


 O ator Nando Rodrigues usa diversos aplicativos no celula Foto: Leo Martins / Leo Martins
O ator Nando Rodrigues usa diversos aplicativos no celula - Leo Martins / Leo Martins


Usar o celular para fazer uma chamada telefônica está com os dias contados. Para as operadoras de telefonia, o fim da era da voz começa a partir do próximo ano, quando as receitas com a internet vão superar as obtidas com as tradicionais ligações. Por trás dessa virada, estão aplicativos que caíram no gosto dos consumidores como o WhatsApp e outros menos populares como o arquirrival Viber. Pela plataforma, que funciona nas redes de dados 3G e 4G das companhias de telecomunicações, trafega-se de tudo: mensagens de texto, fotos, vídeos e, claro, a cada vez mais popular gravação de áudio.

O aumento do uso de aplicativos como WhatsApp e Viber ajuda a ilustrar, segundo especialistas do setor, o avanço da internet na telefonia, cujas receitas cresceram cerca de 35% no último ano. 

Ao mesmo tempo em que as redes sociais - dos mais variados tipos - ganharam presença no mundo móvel, a popularização dos smartphones, com queda de preço de mais de 50% nos últimos dois anos, dá impulso extra ao números de pessoas trafegando dados pela internet móvel.

Estimativa feita pela consultoria Value Partners indica que a internet móvel já representa 30% das receitas das operadoras no Brasil, com faturamento de cerca de R$ 31,5 bilhões somente em 2014. Segundo Francesco Pellegrino, sócio da consultoria, o país é uma das nações com maior potencial no mundo para crescer em dados móveis, já que cerca de 93 milhões de usuários ainda não têm acesso à internet. É cerca de 33% dos 280 milhões de linhas móveis em operação, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

- Esse crescimento é reflexo do aumento de smartphones e das redes 3G e 4G. Essa receita começa a se tornar mais importante a partir do ano que vem para o setor, começando no segmento fixo e, em seguida, no setor móvel. Além da voz, a internet também vem sendo responsável pela queda acentuada do uso do SMS (torpedo) - diz Pellegrino.

Assim, ligações e SMS vão se afastando da rotina dos usuários. Para o ator Nando Rodrigues, os aplicativos são usados diariamente. Ele brinca que costuma "usar o telefone à moda antiga" para cumprimentar os amigos no dia do aniversário ou quando a rede 3G apresenta problemas:

- Para quem já se acostumou com essa tecnologia, fica difícil deixar de lado. Quando o dia está muito corrido, é mais fácil mandar uma mensagem na brecha que surge do que telefonar. São inúmeros os aplicativos que permitem SMS gratuito, mensagem de voz e até ligação sem custo. Embora o pacote de dados tenha um custo, é econômico para quem usa bastante o celular.

O uso da voz pela rede de dados, por meio de aplicativos como WhatsApp e Viber, também está presente na rotina do ator:

- Uso bastante, quando preciso esclarecer um assunto que não ficaria tão claro se escrito por mensagem ou, se por mensagem, eu demoraria para explicar de uma forma completa. É uma excelente opção. E você não incomoda, pois a pessoa só vai ouvir quando de fato puder.

Seu comportamento, assim como o de milhares de brasileiros, se reflete na queda do tempo em que o brasileiro fala ao telefone. Segundo a TIM, o usuário está falando, em média, 5% a menos por ano, com, uma média de oito minutos por dia. De outro lado, a Telefônica estima que o brasileiro fica, em média, sete horas por dia navegando pelo celular.

- No futuro, haverá condições de lançar a voz sobre a rede 4G. Quando isso acontecer, é possível que a voz não seja cobrada. Os clientes compravam voz e tinham direito a dados. Hoje, o cliente compra dados e tem direito a voz - diz Leonardo Capdeville, diretor de Tecnologia da TIM.

Na TIM, 80% dos celulares vendidos são smartphones. Com isso, metade dos usuários na empresa já conta com os telefones de última geração. Só a Oi registrou alta de 111% no volume de dados trafegados no ano passado em relação ao ano anterior. Em relação à receita, a alta chegou a 16% entre os clientes pós-pagos e a 94% entre os usuários de cartão. Segundo Roberto Guenzburger, diretor de produtos móveis da Oi, a voz já não é mais geradora de crescimento da receita. Por isso, diz ele, os investimentos em infraestrutura hoje são concentrados em 3G e 4G.

- Fizemos mudanças para gerar mais receita. Passamos a migrar os clientes da rede 2G que tinham smartphone para a rede 3G. Essa mudança aumentou o uso de rede em até 20%. E passamos a cobrar dados quando a franquia acaba.

Segundo o executivo, em três ou quatro anos, a voz passará a fazer parte dos dados. Ou seja, não será cobrada:

- Com a rede 4G, a voz será transmitida em alta definição (HD, na sigla em inglês). Será um feature. Os testes já estão sendo feitos.

Na Claro, a receita de dados cresceu 40% em 2014, diz Alexandre Olivari, diretor de Serviço de Valor Agregado e Roaming da Claro. Ele destaca que os smartphones - com preços a partir de R$ 259 nos planos de conta - somaram 77,5% das vendas de aparelhos no ano passado.

- Com isso, a empresa vê a necessidade de continuar investindo em infraestrutura. Um exemplo foi comprar novo lote (de frequência) que permitirá a ampliação da tecnologia 4G.
Com 82% dos dos clientes pós-pagos com celulares de última geração, a Vivo endossa o atual movimento do mercado: enquanto a receita móvel de dados por usuário subiu 16,4% entre janeiro e setembro do ano passado, a de voz caiu 6,2%.

- Com a internet, os usuários estão se comunicando mais. Por isso, a internet passou a ser o item mais relevante na hora de escolher um plano. E ter hoje a melhor rede é decisivo - destaca Marcio Fabbris, diretor de Marketing de Serviços Móveis para a pessoa física da Vivo.