segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Empresas apostam em energia solar em residências


Naiana Oscar - O Estado de São Paulo


Com aumento da conta de luz e crise no setor elétrico, geração de energia solar em residências e em topos de empreendimentos comerciais atrai grandes investidores no Brasil, entre eles os sócios da Natura e o poderoso fundo americano TPG



Os fundadores da Natura, um jovem investidor brasileiro que vive em Miami e administra mais de US$ 500 milhões e um grupo de ex-sócios da corretora XP Investimentos. Embora não pareça à primeira vista, eles têm algo em comum: querem ganhar dinheiro com geração de energia solar, um negócio que ainda não deslanchou no Brasil por causa do preço, mas começa a se mostrar interessante. Em tempos de crise energética e com a expectativa de aumento da conta de luz em mais de 40%, esse é um segmento que vem chamando a atenção de investidores.

Há basicamente duas formas de atuar neste mercado. Uma delas é construindo grandes usinas para vender energia no mercado livre ou para o governo, como aconteceu em setembro do ano passado, no primeiro leilão de energia solar do País. A outra é investindo na chamada geração distribuída, em que o sistema é instalado no local onde a energia será consumida, como residências, indústrias e shoppings. É essa segunda possibilidade que mais tem atraído novatos para este setor.
A geração distribuída de energia começou a se desenhar no Brasil como negócio em 2012, quando uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) permitiu que o sistema solar de uma casa, por exemplo, fosse interligado à rede das concessionárias. "Foi um marco, mas a falta de financiamento e a questão tributária impediram um avanço maior desde então", diz Rodrigo Sauaia, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Na semana passada, a agência reguladora disse que estava estudando medidas com o governo federal para incentivar famílias e empresas a terem seus próprios geradores solares.
Uma das pioneiras do País, a Empresa Brasileira de Energia Solar (Ebes) foi criada com foco nas usinas, mas no ano passado se reestruturou para atrair principalmente o cliente corporativo. A mudança veio com a entrada do Texas Pacific Group (TPG), gestor americano de fundos, no capital da empresa. "Fizemos uma revisão nos planos da companhia e vimos que essa seria uma área mais interessante, porque elimina os custos de distribuição e transmissão", diz Adilson Liebsch, presidente da Ebes. "O tamanho do mercado corporativo é de R$ 40 bilhões por ano."
A empresa, criada por dois engenheiros, também tem como um dos sócios a companhia suíça ECOSolar e a Mov Investimentos, fundo do trio da Natura, Luiz Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos. Eles fizeram um aumento de capital no ano passado, mas os valores não são divulgados. Liebsch garante que o recurso é suficiente para fazer a empresa brigar pela liderança.
A Ebes vai disputar clientes com duas recém-chegadas: a carioca SolarGrid, de quatro sócios da XP, e a Conergy, uma empresa alemã de energia solar cuja massa falida foi adquirida em 2013 por um dos fundos do brasileiro Daniel Ades, dono de uma gestora com sede em Miami. Primeiro negócio de Ades no Brasil, a Conergy acabou de abrir escritório em São Paulo (leia mais abaixo).
Entre os fatores que esses investidores levaram em conta para apostar no incipiente mercado de energia solar brasileiro está a comparação com outros países. No Brasil, a geração distribuída representa 0,003% da matriz energética total, com apenas 409 sistemas em funcionamento. "Nos EUA, o número de telhados com painéis passa de 500 mil e na Alemanha, de 1 milhão" diz Mauro Passos, presidente do Instituto Ideal.