domingo, 1 de fevereiro de 2015

Eduardo Cunha derrota o governo Dilma ´Trambique` e é eleito presidente da Câmara

Isabel Braga, Maria Lima e Júnia Gama - O Globo

Desde o início do dia, campanha petista já previa dificuldades e temia a derrota no primeiro turno


O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) durante o discurso
Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) durante o discurso - Givaldo Barbosa / Agência O Globo


Contra a pesada mobilização do Palácio do Planalto nas últimas duas semanas, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) impôs uma enorme derrota ao governo, vencendo já no primeiro turno o candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), e se elegendo presidente da Câmara dos Deputados. Cunha teve 267 votos, votos contra 136 do petista. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que disputou no campo da oposição com o apoio do PSDB/PPS/PV, teve 100 votos. O candidato do Planalto teve metade dos votos de Cunha, que é considerado inimigo da presidente Dilma Rousseff, com quem sempre teve uma relação difícil. O novo presidente da Câmara comandou embates emblemáticos contra o governo, como a aprovação da PEC que acabou com a CPMF, a MP dos portos e do Marco Civil da Internet.

Desde o início do dia o comando da campanha petista já previa dificuldades e temia a derrota no primeiro turno. Nem mesmo a negociação com o PR e PSD, abrindo mão de cargos que teria direito na Mesa,impediu a derrota de Chinaglia. Além de perder a presidência da Casa, o PT fica sem nenhum cargo na Mesa e perde o comando de comissões importantes, como a cobiçada Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
— Foi uma luta renhida. Mas teve um conjunto de erros que vamos avaliar depois — desabafou o ex-líder do PT, deputado José Guimarães.

Cunha fez uma campanha milionária, percorrendo todos os estados, fazendo uma maratona de almoços e jantares e investindo pesado nos deputados novatos. Segundo peemedebistas, até sábado a tarde o Planalto, através do vice-presidente Michel Temer, tentou um acordo para dar a Chinaglia uma saída honrosa da disputa. O acordo previa o rodízio, com a renúncia da candidatura do petista agora, e apoio do PMDB a uma candidatura petista daqui a dois anos.

— O Planalto vai ter que conviver agora com um novo PMDB a partir de segunda-feira. O perfil da candidatura do Luis Henrique no Senado, e a do Eduardo Cunha, na Câmara, deixa claro que nasce um PMDB menos atrelado do Planalto — disse o deputado Darcisio Perondi (PMDB-RS).

Eduardo Cunha também já mostrou sinais da mudança de postura em seu discurso no Plenário, quando partiu com tudo contra o governo e o PT. Contrastando com os discursos mais moderados dos outros candidatos, no discurso em defesa de sua candidatura ele partiu para o ataque contra seu principal adversário na disputa, o petista Arlindo Chinaglia. Em sua fala, Cunha destacou que eleger Chinaglia seria fazer “a escolha errada” e deixar o Congresso submetido ao Poder Executivo.

Ele disse ainda ter sido vítima de ataques por parte do PT, afirmando que o partido transforma em “inimigos” aqueles que são seus adversários. O deputado defendeu que um candidato “apoiado e patrocinado” pelo Palácio do Planalto não teria condições de colocar em pauta temas que contrariam os interesses do governo.

– Vivemos uma campanha muito dura, na qual fui muito atacado, agredido, até porque sabemos que o PT não tem adversário, tem inimigo. Todos aqueles que ousam o enfrentar acabam se tornando vítimas de todo tipo de ataque – afirmou.

Em sua fala Arlindo Chinaglia tentou atrair os deputados novatos e tucanos que foram enquadrados pelo senador Aécio Neves(MG), para manter o compromisso de apoiar Júlio Delgado no primeiro turno na disputa da Câmara.

Disse que assumiu a incumbência de ser candidato com humildade, mas muita determinação. E prometeu ser mais presidente da Câmara do que candidato da base do governo e garantiu que seu compromisso radical é com a verdade, a Justiça, o Brasil e o engrandecimento da Câmara dos Deputados.

— Aqui não vai se estabelecer , de maneira alguma, nenhuma relação de subordinação — discursou.

Foi aplaudido pelos aliados ao relembrar declaração, atribuída ao senador José Serra (PSDB-SP) sobre a necessidade de pensar no Brasil, não apenas derrotar o PT na disputa. Júlio Delgado diz que essa declaração de Serra foi em defesa de sua candidatura, não de Chinaglia.

— Vou relembrar aqui uma declaração que muito me honra do senador José Serra, do ex-governador do meu estado de São Paulo. Ele disse que não podemos apenas pensar em derrotar o PT, sem pensar o que é melhor para o país — discursou Chinaglia, na tentativa de ganhar votos no PSDB.

Em sua defesa Júlio Delgado apelou para o resgate da moral, da ética e da boa política e destacou a importância de lembrar das manifestações que levaram brasileiros ás ruas do país, em 2013. Delgado também usou o discurso na sessão para fazer um alerta aos 198 deputados de primeiro mandato: cuidado com promessas feitas pelos outros candidatos, como a construção do bloco de novos gabinetes ou as indicações para comissões temáticas da Casa.

— Sou um cidadão que faz política. A boa política tem que ter como norte a moral ética, os valores elevados. Vamos ficar alertas aos sinais que vêm das ruas, os novos que aqui se misturam chegam aqui com o sentimento das ruas. Se não mudarmos nossas práticas dentro dessa Casa, mudar com os que trazem seu sentimento de mudança, podemos estar sendo mudados em 2018, tantos os novos, quantos os reeleitos _ disse Júlio Delgado.
O candidato do PSB disse que promessas feitas por seus adversários, como a construção do Anexo de novos gabinetes e a indicação para comissões da Casa, podem enganar os deputados novatos. A Câmara tem 198 deputados de primeiro mandato.

— A construção do Anexo 5 depende, não podemos enganar os novos, foi o presidente Arlindo que conseguiu os recursos, mas não há espaço físico, precisa de autorização. Vamos parar com essa demagogia. Não posso oferecer para um deputado que chega a essa casa, comissão, titularidade porque todos têm direito a elas. Todos têm direito a comissões, é um direito do parlamentar, não votem presos a isso — apelou Delgado.
Júlio Delgado fez questão de agradecer os partidos que deram sustentação ao bloco de "mudança, de trabalho e que representa a ética". Durante a última semana, houve forte pressão de deputados tucanos para o desembarque da candidatura dele e adesão formal ao bloco do peemedebista Eduardo Cunha. A cúpula do PSDB reagiu e manteve o apoio a Delgado.

Delgado criticou o gasto elevado das campanhas dos adversários nesta disputa da Câmara:

— Quanto vale a presidência da Câmara dos Deputados? Talvez muito mais do que está sendo gasto na campanha. Mas o que está sendo gasto pode fazer com o que custo, lá na frente, seja muito caro para nós A vida quer de nós coragem, venho pedir o voto e o apoio para ir ao segundo turno e vencer as eleições

O primeiro discurso foi do candidato do PSOL, o deputado Chico Alencar (RJ) que defendeu em seu discurso pré-votação neste domingo, que se parlamentares eleitos para presidir a Câmara e no Senado estiverem na lista da denúncia do Ministério Público relativa à Operação Lava Jato, renunciem ao cargo. Chico Alencar não citou nomes, mas disse que pregava esse tipo de atitude na Câmara e também no Senado. O Ministério Público deverá apresentar, em fevereiro denúncia contra políticos envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras e os nomes de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL) foram citados por investigados na operação.

— Um espectro ronda o Congresso Nacional, o fantasma da Lava Jato. Seria terrível, angustiante, hoje estarmos no primeiro dia de festa, e nos víssemos daqui a 20 dias com denúncias do Ministério Público, com denúncias contra nós. Devemos assumir compromisso de desistirmos de qualquer cargos de mando em nome da propalada imagem da Casa caso o Supremo acolha denúncia do Ministério Público e estejamos sendo investigados. Vale também para o Senado, tomar uma medida profilática e condizente com nossos princípios — disse Chico Alencar.