segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Produtores rurais e caminhoneiros vão participar das manifestações do 7 de setembro

 

Caminhoneiros misturados a manifestantes na Esplanada dos Ministérios em 7 de setembro de 2021: líderes da categoria estimulam a participação da categoria este ano, mas sem os caminhões| Foto: Alan Santos/PR


Produtores rurais e caminhoneiros vão aderir às manifestações do 7 de setembro. Eles irão defender as pautas oficiais dos atos de rua, tais como a celebração dos 200 anos de independência do Brasil, a defesa das liberdades, o respeito à democracia e a demanda por eleições transparentes.

O caminhoneiro Janderson Maçaneiro, o "Patrola", líder da categoria com atuação em Itajaí (SC), prevê a adesão de muitos transportadores autônomos e celetistas aos atos do 7 de setembro. Mas ele afirma que a participação de caminhões foi descartada. Em 2021, alguns trabalhadores foram a Brasília e estacionaram os veículos no gramado da Esplanada dos Ministérios.

O setor agrícola também estará presente, inclusive no desfile cívico-militar de Brasília. A Gazeta do Povo apurou que existe a previsão de que 27 tratores desfilem junto de grupamentos das Forças Armadas e viaturas das forças auxiliares de segurança pública.

"O agro na nossa região [Centro-Oeste] está pleno e totalmente engajado para participar efetivamente", afirma o produtor rural e engenheiro agrônomo Hélio Dal Bello. "Inclusive dispensaremos os funcionários para que vão à Esplanada, com dispensa da diária e pagando o deslocamento [dos trabalhadores que quiserem ir à manifestação]."

Dal Bello diz que, além de liberar os funcionários e estimular os colaboradores que quiserem participar da manifestação em Brasília, os agricultores também estão hasteando bandeiras do Brasil em suas fazendas e custeando os gastos com publicidade em placas de outdoor para convocar a população para a Esplanada.

"Eu mesmo tenho aqui na cidade [onde moro] um outdoor que devo colocar: 'É agora ou nunca, 7 de setembro'. Estamos 100% focados para o 7 de setembro e com vontade de participar", afirma o produtor rural.

Dal Bello prevê uma festa democrática e diz que os empresários querem demonstrar um sentimento de "angústia" percebido no setor. Segundo ele, os agropecuaristas não querem uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e se espelham na crise econômica na Argentina para rechaçar o candidato petista. "Nosso espelho aqui é a Argentina. Eu fui várias vezes à Argentina. Temos amigos que estão sofrendo lá. Nosso reflexo é com os 'hermanos'. Nosso medo é a desgraça vir para cá e não sei o que vai acontecer. Nós, do agro, estamos muito apreensivos que a esquerda vença", diz.

O presidente da Associação Goiana de Produtores de Algodão (Agropa), Carlos Alberto Moresco, confirma sua presença a Brasília como "cidadão". "Vou normal, com a minha camisa verde e amarela e vou estar lá para prestigiar o desfile", diz.

Moresco torce para que o desfile cívico-militar conte, de fato, com a participação dos tratores. "Não estou sabendo disso. Mas, se tiver essa homenagem, o setor ficará honrado em ter essa oportunidade de mostrar para a sociedade a sua importância, uma vez que o agro está dentro da casa de cada cidadão brasileiro todo dia. Nós temos uma relevância muito grande no cenário mundial", diz.


Caminhoneiros descartam paralisação neste ano

O caminhoneiro Janderson Maçaneiro, o Patrola, descarta a hipótese de que a categoria promova o bloqueio de rodovias neste ano – em 2021, eles também participaram dos atos e, posteriormente, chegaram a paralisar o fluxo em algumas estradas.

"Isso está fora de cogitação. Nem esquerda ou a direita conseguem fechar rodovia agora", afirma. "O próprio saldo do ano passado foi muito negativo. Apesar de entender que o 7 de setembro de 2021 foi uma das maiores festas da democracia, o saldo foi de multas muito pesadas para a categoria", diz Patrola.

O caminhoneiro Aldacir Cadore, líder da categoria com atuação em Luziânia (GO), é outro a descartar a possibilidade de paralisação. Às vésperas das eleições, essa é uma hipótese que ele rechaça, embora demonstre preocupação em relação ao clima de animosidade na categoria.

Os mandados de busca e apreensão autorizados pelo ministro do STF Alexandre de Moraes contra oito empresários acusados de defender um golpe de Estado no Brasil causaram apreensão e indignação entre caminhoneiros. "Muita gente acha que foi uma medida autoritária", diz Cadore, que vai participar dos atos em Brasília como "cidadão". "Vou deixar o caminhão em casa e vou como cidadão, não como caminhoneiro", destaca.

Patrola concorda com a avaliação sobre a medida de Alexandre de Moraes. "É o que todo mundo grita: 'Se os grandes [empresários] não têm liberdade para falar o que querem em uma condição privada, o que vai ser conosco? Do que vão nos privar se estão privando grandes empresários com capacidade jurídica? Se estão desdenhando desses caras, o que vai acontecer comigo?' Todos acham que é um ataque direto à democracia e à liberdade de expressão", diz.

Ele articula junto com outros líderes da categoria a elaboração de uma carta em defesa da liberdade de expressão. Ele apresentou essa proposta em um grupo de WhatsApp com outras 26 lideranças, que avaliam a sugestão. "O que está acontecendo é inadmissível para todos os lados, esquerda ou direita. Entendo que o indivíduo possa dizer [algo sobre golpe]; não fazer. Como a gente conseguiu nos últimos tempos uma expressão política, não podemos deixar essa situação. É nesses momentos que ocorrem as crises que precisamos reafirmar nosso espaço", diz.

Patrola afirma ainda que vai gravar um vídeo às vésperas de 7 de setembro para aconselhar a categoria a não defender posicionamentos que possam ser interpretados como antidemocráticos. "Vou pedir que tenhamos uma manifestação muito expressiva, democrática e sem a participação de caminhões", diz.

O caminhoneiro Odilon Fonseca, líder da categoria com atuação em Confresa (MT) que capitaneou a paralisação em 2021, não acredita em animosidade da categoria para o 7 de setembro. "Eu não tenho visto falar nada fora, em outros estados ou outras regiões do Mato Grosso, de que vai haver algum protesto em rodovia ou algo assim. Não vamos ver nada igual ao ano passado. A eleição está chegando e a maioria dos caminhoneiros está mais preocupada com isso", diz. Odilon ainda não sabe se vai a Brasília, mas afirma que também se manifestará de "verde e amarelo" como "cidadão", não caminhoneiro.


Adesão de caminhoneiros e agro em 2021 foi marcada por ofensiva de Moraes

A participação de caminhoneiros e empresários do setor agrícola nos atos de 7 de setembro de 2021 foi marcada por uma ofensiva do ministro Alexandre de Moraes, do STF, contra lideranças das duas categorias.

Às vésperas das manifestações, Moraes instaurou um inquérito específico para investigar os atos. Ele determinou a prisão de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) por ameaças a magistrados da Suprema Corte e o bloqueio de contas e busca e apreensão contra supostos financiadores dos atos. Um dos que foi alvo de mandado de prisão foi o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, o "Zé Trovão". Moraes entendeu que havia ameaça de cometer atos de violência nas manifestações.

O ministro do STF também autorizou o cumprimento de mandados de busca e apreensão na Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT) e na Associação Nacional dos Produtores de Soja (Aprosoja). O então presidente nacional da Aprosoja, Antônio Galvan, passou a ser investigado como um dos supostos financiadores das manifestações de 7 de setembro. A suspeita da Procuradoria-Geral da República (PGR) era de que as entidades estariam utilizando recursos do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) e do Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal) para financiar os atos.

Em reação ao inquérito, agricultores apoiaram a montagem de um acampamento no gramado da Esplanada dos Ministérios com infraestrutura para acomodar manifestantes que pediam pautas como o impeachment de ministros do STF.

Os caminhoneiros, por sua vez, promoveram paralisações em 8 de setembro, com o registro de bloqueios em rodovias de 15 estados. Um dia seguinte, não havia mais trechos obstruídos, mas o Ministério da Infraestrutura ainda apontou naquele dia pontos de concentração em rodovias em 13 estados.

Líderes caminhoneiros condicionaram à época o desbloqueio de trechos em rodovias à absolvição de "presos políticos" por Moraes, à tramitação do impeachment de ministros do STF e do voto impresso auditável. Cerca de 10 transportadores autônomos foram recebidos no Palácio do Planalto e apresentaram a pauta a Bolsonaro, que pediu a desobstrução das rodovias.


Rodolfo Costa, Gazeta do Povo