quinta-feira, 7 de julho de 2022

Cracolândia criada pela organização criminosa do Loola se espalha pelo centro de São Paulo

Dependentes químicos deixaram a Praça Princesa Isabel depois de operação policial que prendeu chefes do tráfico

Trecho da Avenida Rio Branco - 04/07/2022 | Foto: Cristyan Costa/Revista Oeste
Trecho da Avenida Rio Branco - 04/07/2022 | Foto: Cristyan Costa/Revista Oeste

Quem passa em frente à Praça Princesa Isabel, no centro da cidade de São Paulo, se surpreende com a limpeza, a ausência de moradores de rua e barracas. O local abrigou a cracolândia por quase quatro meses, depois de os viciados deixarem as imediações da Estação Júlio Prestes, perto dali, a mando do tráfico.

Contudo, basta andar poucos metros para ver que os viciados tomaram conta dos quase 2 quilômetros da Avenida Rio Branco, uma das principais vias da capital. Diariamente, é comum ver sacolas voando com a passagem de carros, um amontoado de gente dormindo no meio-fio da avenida e nas calçadas, além de restos de marmita no chão, que exalam um forte odor.

Pablo Ferreira, 32 anos, mora na Rua dos Gusmões, paralela à Rio Branco. Comerciante, ele tem uma loja de eletrônicos a dois quarteirões de casa. Sua rotina era a da maioria das pessoas: acordar cedo e ir trabalhar. O dia a dia, porém, mudou drasticamente após a mais recente mudança da cracolândia, cujos tentáculos chegaram às portas de Ferreira. Os viciados também estão em trechos do quadrilátero composto das ruas Osório, Santa Ifigênia e Andradas.

Hoje, para vender seus produtos, Ferreira tem de manter as portas semiabertas. Quando os viciados estão agitados, não consegue nem abrir a loja. “Eles entram no estabelecimento e furtam”, disse. “Se chamamos a polícia, sofremos represália.” Segundo Ferreira, os moradores vivem com medo. Por isso, passou a buscar o filho e a mulher na Estação Júlio Prestes, por receio de deixá-los voltar para casa sozinhos.

Ferreira disse ainda que as noites têm sido bem complicadas, devido ao som alto e às vozes das pessoas comercializando drogas a céu aberto.

Na manhã de ontem, cerca de 50 dependentes químicos invadiram uma lanchonete na Rua dos Gusmões.


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A cena se repete a pouco mais de 1 quilômetro do local. No sentido da Avenida Paulista, viciados e demais moradores de rua se amontoam embaixo dos 3,5 quilômetros do Minhocão, antigo Elevado Presidente Costa e Silva, em uma “minicracolândia”. Em alguns momentos do dia, é comum o trânsito ficar congestionado, devido à locomoção de drogados.

Ao jornal Folha de S.Paulo, a Secretaria de Segurança Pública informou que, em uma reunião com representantes da prefeitura e de moradores da Santa Cecília, ficou acertado que a PM intensificará o policiamento na região.

Em nota, a prefeitura de São Paulo informou que “está atenta às movimentações no território, que estão muito dinâmicas, e está trabalhando para reduzir ao máximo o incômodo aos vizinhos e ao comércio”, além de comunicar que a Guarda Civil Metropolitana “patrulha ostensivamente a área”.

Até o momento, nada foi feito.

Leia também“Apocalipse zumbi”, reportagem publicada na Edição 107 da Revista Oeste

Cristyan CostaRevista Oeste