sexta-feira, 29 de julho de 2022

'Homens de geleia, castelos de areia', por Ana Paula Henkel

Juliano Cazarré | Foto: Reprodução mídias sociais


Acusado de machismo, o ator Juliano Cazarré não se curvou à patrulha ideológica e criticou a demonização masculina


Para quem conhece a obra de Olavo de Carvalho, ou nunca se deixou pautar apenas pela rasa histeria das redes sociais, sabe que seu legado vai muito além dos malcriados comentários — alguns muito bem entregues, diga-se de passagem — nas plataformas digitais. Na semana de sua morte, escrevi aqui em Oeste sobre como fui fisgada por seus textos e, posteriormente, sua obra. Olavo deixou um legado intelectual que só será, de fato, conhecido daqui a alguns anos. O motivo é simples: muitos jovens consumiram e ainda devoram seus artigos e livros, e as sementes do professor ainda germinam, embora muitas árvores, já com frutos, já podem ser vistas no árido solo de nossa atual sociedade.

Para os haters, Olavo “falava bobagem demais”. Para outros tantos milhares de alunos e admiradores, o professor chamava a atenção pela precisão em diagnósticos sociais, intelectuais e humanos. Entre tantos artigos e frases célebres, nesta semana fui buscar especialmente uma que li de várias maneiras em suas obras, e que define muito bem o que a falta de homens fortes está causando no atual Ocidente: “Conservadorismo significa fidelidade, constância, firmeza. Não é coisa para homens de geleia”.

Mas nem tudo está perdido. Às vezes, somos brindados por boas surpresas que a vida nos apresenta e enchem nossos dias com uma fresca esperança, apesar da aparente adversidade. Na quarta-feira 20, o ator Juliano Cazarré foi acusado de machismo durante uma live em seu perfil no Instagram. Para a surpresa de muitos, o ator não se dobrou à turba virtual jacobina sedenta de sangue e, no melhor estilo Olavo de Carvalho, colocou o dedo em uma das feridas da atual sociedade: a demonização do homem, a tentativa de castração intelectual do sexo masculino e o sufocamento perigoso de virtudes masculinas que sustentaram pilares importantes no Ocidente. Não, não estou dizendo que apenas homens merecem todas as glórias pelo mundo livre em que vivemos. Nós, mulheres, também temos a nossa valiosa contribuição em capítulos importantes, mas é fato que, se vivemos em nações livres hoje, as mais livres de toda a história da humanidade, é porque bravos homens colocaram suas vidas nas trincheiras — literalmente — por valores, princípios, tradições e pelo futuro de suas famílias.

Juliano Cazarré, na novela Pantanal | Foto: Reprodução mídias sociais

Devoto de São José

Para entender todo o contexto da mais recente tentativa de cancelamento de uma figura pública, Juliano Cazarré e sua esposa, Letícia Cazarré, acabaram de ter um bebê, a pequena Maria Guilhermina, que nasceu com anomalia de Ebstein, uma cardiopatia congênita rara. Assim que nasceu, Maria Guilhermina foi levada da sala de parto diretamente para uma sala cirúrgica, onde ficou por quase dez horas. Além da menina, o ator é pai de outras quatro crianças, todas fruto do seu casamento com Letícia: Vicente, de 11 anos, Inácio, com 9 anos, Gaspar, de 2 anos, e Maria Madalena, com apenas 1 ano de idade. Em uma recente entrevista, Cazarré ficou emocionado ao falar da família e de como foi a volta para a Igreja Católica, acrescentando que não é fácil ser cristão no mundo do entretenimento. Sem medo de mostrar sua fé na Rede Globo, disse que se encontrou na religião apenas na vida adulta e deu seu emocionante testemunho: “Tem um espaço no seu coração que só cabe Deus. Enquanto você não preencher esse lugar, todas as outras coisas ficam faltando sal. Quando Deus ocupa esse lugar, tudo ganha sabor”. 

Esse processo artificial e perigoso de tornar o homem feminino e a mulher masculina jamais pode dar certo

E exatamente por colocar suas aflições nas mãos de Deus que o ator, longe da esposa, que praticamente mora em uma UTI neonatal diante da gravidade da situação em que a filhinha ainda se encontra, resolveu fazer uma série de 30 lives em seu Instagram sobre a vida de São José, santo do qual o ator é devoto. Juliano iniciou a transmissão explicando sua ausência no dia anterior: “Não pude vir ontem. Acordei, fiquei um tempo com as crianças, porque elas precisam de atenção, corri para a Globo, gravei, gravei, gravei, cheguei tarde em casa”. Então, Cazarré enfatizou que sua família estava sempre presente e convidou sua audiência para falar do pai de Jesus na Terra: “Vamos falar desse ideal de homem que é São José”. Foi quando um internauta comentou que Juliano era machista ao dedicar a vida a um arquétipo de pai, de homem, excluindo a proteção da mãe. Juliano, então, desafiou a pessoa a encontrar um homem que trate sua esposa tão bem quanto ele, inclusive dizendo que naquele momento estava em casa com seus quatro filhos, enquanto sua esposa, Letícia, estava em São Paulo: “É por isso que estou aqui falando de São José, para vocês aprenderem a defender as mulheres, a ficar em casa. Fez filho? Assume, cria. Está com problema no casamento? Resolve, continua casado, se sacrifica, acorda mais cedo, dorme mais tarde, pega dois empregos, pega três empregos. É por isso que estou aqui, por causa desse tipo de frouxo aí”.

A turba, como sempre pequena, mas barulhenta, insistiu nos xingamentos de machista, até que o ator resolveu soltar o verbo. Parte do desabafo de Juliano Cazarré, na verdade, está entalado na garganta de milhões de brasileiros e cidadãos pelo mundo. O ator foi, na verdade, um conduíte para a voz sufocada de tantas pessoas que não suportam mais essa agenda nefasta da demonização do homem: “Ai, machismo! Cazarré é machista, quem tem mãe não tem proteção! Eu falei que quem tem mãe não tem proteção? É sempre essa frescura, meu irmão! É sempre essa frescura, por isso que está cheio de homem geleia assim! Falar bem dos pais não é falar mal das mães. Seu moleque! Eu estou em casa com quatro! Quatro! E vocês estão aí falando: ‘Ah, seja livre, gata’! Seja livre, eu não sou machista, não! Pega uma hoje, pega outra amanhã, pega e larga as mulheres todas para trás, faz filho e foge. Eu sou o cara que está em casa, palhaço! (…) E toda sociedade que fica sem homem afunda, porque toda sociedade precisa de um equilíbrio entre masculino e feminino. E gente assim, fresca, é o tipo de gente que faz mal para a mulher, que abusa, que maltrata, que não defende, que tira proveito”. 

Ufa! Antes de prosseguir: OBRIGADA, CAZARRÉ. Que Deus te abençoe.

Homens não são mulheres com defeito. Ponto. Esse processo artificial e perigoso de tornar o homem feminino e a mulher masculina jamais pode dar certo. Meninos e meninas, evidentemente, têm qualidades e defeitos, e cabe a todos nós, como sempre coube, mostrar os melhores exemplos, educar, disciplinar, impor limites e orientar. Vou sempre sair em defesa de homens maravilhosos e honrados como meu pai, meu marido, meu filho e grandes amigos. Somos um time: nas esferas familiares, profissionais e na sociedade. Precisamos uns dos outros. Homens fortes que sabiamente se alinham a mulheres fortes são ocupados o suficiente para não responder a narrativas de certas elites completamente desconectadas da realidade, encapsuladas em seu mundinho de autorreferências e que necessitam sinalizar virtude demonizando todos os homens.

Esse comportamento empurrou a sociedade para um transe coletivista em que muitos homens acreditam que é preciso pedir desculpas pelo pecado de outros, pelos pecados históricos, sejam lá quais tenham sido, e, inclusive, pedir perdão pelo futuro

O que essa gente não percebe é que a atitude de querer “elevar” as mulheres demonizando todos os homens acaba exatamente por facilitar a vida de estupradores, assediadores e agressores. Estes, de sua parte, podem alegar que são apenas “homens como todos os outros” e assim desaparecer na multidão. Se o comportamento abusivo do tal “patriarcado” vil é padrão e natural, como condenar os criminosos por seus crimes, o verdadeiro machismo e até a violência doméstica de reais demônios em nossa sociedade? Eles estariam só “sendo homens” na lógica perversa e pervertida do extremo feminismo que precisa do aplauso fácil sem se entregar ao debate intelectualmente honesto.

Esse comportamento empurrou a sociedade para um transe coletivista em que muitos homens acreditam que é preciso pedir desculpas pelo pecado de outros, pelos pecados históricos, sejam lá quais tenham sido, e, inclusive, pedir perdão pelo futuro. Numa sociedade na qual o indivíduo e suas responsabilidades viraram coadjuvantes, em que o que vale é o coletivo, machismo e masculinidade foram parar no mesmo balaio. E, em vez de vilipendiar a masculinidade, é preciso reforçar o papel histórico dos homens na proteção das mulheres e do lar, na parceria na criação e no cuidado com os filhos, no apoio profissional em busca de nossos sonhos, e não o uso de espantalhos ideológicos preconceituosos para agradar a sanha de meia dúzia de ativistas enlouquecidas e mal resolvidas. Desde que o mundo é mundo, há estupradores, assediadores e agressores, e a maneira de combater esses crimes passa necessariamente pelo trabalho heroico de homens de bem.

Mulheres fortes não depreciam homens apenas por serem homens. Mulheres fortes combatem indivíduos perversos

Para o psicólogo canadense Jordan Peterson, talvez um dos maiores pensadores contemporâneos, combatente contra o politicamente correto, a sociedade nunca esteve tão doente. Recentemente, com a coragem que lhe é peculiar, gravou um vídeo intitulado “Mensagem às igrejas cristãs”, abordando a demonização dos homens e o papel da família e das igrejas cristãs em reverter essa aura de transe coletivo de que homens são machistas por natureza e por isso são nossos inimigos. Peterson, cristão, assim como Cazarré, não poupou críticas ao ativismo exacerbado e danoso de homens, mulheres, padres e pastores. Em breve, escreverei sobre a abordagem de Jordan Peterson e todo o seu magnífico trabalho — enfrentando cancelamentos quase que diários e guilhotinas virtuais sempre — em abrir os olhos de uma sociedade que está profundamente perdida, desalmada e inerte diante do mal que a corrompe como uma bactéria letal, de dentro para fora. Às igrejas cristãs, Peterson manda uma mensagem direta e necessária: “Vocês são igrejas, pelo amor de Deus. Parem de tentar salvar o maldito planeta. Auxiliem as almas. É para isso que vocês servem. É o seu dever sagrado. Façam-no. Agora. Antes que seja tarde demais”. 

O psicólogo Jordan Peterson | Foto: Shutterstock

Há outra célebre frase de Olavo de Carvalho que coloca em palavras homens de fibra e com o coração cheio de princípios: “Heróis genuínos fazem-se desde dentro, na luta da alma pela verdade da existência. Antes de brilhar em ações espetaculares têm de vencer a mentira interior e pagar, com a solidão moral extrema, o preço da sinceridade”. 

Obrigada, Olavo, Cazarré e Peterson. 

Pelos exemplos em ações, criaremos filhos íntegros, homens dignos de terem mulheres fortes que ajudem a edificar um lar robusto e com princípios. Foram bons homens que lutaram pela liberdade de todos nós e que permitiram um ambiente e uma sociedade protegidos do que supostamente incomoda as feministas mais radicais. E esses homens são a regra, não a exceção. Uma sociedade forte — feita também de mulheres fortes — não é construída retratando os homens como inimigos a serem derrotados. Mulheres fortes não depreciam homens apenas por serem homens. Mulheres fortes combatem indivíduos perversos. Mulheres fortes combatem a mentira, a ideologia coletivista acima de nossos reais desejos e crescimento pessoal, e pavimentam o futuro com a ajuda de homens idôneos e corretos. Um reino construído apenas na histeria da demonização do sexo oposto não passa de um reino feito de castelos de areia por homens de geleia. 

Leia também “Vai ter bandeira, sim!”


Revista Oeste