Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal | Foto: Marcos Corrêa/PR
Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, aposta na concessão de microcrédito para um exército de pessoas físicas e microempreendedores individuais
Quase sussurrando e longe poucos metros de uma de suas diretoras, Pedro Guimarães confessa que perdeu a conta de quantas tentativas sofreu de personagens de Brasília para transformá-lo em um ministro do Planalto, bem longe da presidência da Caixa Econômica Federal. O motivo é simples. Antes da sua chegada, em janeiro de 2019, a estatal — cujos lucros alcançam, em média, R$ 1 bilhão por mês atualmente — não tinha capital e o foco era o empréstimo bilionário para grandes empresas nacionais, muitas das quais simplesmente não pagavam a instituição. Fora da Caixa, e dentro de um ministério, ele cederia a chave do poderoso cofre de um banco — que só na concessão de créditos gira em torno de R$ 900 bilhões — para um eventual retorno à farra do passado. “O pessoal antes tinha outro foco. Ficava muito mais tempo preocupado em fazer camarote no circuito Barra–Ondina, em Salvador, e pouco em questão estratégica”, diz Guimarães a Oeste na sua ampla sala no 17° andar do prédio da Caixa, com vista para Avenida Paulista e foto do presidente Jair Bolsonaro atrás da mesa. A citação do camarote patrocinado da Caixa é de um contrato do passado, na faixa de R$ 30 milhões, para o Carnaval baiano e para o Museu da Caixa Cultural no Recife. Se meses atrás seu nome foi sondado para ser um potencial vice-presidente num eventual segundo mandato de Bolsonaro, Guimarães garante que não pensa nisso, muito menos num ministério: “Meu plano é ficar cinco anos na Caixa, porque acho que agora começo a entender a vida como ela é”, diz. “Vou seguir na Caixa, porque só me vejo aqui.”
Exército de negativados
Na última semana, Guimarães esteve no México e no Peru, num roteiro que se iniciou em Bangladesh e no Quênia e vai seguir para a Índia e a Indonésia, até finalizar na Tanzânia, em Uganda e no Congo. O objetivo das viagens é esmiuçar e fechar parcerias para um tema que, nas palavras de Guimarães, é uma revolução: a concessão de microcrédito para um exército de pessoas físicas negativadas e microempreendedores individuais, os famosos MEIs. Nos planos da Caixa, o banco vai atender 5 milhões de brasileiros nos próximos meses, de um mercado potencial de 40 milhões de pessoas, de acordo com projeções de executivos do banco. Em Bangladesh, país referência nessa modalidade de crédito, a Caixa acaba de fechar uma parceria com o Grameen Bank, conhecido como o primeiro banco do mundo especializado em conceder microcrédito a pessoas de baixa renda (seu fundador, Muhammad Yunus, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2006, é conhecido como o “banqueiro dos pobres”). “A Caixa vai ser o banco digital do Grameen e eles vão pegar os 50 anos de experiência deles e colocar na gente”, diz Guimarães, que embarcou com três executivos da Caixa. Como tem feito no Brasil, com viagens aos fins de semana de Roraima ao Acre, Guimarães vai sair a campo em outros países para conhecer os beneficiados pelo microcrédito. Entre eles, um grupo de 77 mulheres (foto abaixo). Em cada visita, um flash. Guimarães conta que causou estranheza aos moradores sua chegada de terno e gravata a uma vila em Bangladesh. Do tamanho do Acre, a nação tem 180 milhões de habitantes, dos quais 32 milhões têm acesso ao crédito. “Tirei tudo e rolei na areia”, contou. “Todo mundo junto, e foi aquela bagunça.”
A estatal digital
Os planos dos executivos da Caixa são conceder de R$ 300 a R$ 1.000 para pessoas físicas e de R$ 1.500 a R$ 3.000 para os MEIs. A operação vai ocorrer através do aplicativo Caixa Tem, o que o transforma rapidamente num gigante banco digital. Como tudo o que envolve os discursos de Guimarães, um vendedor nato, as ambições são grandes e a propaganda é superlativa: “O Caixa Tem deve se transformar num dos cinco maiores bancos de microcrédito do mundo e no maior do Brasil”. De Bangladesh, o time do banco trouxe a experiência de como aumentar o crédito gradualmente para bons pagadores. “A gente sabe, é óbvio, que, para fazer diferença ao MEI, R$ 10.000 é melhor que R$ 3.000”, afirmou. “Mas não posso começar pelo maior, porque não temos uma base de dados, e sabemos que muita gente não vai pagar.” Com uma base robusta de clientes, o próximo passo é o oferecimento de serviços, como seguros e cartões de crédito para baixa renda.
A Índia e a proteína
A Caixa comemorou internamente nos últimos dias um feito: a estatal desbancou o Bradesco no crédito para o agronegócio e é a segunda do ranking no segmento, atrás apenas do Banco do Brasil — que em setembro tinha mais de R$ 225 bilhões em carteira. Em 2019, o banco ocupava a oitava posição. Até dezembro, a instituição almeja fechar o ano com R$ 50 bilhões em concessões — e elevar a carteira para o agro em R$ 200 bilhões até 2024. O avanço meteórico no segmento segue uma lógica simples: estar no setor que impulsiona o país. “Se me perguntar qual é o segmento em que o Brasil será forte em 2072, é o agro, claro. Como posso não estar no setor que vai continuar sendo forte daqui a 50 anos?”, questiona. “Isso sem contar que a Índia não teve um aumento de renda per capita. Na hora que tiver, o indiano vai querer consumir proteína. Se hoje o Brasil é o principal produtor de proteína animal e produtos agrícolas do mundo, imagina quando a Índia — com a mesma população da China — começar a comer carne?” Nas contas dele, o Brasil é o único país do mundo que pode atender à demanda de alimentos no mundo.
Carnaval em abril…
Cerca de 90% dos ingressos do N1, camarote mais concorrido da Marquês de Sapucaí, foram vendidos até quinta-feira (21). Cada noite custa cerca de R$ 3.000. A cervejeira Brahma, a marca têxtil Colcci e a fabricante de bebidas Pernord Ricard são as patrocinadoras do espaço, que foi levemente reduzido, por questões sanitárias. Dos 3.000 lugares permitidos em tempos pré-pandêmicos, foram disponibilizados 2.500 ingressos.
…no Rio e em São Paulo
Ju Ferraz, sócia e diretora de negócios da Holding Clube, organizadora do camarote, diz que as vendas e a empolgação dos foliões foram impulsionadas nos últimos dez dias, porque o público só se tocou do Carnaval nos instantes finais. Essa mesma visão é compartilhada por Cairê Aoas, sócio do Bar Brahma e diretor do Camarote Bar Brahma em São Paulo. “Trabalhamos três vezes, nesses dois últimos anos, achando que o Carnaval iria acontecer normalmente”, diz Ferraz. “Agora vai.”
Bruno Meyer, Revista Oeste