O Brasil criou 142.690 empregos com carteira assinada em 2020, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta quinta-feira, 28.
Foi o terceiro ano seguido com geração de empregos formais, mas foi o pior resultado para um ano fechado desde 2017 - quando foram fechadas 20.832 vagas com carteira assinada.
Esses números referem-se apenas ao trabalho com carteira assinada. O mercado de trabalho brasileiro é formado, na sua maior parte, pelo trabalho informal - daí a diferença com os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também foram divulgados nesta quinta.
Nos quatro meses de auge da pandemia de covid-19 - de março até junho -, o Caged registrou 1,618 milhão de demissões a mais do que contratações. Já entre julho e dezembro, 1,418 milhão postos formais foram recriados.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou os resultados do mercado de trabalho formal de 2020 - ano marcado pela pandemia de covid-19 - com os resultados dos anos de 2015 e 2016, também afetados por uma recessão. "Em 2015 foram fechadas 1,5 milhão de vagas e em 2016 foram destruídos outras 1,3 milhão de empregos".
"Fechamos o ano (2020) com 30 milhões de emprego com carteira, e 11 milhões de vagas preservadas pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm)", afirmou. O BEm é o programa criado no ano passado que permitiu às empresas cortarem jornada e salário dos funcionários, que receberam um complemento da remuneração pago pelo governo.
O desempenho positivo no ano era esperado pelo ministro e pela maior parte do mercado financeiro. O resultado do Caged em 2020 ficou dentro do intervalo das estimativas de analistas consultados pelo Projeções Broadcast. As projeções eram de fechamento de 94.000 vagas à criação de 323.425 vagas no ano passado, sendo a projeção mais comum criação de 170.410 postos de trabalho.
Em dezembro, quase 68 mil vagas cortadas
Após cinco meses em que a geração de vagas superou as demissões, o mercado de trabalho brasileiro interrompeu em dezembro a sequência de recuperação no emprego formal. Foram fechadas 67.906 vagas com carteira assinada no mês passado, de acordo com os dados do Caged.
No entanto, esse foi o melhor resultado para o mês desde 1995, segundo o órgão, já que o último mês do ano é normalmente de fechamento de vagas de trabalhadores temporários. O resultado de dezembro decorreu de 1.239.280 admissões e 1.307.186 demissões.
Em dezembro de 2019, houve o fechamento de 307.311 vagas com carteira assinada. Tradicionalmente, os desligamentos costumam superar as contratações no último mês do ano, cujo resultado médio no Caged é negativo em 370 mil vagas.
A maior parte do mercado financeiro já esperava uma retração no emprego no mês passado. O desempenho do Caged em dezembro ficou dentro do intervalo das estimativas de analistas consultados pelo Projeções Broadcast. As projeções eram de fechamento lde 347.600 vagas a 25.000 vagas em dezembro, sendo a mais comum corte de 150.000 postos de trabalho.
Construção civil e indústria puxam geração de vagas em 2020
A abertura de 142.690 vagas de trabalho com carteira assinada em 2020 no Caged foi impulsionada pela construção civil. O setor liderou a criação de vagas em 2020 com a abertura de 112.174 postos formais.
A indústria, com forte recuperação na segunda metade do ano, criou 95.588 vagas em 2020, enquanto houve um saldo positivo de 61.637 contratações na agropecuária . No comércio foram recuperadas 8.130 vagas no ano passado.
Apenas o setor de serviços - ainda afetado pelas medidas de distanciamento social - obteve resultado negativo no Caged em 2020, com o fechamento de 132.584 postos de trabalho formais
No ano passado, 19 Estados registraram resultado positivo e apenas oito tiveram saldo negativo. O melhor resultado foi registrado em Santa Catarina com a abertura de 53.050 postos de trabalho. Já o pior desempenho foi do Rio de Janeiro que registrou o fechamento de 127.155 vagas em 2020.
Salário médio na contratação ficou em R$ 1.777
O salário médio de admissão de trabalhadores com carteira assinada ficou em R$ 1.777,30 de janeiro a dezembro de 2020, segundo dados do Caged. De acordo com o Ministério da Economia, houve um aumento real de R$ 62,66 no salário médio, uma variação de 3,65% em relação ao ano passado.
A alta foi verificada em praticamente todos os setores avaliados pela pasta, exceto em transporte, armazenagem e correio (-0,24%) e em serviços domésticos (-0,71%).
O Caged também traz informações sobre as novas modalidades de emprego criadas na reforma trabalhista de 2017. O trabalho intermitente (o profissional é contratado, mas recebe a remuneração de acordo com o número de horas trabalhadas, que pode variar de um mês para o outro) registrou um saldo positivo de 73.164 vagas em 2020. Já o trabalho em regime parcial ficou negativo em 13.143. Houve ainda 176.376 desligamentos mediante acordo entre empregador e empregado.
Eduardo Rodrigues e Idiana Tomazelli, O Estado de S.Paulo