terça-feira, 1 de setembro de 2020

"Mais um exemplo prático de que, no capitalismo, quem define o tamanho das empresas é o consumidor", por Jacob Hornberger

Exceto quando a empresa usufrui um monopólio garantido pelo governo

A petrolífera Exxon Mobil era a maior e mais valiosa empresa do mundo em 2013

Em 2014, seu valor de mercado subiu ainda mais, e chegou a US$ 446 bilhões

Em 2016, a imprensa dizia que, se ela fosse um país, sua economia seria maior que a da Irlanda.

No início de 2020, ainda antes da pandemia de Covid-19, o valor de mercado da empresa já havia desabado para US$ 262 bilhões.

Semana passada, a empresa simplesmente foi retirada do índice Dow Jones, um índice exclusivo do qual a empresa fazia parte há 92 anos. Seu valor de mercado caiu impressionantes US$ 270 bilhões desde o topo e hoje está em exíguos US$ 172 bilhões.

Segundo a reportagem da CNN, a "Exxon é hoje apenas um resquício do que já foi". A empresa já teve, só este ano, um prejuízo de US$ 1,7 bilhão até o fim do primeiro semestre.

A realidade versus a fantasia

Mas como assim? Isso não é possível. A teoria defendida por intervencionistas e seguidores da tese do anti-truste é a de que grandes corporações não apenas dominam o mercado e estabelecem os preços que querem, como também vão continuamente se tornando cada vez maiores. 

Segundo economistas keynesianos, grandes corporações em geral, e empresas petrolíferas em particular são "oligopólios", o que as permite elevar os preços sempre que quiserem e auferir o volume de lucro que desejarem.

Defensores da intervenção estatal na economia passaram toda a sua carreira afirmando que é necessário o governo intervir e fatiar essas "grandes corporações", pois elas detêm muito poder sobre os consumidores, os quais são explorados por elas.

Se o governo nada fizer, prosseguem eles, tais empresas crescerão a tal ponto que irão dominar a economia mundial.

Se isso é verdade, o que está havendo com a Exxon? Não apenas se trata de uma grande corporação, como também era, até bem recentemente, a maior empresa do mundo. Por que ela não continuou crescendo e monopolizando ainda mais?

Um fenômeno corriqueiro

O que está acontecendo com a Exxon (mais sobre as causas abaixo) é apenas mais uma demonstração prática, dentre várias, de que, não importa o tamanho de uma empresa, ela sempre pode perder sua fatia de mercado e até mesmo ser expulsa do mercado e ir à falência.

Em um livre mercado, quem define o destino das empresas é o consumidor. Ele é o soberano. Por meio de suas decisões de consumir ou de se abster de consumir, é ele quem decide quais empresas continuam existindo, quais vão à falência, e quais devem se reestruturar e passar por um redimensionamento (downsizing).

Em 2017, outra grande corporação foi à falência. A até então gigante e toda-poderosa Toys "R" Us, considerada uma das varejistas de brinquedos mais famosas do mundo, se não a mais famosa, pediu concordata e anunciou o fechamento de todas as suas 735 lojas nos EUA

A rede tinha operações em diversos outros países, como Reino Unido, Canadá, França, Áustria, Suíça, Alemanha e em vários países da Ásia. Na Alemanha, na Áustria e na Suíça, a rede foi comprada por outra menor (a Smyths Toys). No Reino Unido e na França ela simplesmente fechou. Na Ásia ela ainda se mantem, mas reestruturada.

Até então vista como uma gigante imbatível, a empresa acabou tendo o mesmo destino de Kodak, Nokia e Blockbuster. Durante décadas, todas essas empresas pareciam imbatíveis e absolutamente dominantes em seus respectivos mercados. Hoje, no entanto, ou elas já foram absorvidas por outras empresas ou simplesmente declararam falência.

Kodak, que por décadas reinou absoluta no mercado fotográfico, sucumbiu perante o surgimento das câmeras fotográficas digitais. Ela não soube adaptar seu modelo de negócios aos novos produtos que seus concorrentes haviam começado a oferecer de forma mais eficiente e com melhor custo-benefício do que a própria Kodak. A popularização dos smartphones e suas câmeras fotográficas cada vez melhores enterrou por vez a empresa, que pediu recuperação judicial em 2012.

Nokia, que era onipresente no mercado de aparelhos celulares no início da década de 2000, sucumbiu ante a chegada dos smartphones. A multinacional finlandesa, que simplesmente dominou o comércio mundial de telefones celulares de primeira geração durante 13 anos, não foi capaz de bater os padrões de qualidade e funcionalidade dos novos aparelhos ofertados por outros fabricantes, como Apple e Samsung. Em 2007, a empresa ainda era a líder mundial na fabricação de celulares e detinha aproximadamente 40% do mercado mundial de telecomunicações. Em 2013, ela era apenas a 274.ª maior empresa mundial.

Blockbuster, que já foi simplesmente a maior rede de locadoras de filmes e videogames do mundo, sucumbiu perante a chegada dos vídeos por streaming. O surgimento destes serviços tornou totalmente absurda e impensável a ideia de ter de sair de casa e ir a uma videolocadora para poder assistir a um filme. Os serviços de streaming concentraram a demanda doméstica por lazer em provedores como Netflix e Amazon Prime. E os próprios canais de TV a Cabo também adotaram esta tecnologia, como HBO Go, Fox Premium e Telecine Play, mostrando que querem saciar a demanda dos consumidores.

(E, para aumentar ainda mais a ironia da situação, a própria Blockbuster teve a oportunidade de comprar, anos atrás, a Netflix pelo módico preço de 50 milhões de dólares. Declinou. Foi à falência em 2010 e fechou todas as lojas que tinha. Eis aí um grande exemplo de incapacidade de antecipar a demanda dos consumidores.)

No caso da Toys 'R' Us, o crescimento da Amazon tornou obsoleta a fórmula de grandes estabelecimentos físicos ultra-especializados, que sempre foi a fórmula adotada pela outrora gigante norte-americana.

Quem manda é o consumidor

Esses exemplos de gigantes que sucumbiram mostra que, ao contrário do que muitos afirmam, o capitalismo não é um sistema econômico que privilegia as grandes empresas: o capitalismo é um sistema econômico que expõe todas as empresas — grandes, médias e pequenas — a um contínuo processo de concorrência, o qual é orientado pela satisfação das necessidades dos consumidores. 

Em uma economia capitalista, quem está no comando são os consumidores. São eles que decidem o que comprar, quando comprar, de quem comprar e em qual quantidade. São suas decisões de comprar ou de se abster de comprar que determinam a viabilidade dos empreendimentos.

E, como consequência, somente aquelas empresas capazes de satisfazer, a todo e qualquer momento, as necessidades dos consumidores da melhor maneira possível conseguirão sobreviver neste processo competitivo, não importa qual seja seu tamanho.

É um grande equívoco imaginar que o capitalismo funciona primordialmente para beneficiar os produtores. Ao contrário: quem está no comando são os consumidores. Consumidores sempre estão interessados apenas em conseguir as melhores barganhas para si próprios. Eles não estão interessados em facilitar a vida dos empreendedores (e nem dos empregados destes empreendimentos).

Consequentemente, quem determina a sobrevivência de empresas, lucros, empregos e salários são os consumidores, e não os capitalistas. Os críticos do capitalismo jamais entenderam isso.

Há vários outros exemplos atuais de grandes produtores sendo impactadas de maneira inclemente. A internet reduziu a demanda dos consumidores pelos grandes jornais tradicionais, que hoje operam no vermelho. A Google alterou completamente a indústria de marketing. Uber, Lyft e Cabify afetaram severamente a demanda pela indústria de táxis, assim como o Airbnb afetou a indústria hoteleira (bem antes da pandemia de Covid-19).

O caso da Exxon

Dizer que a Exxon foi afetada pela pandemia de Covid-19, a qual derrubou os preços do barril de petróleo (o que, por si só, já refuta por completo a tese de que as petrolíferas são monopolistas que colocam os preços que querem no petróleo), seria um reducionismo simplório e errado: afinal, todas as petrolíferas foram igualmente afetadas pela pandemia.  

Além de as preferências dos consumidores terem se manifestado, há também um outro fator envolvido: a possibilidade de uma má administração ou mesmo de decisões econômicas erradas. 

Em específico, a Exxon fez um pesado investimento em gás natural entre 2008 e 2010, apostando que a demanda, e consequentemente o preço do produto, iria explodir com o tempo. Só que, de lá para cá, o preço do gás natural desabou, o que demonstra que a empresa errou na magnitude da demanda dos consumidores. Confira no gráfico.

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Evolução do preço do gás natural, em dólares.

A queda da Exxon, bem como das outras supracitadas, serve para mostrar como as leis anti-truste são ridículas e destrutivas. Em um livre mercado, uma empresa ser grande significa simplesmente que ela soube atender às demandas dos consumidores e tomou boas decisões administrativas. A partir do momento em que ela deixa de agradar aos consumidores ou toma uma má decisão administrativa ou de investimento, ela cai.

Agora, compare a Exxon com um genuíno monopólio, aquele que é amado por todos os esquerdistas e economistas keynesianos: os Correios. Esta empresa usufrui uma posição privilegiada na sociedade, pois uma lei federal a protege contra concorrência na entrega de cartas carta, telegramas, cartões-postais, malote e "correspondência-agrupada". Se uma empresa privada tentar concorrer, um juiz federal imediatamente ordenará seu fechamento, com o empreendedor podendo até mesmo ir para a cadeia. Isso, sim, é monopólio. Isso, sim, é anti-consumidor.

Imagine se a Exxon tivesse pedido ao governo federal para ser beneficiada por um monopólio, como os Correios. Os estatistas iriam vituperar exasperados. E corretamente. E esse é o tipo de "grandeza" que é ruim — pois se trata de um tamanho que foi alcançado em decorrência de um privilégio monopolista garantido pelo governo, e não pela satisfação da demanda dos consumidores e por sólidas e sensatas decisões administrativas e de investimentos.

Para concluir

Se uma empresa se tornou grande atuando em um setor cuja entrada da concorrência é livre, não se preocupe. Ela cresceu porque soube satisfazer a demanda dos consumidores. Enquanto ela mantiver essa eficiência, não há nenhum motivo para preocupação.

E tão logo ela incorrer em más decisões administrativas ou de investimentos, ou tão logo ela deixar de satisfazer os consumidores, sua queda será iminente.

A única garantia de sobrevivência no capitalismo não é o tamanho, mas sim sua superior eficiência em servir os consumidores e sua qualidade administrativa. Aquelas empresas que forem bem-sucedidas em agradar os consumidores com bens e serviços que estes considerem atrativos serão aquelas que irão se manter no mercado e se dar bem.

Não é necessária nenhuma regulação estatal para impor tudo isso.

Jacob Hornberger
é o fundador e presidente da The Future of Freedom Foundation.

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