Movimento se define como o instrumento de “uma campanha para tornar o preconceito e o sexismo menos lucrativos”
O PayPal impede, desde o início de agosto, que o professor e filósofo Olavo de Carvalho, considerado uma das principais vozes da extrema direita no país, venda seus cursos e livros pela plataforma de pagamento on-line.
A exclusão da conta mantida por Carvalho aconteceu depois que o PayPal foi alvo de uma campanha de boicote promovida pelo movimento denominado Sleeping Giants Brasil. No Twitter, o grupo, que afirma promover a “luta coletiva de cidadãos contra o financiamento do discurso de ódio e das fake news”, tem pouco mais de 400 mil seguidores e conta com a simpatia de figuras como o youtuber Felipe Neto e o apresentador Luciano Huck.
O Sleeping Giants Brasil não se contentou com a decisão do PayPal e intensificou o discurso de ódio contra Carvalho. Agora, a luta é para que empresas suspendam a veiculação de anúncios nos vídeos do filósofo no YouTube. “Olá @amazonBR, tudo bem? Poder comprar um pouquinho de tudo no seu app é ótimo, mas não é legal encontrar seus anúncios em um canal no @YoutubeBrasil que incentiva o ódio e a desinformação. Será que a Alexa pode nos ajudar nisso? Pfv BLOQUEIEM.”
Todos os dias, de hora em hora, mensagens semelhantes são direcionadas, entre outras, às empresas Jeep, PagSeguro, Mercado Livre, PicPay, Pedigree, Vivo, LG, Samsung, C&A, Johnson & Johnson, Spotify, Riachuelo, Magazine Luiza. As que aderem ao boicote são louvadas na página do grupo.
Ao lhe perguntarem por que sites de esquerda não são visados, o fundador do Sleeping Giants Brasil, sem revelar a identidade, respondeu, numa entrevista concedida ao portal UOL em 23 de maio, que “a verdade não tinha lado”. “A mentira está em todo lugar, e estamos aqui para combatê-la mesmo que isso doa”, disse. Em seguida, ponderou: “Mas a fake news é muito mais forte e propagada pela extrema direita”.
As ofensivas direcionadas a representantes de uma linha editorial mais conservadora fizeram com que o Sleeping Giants Brasil ganhasse a imediata simpatia de boa parte da imprensa tradicional. Na entrevista de 23 de maio, por exemplo, o UOL afirmou que o movimento — inaugurado havia apenas quatro dias — “conseguiu atingir em cheio um dos principais sites de fake news” do país. Na mesma data, a versão nacional do jornal espanhol El País garantiu que o grupo “causou um terremoto nas redes sociais ao alertar companhias sobre propagandas em canais pouco confiáveis”.
Leia mais sobre o assunto na reportagem que a Revista Oeste publicou na edição nº 27
Sleeping Giants no mundo
O Sleeping Giants Brasil é inspirado num movimento homônimo criado nos Estados Unidos em novembro de 2016. Com cerca de 300 mil seguidores no Twitter, o grupo se define como o instrumento de “uma campanha para tornar o preconceito e o sexismo menos lucrativos”. O propósito, entretanto, é idêntico ao da versão brasileira: sufocar financeiramente sites considerados de direita. Ao contrário dos brasileiros, os idealizadores da versão norte-americana, Matt Rivitz e Nandini Jammi, não se escondem no anonimato.
Entre outras campanhas, o Sleeping Giants (original) organizou um boicote ao site de notícias Breitbart e pressionou o PayPal a excluir de suas plataformas os pagamentos a ativistas e grupos que considera ultradireitistas. Também intimou o Bank of America a parar de fazer negócios com prisões particulares.
Ironicamente, a dupla de fundadores se separou depois de uma briga de egos que incluiu acusações públicas de preconceito e sexismo. “Como meu cofundador homem branco me tirou do movimento que construímos juntos”, escreveu Nandini, no subtítulo de seu texto de despedida publicado no Medium. “Quero mostrar como uma mulher negra quase desapareceu do movimento que ela construiu, e o que acontece quando ela se recusa a seguir as regras que seu ‘líder’ masculino branco estabelece.”
Revista Oeste