quarta-feira, 10 de junho de 2020

PF indicia Andrea Neves por obstrução da Justiça após recebimento de informações sigilosas

Segundo as investigações, irmã 

de Aécio Neves se aproveitava de

informações para impedir ou 

embaraçar investigações de 

organizações criminosas; 

Outras 5 pessoas também 

foram indiciadas.





Andréa Neves chegando à PF de Belo Horizonte para ser ouvida em novembro de 2018. — Foto:  Fernando Zuba/Globo

A Polícia Federal concluiu o inquérito da Operação Escobar, nesta quarta-feira (10), e indiciou a irmã do deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), Andrea Neves, dois escrivães da corporação, dois advogados e um empresário por crimes como corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça.

Ainda caberá ao Ministério Público definir se abre ou não denúncia contra os indiciados. Caso eles sejam denunciados, a Justiça deverá decidir se aceita ou não a denúncia e os torna réus. Só depois disso que eles poderão ser julgados. As provas contra os servidores da PF já foram encaminhadas à Corregedoria Regional da corporação em Minas.

Segundo o inquérito da PF, relatado pelo delegado Rodrigo Morais Fernandes, o empresário Pedro Lourenço recebia informações sigilosas de investigações da corporação a partir de conversas com o advogado Ildeu da Cunha Pereira, que morreu em fevereiro deste ano.

Andrea recebia documentos da corporação obtidos pelo advogado Carlos Alberto Arges, também segundo a investigação. Os vazamentos ocorriam através dos escrivães Márcio Antônio Marra e Paulo Bessa.

De posse dessas informações sigilosas, Andrea Neves e Pedro Lourenço se beneficiavam, impedindo ou embaraçando investigações relacionadas a organizações criminosas em que estavam envolvidos ou nas quais tinham interesse direto, segundo o inquérito da PF.

G1 entrou em contato com a assessoria de imprensa de Andrea Neves, com o advogado Carlos Alberto Arges e com Pedro Lourenço, mas não havia obtido retorno até por volta de 10h. O G1 ainda tenta contato com os escrivães Márcio Antônio Marra e Paulo Bessa.

A PF atribuiu os crimes abaixo aos indiciados:

Andrea Neves: obstrução de Justiça (até 10 anos de prisão)

Empresário Pedro Lourenço: obstrução de Justiça (até 10 anos de prisão)

Advogado Ildeu da Cunha Pereira: violação de sigilo funcional, corrupção passiva
e corrupção ativa, além dos crimes de integrar organização criminosa e de embaraçar 
investigação de infração penal que envolva organização criminosa (até 34 anos de prisão)

Advogado Carlos Alberto Arges - violação de sigilo funcional, corrupção passiva e 
corrupção ativa, além dos crimes de integrar organização criminosa e de embaraçar
investigação de infração penal que envolva organização criminosa (até 34 anos de
prisão)

Escrivão da PF Márcio Antônio Marra - violação de sigilo funcional, corrupção passiva
 e corrupção ativa, além dos crimes de integrar organização criminosa e de embaraçar
 investigação de infração penal que envolva organização criminosa (até 34 anos de prisão)

Escrivão da PF Paulo Bessa - violação de sigilo funcional, corrupção passiva e
 corrupção ativa, além dos crimes de integrar organização criminosa e de embaraçar 
investigação de infração penal que envolva organização criminosa (até 34 anos de prisão)

Ildeu, Arges, Marra e Bessa chegaram a ser presos em 2019 durante a deflagração
 da operação 'Escobar', que apurava justamente o vazamento de informações de
inquéritos da PF.

A PF descobriu os vazamentos ao encontrar documentos sigilosos de investigações
 na casa de Andrea Neves, durante deflagração de outra operação, em dezembro
 de 2018. As documentações não estavam assinadas e nem numeradas, o que, 
segundo o inquérito, significa que os arquivos foram extraídos a partir do sistema
 interno da polícia.

"As informações obtidas foram utilizadas para embaraçar investigações que envolvem 
organizações criminosas e para captação de
 clientes por parte dos advogados, eis que o conhecimento privilegiado demonstrava forte influência no âmbito da Polícia Federal de Minas Gerais", mostra trecho do inquérito.

A partir dos celulares dos advogados Ildeu Cunha Pereira e Carlos Alberto Arges, 
apreendidos durante a operação de 2018, a PF constatou que os dois repassavam
 informações sigilosas, recebidas através dos escrivães, para Pedro Lourenço e 
Andrea Neves.


Os advogados Carlos Alberto Arges Júnior e Ildeu da Cunha Pereira presos durante operação da PF — Foto: OAB/Reprodução

Segundo os investigadores, os escrivães Márcio Marra e Pedro 
Bessa indicaram, em outras oportunidades, os advogados Ildeu
e Arges para investigados. Depois, os escrivães recebiam parte 
dos honorários.

Ildeu da Cunha Pereira chegou a indicar Márcio Marra para se tornar 
conselheiro do Cruzeiro, em 2017, "para que este assumisse a 
cobiçada e disputada função, o que garante status e influência, 
além de vantagens frente a outros torcedores, como viajar de graça 
para assistir jogos fora de Belo Horizonte/MG, frequentar estádios 
gratuitamente na Tribuna de Honra, franco acesso ao clube, dentre
 outras".

Com a soma das penas dos crimes imputados aos escrivães da PF
e aos advogados, eles poderão ser condenados a até 34 anos de
prisão, considerando todas as circunstâncias agravantes, além de 
multa que será arbitrada pela justiça.

Os outros dois indiciados, por se favorecerem do esquema para 
obstruir investigações relacionadas à organização criminosa, 
poderão ser condenados a uma pena de até 10 anos de prisão 
e multa.


A operação Escobar

  • A Polícia Federal deflagrou a operação Escobar, em Belo
  •  Horizonte, no dia 5 de junho de 2019. Na ocasião, a PF 
  • prendeu dois advogados e dois servidores da própria corporação
  •  suspeitos de retirar documentos sigilosos do sistema da própria 
  • PF e vazar informações sobre as operações. Eles estavam sendo investigados pelos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva,
  •  organização criminosa, obstrução de Justiça e violação de sigilo
  • funcional.
  • Na operação, foram presos o advogado Carlos Alberto Arges 
  • Júnior, o advogado e conselheiro nato do Cruzeiro Ildeu da Cunha
  •  Pereira, o servidor da PF e conselheiro efetivo do Cruzeiro Marcio
  •  Antonio Camillozzi Marra e o servidor da PF Paulo de Oliveira 
  • Bessa. Andrea Neves foi intimada a depor como testemunha, 
  • mas passou para a condição de investigada dias depois.

A operação Escobar foi um desdobramento da Capitu, quando
da Agricultura durante o governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

Na época, o então vice-governador de Minas Gerais, Antonio 
Andrade (MDB), e o empresário Joesley Batista, dono da JBS, 
estavam entre os detidos. De acordo com a Polícia Federal, as 
investigações começaram depois que documentos da Operação 

Após os documentos terem sido encontrados na casa dela, a PF 
constatou vazamento de informações sobre outras operações. Os 
advogados teriam acesso privilegiado às informações e as usavam 
para oferecer aos clientes facilidades ilegais. Segundo nota da Polícia
 Federal, “tal atitude não só prejudicou diversas investigações como 
coloca em risco a segurança dos policiais envolvidos nos trabalhos”.
Íntegra aqui

Fernando Zuba, TV Globo