O IRB Brasil Resseguros decidiu republicar o balanço de 2019, reduzindo em R$ 550 milhões o lucro líquido realizado durante o ano, como resultado de investigação sobre manipulação dos dados pela diretoria anterior, que hoje é alvo de investigações.
Segundo a empresa, "ex-diretores e outros colaboradores da Companhia praticaram irregularidades que culminaram na modificação intencional e sistêmica de dados operacionais da companhia relacionados, principalmente, à provisão de sinistros a liquidar".
O IRB anunciou ainda a contratação de bancos para planejar um processo de capitalização, com o objetivo de reenquadrar seus ativos aos critérios estabelecidos pela Susep (Superintendência de Seguros Privados).
No primeiro trimestre de 2020, a empresa teve lucro de R$ 13,8 milhões, 92,2% a menos do que no mesmo período do ano anterior.
O IRB entrou 2020 em uma crise de credibilidade, que culminou com a demissão de executivos e renúncia do presidente do conselho de administração A turbulência derrubou o valor das ações da empresa a um quarto do vigente no início de 2020.
Na sexta (26), a seguradora anunciou que investigação interna identificou os responsáveis pela divulgação de informações falsas ao mercado financeiro e detectou irregularidades no pagamento de cerca de R$ 60 milhões em bônus a diretores e colaboradores.
Em comunicados enviados à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no final da noite de segunda, o IRB diz que reavaliações dos resultados anteriores "confirmaram que uma série de registros contábeis conduzidos pela antiga diretoria estavam efetivamente incorretos e recomendavam ajustes".
As apurações detectaram problema na contabilização de sinistros e na valorização de vendas de ativos imobiliários e de fundos de investimentos. Após as mudanças, o lucro do período foi reduzido de R$ 1,76 bilhão para R$ 1,21 bilhão.
"Os impactos dos erros nas demonstrações contábeis históricas da companhia são relevantes e, as demonstrações contábeis individuais e consolidadas do exercício findo em 31 de dezembro de 2019, bem como suas cifras comparativas, estão sendo corrigidas e reemitidas", escreveu a empresa.
No início de março, os então presidente e diretor financeiro do IRB, José Carlos Cardoso e Fernando Passos, foram afastados após suspeita de divulgarem informações falsas sobre interesse do fundo americano Berkshire Hathaway na companhia.
A notícia fez as ações da empresa dispararem 6,6% em meio a turbulência gerada por denúncias de manipulação de informações financeiras feitas por uma corretora e pela renúncia do presidente do conselho de administração, Ivan Monteiro. O fundo, porém, disse nunca ter participado e nem ter o interesse de participar da empresa.
As investigações concluídas na sexta identificaram os executivos responsáveis pela divulgação da informação, o pagamento indevido de R$ 60 milhões em bônus a ex-executivos e recompra irregular de ações em valores acima dos estabelecidos pelo conselho.
O IRB tinha um agressivo programa de bônus para executivos, que premiava a diretoria também pela valorização das ações em bolsa. Entre 2017 e 2019, a companhia teve valorização de 200%, a terceira maior da bolsa de São Paulo.
No balanço divulgado nesta segunda, e empresa diz que substituiu executivos que exerciam funções chave, afastou funcionários, reavaliou a estrutura funcional e redefiniu a política de bônus aos funcionários e executivos, com maior ênfase na meritocracia e nas atribuições específicas de cada função.
As alterações no balanço provocaram efeitos também na sua liquidez regulatória (que define o montante de ativos que a companhia deve ter para garantir suas provisões) e, por isso, o IRB comunicou ainda a contratação dos bancos Bradesco BBI e Itaú BBA para estruturar um processo de aumento de capital.
A insuficiência de liquidez foi apontada por fiscalização da Susep divulgada em maio. O IRB disse nesta segunda, porém, que não enfrenta problemas de solvência. O valor da capitalização ainda não foi definido.
A divulgação das informaçoes erradas é alvo de investigações na CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Nos comunicados desta segunda, a seguradora diz ainda que está revisando seus estatutos, com aumento do número de conselheiros e diretores, corrigindo controles internos e reavaliando suas políticas contábeis e atuariais.
"A Companhia continuará atuando na prevenção de fraudes e manipulações, mediante a adoção de uma política rígida de ética e conduta a ser disseminada entre funcionários, clientes e parceiros", afirmou.
Nicola Pamplona, Folha de São Paulo