Protocolos orientados por médicos nas fases iniciais da covid-19 aumentam as chances de recuperação dos pacientes
Grupos de médicos em todo país estão liderando uma verdadeira campanha na luta pela vida, ao divulgar e compartilhar suas experiências à frente do campo de batalha contra o coronavírus. É o caso do Médicos pela Vida, um grupo formado por 43 profissionais da saúde de diferentes especialidades que elaborou o Protocolo Brasileiro de terapia pré-hospitalar da covid-19. E também do grupo chamado Covid-19 – DF, idealizado pela médica Carine Petry e formado por 296 médicos.
São centenas de profissionais da área da saúde que defendem que a epidemia pode ser controlada com a observância de algumas diretrizes:
• O tratamento com medicamentos deve ser iniciado em até cinco dias da manifestação dos sintomas;
• Não há necessidade de aguardar o resultado do exame RT-PCR nasal para iniciar o tratamento, uma vez que o resultado pode demorar e, em 38% dos casos, o teste resulta em falso negativo, além do custo para realização do exame. Assim, o diagnóstico pode ser feito com base no quadro clínico, ou seja, nos sintomas que o paciente descreve para o médico, fator que acelera o início dos protocolos de tratamento;
• Cada fase da doença exige um medicamento específico;
• É necessário orientar o paciente com sintomas a fazer a quarentena pelo período de 14 dias para evitar a disseminação do vírus.
Tratamento precoce
Quando se manifesta, a doença apresenta fases que vão desde sintomas leves a quadros mais graves que podem levar à internação do paciente. E para cada estágio, existe um medicamento que responde melhor à doença. Como em todo e qualquer tratamento, a intervenção precoce de uma doença pode evitar mortes. Para o tratamento de um câncer por exemplo, quanto mais cedo for o diagnóstico e o início da terapêutica, mais chances de cura terá o paciente. O mesmo se aplica a uma pneumonia bacteriana. Quanto antes for iniciado o tratamento com antibióticos, maiores serão as chances de recuperação do paciente. No caso de uma apendicite, o fator tempo é crucial para evitar a ruptura do apêndice e o risco de infecção generalizada.
A covid-19 funciona com a mesma lógica. Quanto mais cedo for iniciado o tratamento, menores serão as chances de um paciente necessitar de um respirador para lutar contra a doença. Apenas um em cada três pacientes graves de covid-19 que são entubados nas UTIs brasileiras se recupera e consegue voltar para casa. A mortalidade entre esses doentes é de 66%, de acordo com um levantamento do Projeto UTIs Brasileiras, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) e do Epimed, uma ferramenta de análise de dados e desempenho hospitalar.
A live promovida pelo jornalista Alexandre Garcia e pelo grupo de médicos Covid-19- DF na última sexta-feira 26 reuniu profissionais de diferentes especialidades que compartilham uma experiência comum: o tratamento precoce salva vidas.
Para a médica otorrinolaringologista Carine Petry, na primeira fase da doença, que vai em média do 1º ao 5º de sintoma, é quando ocorre a replicação viral, em que o vírus vai se multiplicando no nariz e na garganta do paciente contaminado. “Essa é a fase ideal para agir, para evitar que esse vírus desencadeie uma reação imunológica muito mais intensa”, explica Carine.
Nessa primeira fase, são indicados medicamentos com potencial efeito antiviral, como a cloroquina, a hidroxicloroquina, o antibiótico azitromicina e o vermífugo ivermectina, associadas ao zinco, que tem efeito imunomodulador, e também a enoxaparina, uma medicação com efeito anticoagulante para evitar a trombose. “Não temos evidências científicas nível A dessas medicações, mas temos estudos observacionais que mostram que essas medicações são seguras e que ajudam a evitar a mortalidade de pacientes”, diz a médica.
A segunda fase, em geral após o 7º dia de sintoma, é caracterizada pela inflamação de órgãos como o pulmão, e o paciente pode desenvolver uma pneumonia viral. Nesta fase, segundo a médica, é preciso tratar com corticoides como a dexametasona, além do uso associado de antibióticos.
A força médica na linha de frente da covid-19
Não faltam casos de sucesso no tratamento precoce de pacientes com covid-19 por todo o país.
Durante a live, o médico e prefeito da cidade de Porto Feliz, Caio Prado, contou que desde março já distribuiu gratuitamente mais de 1500 kits com os medicamentos cloroquina, ivermectina e azitromicina para pacientes em estágio inicial da doença, sempre com prescrição médica. “E desde então, todos os pacientes tratados precocemente, ninguém evoluiu para a intubação. Os três óbitos que tivemos foram de pacientes que não fizeram o tratamento precoce”, diz o prefeito da cidade no interior paulista.
Em Belém, no Estado do Pará, o sistema de saúde chegou a colapsar, ou seja, pacientes ficaram sem atendimento por falta de condições hospitalares. “Foi um cenário apocalíptico”, afirma a médica anestesista Luciana Cruz, que também participou da live. Para ela, a orientação para terapia precoce foi fundamental para reverter o quadro da cidade paraense. O governo do Estado do Pará passou a adotar protocolos para tratar pacientes que estavam na fase dois da doença com corticoides e iniciou o tratamento precoce com cloroquina, ivermectina e azitromicina.
A cidade de Floriano, no Piauí, também estabeleceu protocolos de tratamento precoce para seus pacientes, orientados pela médica piauiense Marina Bucar, coordenadora científica da Universidade de Zaragoza, na Espanha. Para a médica, tratar precocemente os pacientes é muito mais barato e simples, além é claro, de poupar vidas. “Quando a doença evolui para estágios mais avançados, é preciso de médicos mais especializados, hospitais e equipamentos mais sofisticados e as medicações também são mais caras”, explica Marina.
Estatísticas do bem
Para algumas pessoas, o diagnóstico de covid-19 virou praticamente uma sentença de morte. O pânico instalado impede as pessoas de, racionalmente, constatarem que a doença apresenta atualmente uma letalidade de 4,2% no Brasil. Ou seja, 95,8% dos pacientes irão atravessar a infecção viral com vida. Isso em números gerais. Em jovens, a letalidade fica em torno de 0,5%. Já em idosos acima de 80 anos pode chegar a 15%.
Mas o alarde em torno do vírus chinês parece desconhecer estatísticas. Em um painel que captou, entre os dias 23 e 29 de junho, dados extraídos das redes sociais divulgado pela fsb comunicação, as três sensações mais recorrentes no universo das mídias digitais são – saudade, depressão e medo, nessa ordem. É o retrato de uma doença que além de ceifar vidas, espalhou o pânico, paralisou atividades econômicas, destruiu empregos, levou à falência milhares de empresas e comprometeu a saúde mental das pessoas.
O tratamento precoce recomendado por médicos indica que o país está no caminho do controle da pandemia. “Quero tranquilizar os leigos de que [a doença] tem tratamento, que é incrivelmente resolutivo e eficiente. Essa doença tem cura e nós temos que acabar com o medo”, diz o médico infectologista Roberto Zeballos, que também integrou a live.
Paula Leal, Revista Oeste