Sucessor de Maia será definido por eleição apenas em fevereiro de 2021, mas as articulações seguem a todo vapor. Marcos Pereira é vice-presidente da Câmara e presidente nacional do Republicanos
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não vai mais apoiar o líder da Maioria, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). O candidato que o demista recomendará na disputa pela presidência da Casa, em 2021, é seu vice-presidente, Marcos Pereira (Republicanos-SP). A articulação é recente e debatida a nível do alto escalão do Parlamento.
A escolha de Maia é estratégica. Pereira é presidente nacional do Republicanos, partido que compõe o Centrão. O Blocão é liderado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), visto por muitos como o candidato mais forte à presidência da Câmara. Ou seja, o acordo com seu vice-presidente visa rachar a força de Lira na Casa.
O acordo é, de certa forma, até pragmático. Pereira é um nome bem visto não apenas por parlamentares de centro, mas, também, por deputados bolsonaristas. Dois filhos do presidente Jair Bolsonaro são filiados ao Republicanos, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o vereador fluminense Carlos Bolsonaro (RJ).
Voto
A principal justificativa para apoiar Pereira, entretanto, é a dificuldade em transferir votos para Ribeiro. “O Aguinaldo não tem voto”, sustenta uma liderança. Cálculos feitos por aliados de Maia sugerem que o demista tem, hoje, 250 votos. E a transferência desses votos para um candidato aliado, contudo, não se dará unicamente por um pedido amigável feito pelo demista.
É necessário que o candidato escolhido por Maia tenha, portanto, poder e capital político para absorver os votos do demista. Pereira tem a estrutura do Republicanos, a base evangélica a seu favor e a vantagem de ter menos rejeições do que Ribeiro. “Aguinaldo não tem voto suficiente para brigar, até por conta do partido, que vai acabar ficando com o Arthur [Lira]“, diz um aliado do presidente da Câmara.
O apoio a Pereira é tratado como certo. Até porque Maia tem interesse em obter apoio de seu vice desde agora. Aos mais próximos, o vice-presidente da Câmara diz que, se não for apoiado em 2021, o demista nunca mais terá apoio do Republicanos. Basicamente, é uma relação “ganha-ganha”.
Xadrez
A disputa pela presidência da Câmara aos poucos toma corpo. As eleições são apenas em fevereiro de 2021, mas política é construída com antecedência. De um lado, Lira, que terá um apoio velado e muito discreto do governo. Do outro, Pereira. Ao centro, contudo, perfilarão candidaturas pleiteando um espaço na Mesa Diretora.
Duas candidaturas são esperadas no jogo político. A de Elmar Nascimento (DEM-BA), líder do partido em 2019. E a de Marcelo Ramos (PL-AM), que presidiu a comissão especial da reforma da Previdência e preside a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 199/19, que prevê a prisão após condenação em segunda instância.
Os dois parlamentares não têm capital político para vencer a disputa. O objetivo, na verdade, é almejar alguma secretaria na Mesa Diretora. Em algum momento nas disputas, é natural alguns candidatos abrirem mão de suas candidaturas. É o que se chama da venda do capital político a um candidato mais forte. Eles abrem mão da candidatura sob pretexto de receber uma secretaria na Mesa, o equivalente — a grosso modo — a um “ministério”, legislativamente falando.
Rodolfo Costa, Revista Oeste