sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Bolsonaro pretende tirar mais uma função de Onyx e nomear almirante

O presidente Jair Bolsonaro pretende criar uma assessoria especial em seu gabinete e nomear para a vaga um militar, que teria a função de ajudá-lo na coordenação das ações do governo. A tarefa deveria caber ao ministro Onyx Lorenzoni, que tem sofrido um processo de perda de atribuições dentro do governo. O convite foi feito para o almirante Flávio Augusto Viana Rocha, atual comandante do 1.º Distrito Naval, no Rio de Janeiro.

ctv-tbp-46457262
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o presidente Jair Bolsonaro,
em cerimônia. 09/04/2019 Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO
Em entrevista ao Estado na quarta-feira, 5, o presidente apresentou o almirante à reportagem. “Estamos comprando o passe dele da Marinha. Ele vem trabalhar com a gente aqui. Está quase certo. Não vai ser ministro, não, apesar de ele merecer.”
Bolsonaro disse que Rocha será mais “um colega para ajudar” no gabinete. Disse que o almirante fala seis idiomas e trabalhou por quatro anos como assessor parlamentar da Marinha no Congresso. Foi nessa época que eles se conheceram. “É sempre bom ter pessoas qualificadas, com o coração verde e amarelo para estar do nosso lado.”
O almirante Rocha passou boa parte do dia de ontem no gabinete do presidente. Pode ser visto ao lado dele na transmissão ao vivo para comemorar a absolvição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que se livrou do processo de impeachment – o vídeo foi gravado durante discurso de Trump.
Apesar de ter um estilo centralizador, Bolsonaro tem se queixado de sobrecarga com a coordenação do governo, que deveria ser executada pela Casa Civil. A avaliação interna, segundo auxiliares do Planalto, é que Onyx não consegue gerenciar a Esplanada, e a função acaba sendo feita diretamente pelo presidente, que mantém a porta do gabinete aberta para os chefes das pastas.
Parte do problema de coordenação foi resolvido quando Bolsonaro resolveu nomear o vice-presidente Hamilton Mourão para comandar o Conselho da Amazônia, um grupo de trabalho específico para tratar das ações de proteção, defesa e desenvolvimento sustentável, em mais um passo para esvaziamento da Casa Civil.
Na semana passada, Onyx também perdeu o Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), que foi transferido ao Ministério da Economia,  após a crise política envolvendo o secretário-executivo da Casa Civil, Vicente Santini, demitido por usar avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para uma viagem ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, e depois ir à Índia.

'Jeitoso e de fácil trato'

A ideia é que o almirante, prestes a ganhar a sua quarta estrela, no mês de março, atue como um filtro para os problemas que têm caído diretamente na mesa do presidente. A proposta é que os temas das mais variadas pastas cheguem diluídos a Bolsonaro para que ele tome apenas uma decisão final.
Na avaliação de integrantes do governo, o fato de o almirante não estar no mesmo nível hierárquico dos demais ministros pode ser um complicador para exercer a função de coordenador. Por outro lado, o militar é apontado como uma pessoa  “muito jeitosa, de fácil trato e diálogo."
Antes de comandar o primeiro Distrito Naval, no Rio, almirante Rocha foi chefe da Comunicação Social da Marinha e do gabinete dos Comandante da Marinha, Leal Ferreira, que deixou o cargo em janeiro passado e foi substituído pelo almirante Ilques Barbosa. O almirante Rocha teve uma importante participação na transição e se aproximou mais do presidente.
Ainda não há prazo para a nomeação do militar. Como ele tem promoção prevista para março, sua chegada ao Planalto pode ser concretizada apenas no fim do mês que vem, abrindo, assim, mais uma vaga de quatro estrelas para a Marinha.

Como está na ativa, ao assumir o posto no Planalto, o almirante Rocha será “agregado” ao quadro da Marinha e poderá ficar fora da força por dois anos, repetindo a situação do general Luiz Ramos, que é quatro estrelas da ativa do Exército e exerce o cargo de ministro-chefe da Secretaria de Governo.

Jussara Soares e Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo