sábado, 29 de fevereiro de 2020

EUA assinam acordo de paz com Taleban e prometem retirar tropas do Afeganistão em 14 meses

DOHA | REUTERS e AFP
Os Estados Unidos e o Taleban assinaram neste sábado (29) um acordo de paz histórico, para tentar colocar fim a um conflito de quase 20 anos.
Pelo acerto, o Taleban se compromete a encerrar os ataques feitos no país, a não dar apoio a grupos terroristas e a negociar com o governo afegão. Em troca, todas as tropas dos EUA e da coalizão da Otan deixarão o país até abril de 2021, caso os termos acordados sejam cumpridos.
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse que o Taleban se comprometeu a manter os progressos obtidos pelas mulheres desde 2001, a cortar seus laços com Al Qaeda e a combater o Estado Islâmico. 
É a primeira vez que EUA e Taleban realizam um evento público conjunto para anunciar medidas de paz. Os dois grupos realizaram negociações secretas ao longo de meses, que foram sendo reveladas aos poucos. 
Em setembro, Trump cancelou uma reunião secreta que faria com o Taleban , em solo americano, porque os insurgentes seguiram atacando enquanto as conversas eram realizadas.
Apesar do tom histórico do evento, líderes dos EUA e da Otan mostraram comedimento ao estimar as chances de sucesso do acordo. Pompeo disse que o Taleban mostrou boa vontade ao respeitar uma trégua de uma semana, que antecedeu o acordo, mas que o monitoramento do cumprimento dos termos será feito de forma firme. 
A Otan deu apoio ao acordo de paz, mas lembrou que o processo não será simples. "Temos que estar preparados para reveses e incidentes", disse Jens Stoltenberg, secretário-geral da entidade, que une forças militares de vários países.
O ponto mais sensível do acordo é que as conversas entre o Taleban, o governo afegão e outras forças do pais ainda precisarão ser realizadas. O Taleban até então se recusava a falar com o governo, pois o considerava um marionete dos EUA. As conversas internas no Afeganistão começam em 10 de março. 

Delegação do Taleban chega para assinar acordo de paz em Doha, no Qatar - Karim Jaafar/AFP
Como parte deste acordo, o número de militares estrangeiros no Afeganistão será reduzido de cerca de 14 mil para 8.600 até julho. A retirada será feita de forma gradual ao longo dos meses. No entanto, caso haja o retorno da violência no pais, o processo poderá ser revertido. 
As forças armadas dos EUA invadiram o Afeganistão em 2001, após os ataques de 11 de setembro, e removeram o Taleban do governo. Houve eleições a partir de 2004, mas queixas de fraude, corrupção e brigas afetaram a credibilidade do governo. Enquanto isso, o Taleban, que defende uma interpretação radical dos preceitos islâmicos, foi ressurgindo e fazendo ataques, ao lado de outros grupos rebeldes. 
Caso funcione, o acordo será um trunfo para o presidente Donald Trump, que busca o segundo mandato na eleição de novembro. Ele prometeu diversas vezes acabar com o que chama de "guerras sem fim". O líder americano reclama que os soldados fazem pouco mais do que um trabalho de polícia e que a guerra demanda muito dinheiro.
Para os afegãos, há temores de que, sem a presença militar estrangeira, etnias e regiões rivais entrem em conflito e que isso gere uma guerra civil como a dos anos 1990