sábado, 29 de fevereiro de 2020

No topo do poder europeu, mulheres abrem caminho para nova geração

BRUXELAS
No organograma europeu, as mulheres chegaram ao topo. Nos últimos meses, passaram para mãos femininas, pela primeira vez na história, os dois cargos de maior poder de decisão da União Europeia e da zona do euro.
Na presidência do Banco Central Europeu desde novembro, a francesa Christine Lagarde, 64, governa a política monetária dos 19 países que adotaram o euro como moeda e lidera um debate sobre como reanimar a economia.
Na Comissão Europeia, que funciona como Executivo central dos 27 países da União Europeia, assumiu a alemã Ursula von der Leyen, 61. É da Comissão a prerrogativa de propor as leis que regulam o funcionamento do bloco.
Ursula montou um primeiro gabinete com 50% de mulheres, entre elas a superpoderosa dinamarquesa Margrethe Vestager, 51, que enquadrou Google, Facebook e outras big techs em regras ditadas por seu “ministério”, a Comissão Digital e de Competição.
Mas a líder europeia não está satisfeita, e os números mostram por quê: só 3 dos 27 chefes de governo do bloco são mulheres, e elas ocupam um terço dos principais cargos nacionais.
Acesso a poder está na lanterna do índice do Eige (Instituto Europeu para Igualdade de Gênero). Equilibrar as estatísticas é uma das prioridades de governo de Ursula, que criou um departamento só para isso, a Comissão para a Igualdade, ocupada, é claro, por outra mulher, a maltesa Helena Dalli.
Nesta primeira semana de março, a comissária Helena lança seu plano de ação para áreas como acesso ao poder, paridade salarial e proteção contra a violência.
Cotas para mulheres são esperadas, mas, para o Eige, é fundamental criar programas de treinamento e mentoria que atraiam jovens para a política e as ajudem a subir na carreira.
Enquanto a maior parte das novas medidas só deve ter efeito no médio prazo, uma geração de mulheres abre caminho no tabuleiro do jogo político europeu. Conheça algumas delas.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia  - Aris Oikonomou - 21.fev.20/AFP
Ursula von der Leyen, 61, presidente da Comissão Europeia 
Primeira mulher a presidir o Executivo da União Europeia, a alemã nasceu em Bruxelas. Depois de abandonar o curso de economia, formou-se em medicina e especializou-se em ginecologia. Entrou para a política nos anos 1990, pelo mesmo partido de Angela Merkel, de quem foi ministra dos Assuntos Sociais e do Trabalho, e  foi a primeira mulher a chefiar a Defesa alemã. Casada, tem sete filhos.

Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu - Ralph Orlowski - 27.nov.19/Reuters
Christine Lagarde, 64, presidente do Banco Central Europeu 
Primeira mulher a presidir tanto o BCE quanto, antes disso, o FMI (Fundo Monetário Internacional), Lagarde nasceu em Paris e cresceu na cidade francesa de Le Havre, à beira do canal da Mancha. Formada em direito, foi advogada nos EUA e, na França, foi ministra da Agricultura e da Economia, Finanças e Indústria. Duas vezes divorciada, tem dois filhos.

Margrethe Vestager, comissária europeia para a Concorrência  - Kenzo Tribouillard - 30.jan.20/AFP
Margrethe Vestager, 54, comissária europeia para a Concorrência 
A economista dinamarquesa já foi chamada de “rainha da política” europeia e está em seu segundo período como comissária, algo inédito. Famosa por enquadrar gigantes da tecnologia como Apple, Amazon, Facebook e Google em regras de concorrência e proteção de dados, foi ministra da Economia e do Interior de seu país. Casada, tem três filhas.

Sanna Marin, primeira-ministra da Finlândia  - Zhang Cheng - 22.fev.20/Xinhua
Sanna Marin, 34, primeira-ministra da Finlândia 
Mais jovem mulher a ocupar uma chefia de governo, Sanna teve uma infância difícil, com alcoolismo paterno, divórcio dos pais e problemas financeiros. Trabalhou como balconista para se tornar a primeira pessoa da família a obter um diploma. Mestra em administração, foi ministra dos Transportes e de Comunicação. Casada, tem uma filha.

Mette Frederiksen, primeira-ministra da Dinamarca  - Aris Oikonomou - 21.fev.20/AFP
Mette Frederiksen, 42, primeira-ministra da Dinamarca 
Representa a 4ª geração de uma família de políticos e sindicalistas. Filiou-se ao Partido Social-Democrata aos 15 anos e elegeu-se pela 1ª vez ao Parlamento aos 24. Formada em administração com mestrado em Estudos Africanos, foi ministra do Emprego e da Justiça. Envolveu-se em polêmica por matricular sua filha em uma escola particular.

Sophie Wilmès, primeira-ministra da Bélgica  - Aris Oikonomou - 21.fev.20/AFP
Sophie Wilmès, 45, primeira-ministra da Bélgica 
A consultora financeira foi a primeira mulher a chefiar o país. Ela está no cargo desde outubro de 2019 de maneira provisória enquanto lidera as negociações para a formação de um governo majoritário. Nascida na capital, Bruxelas, foi criada na região de fala francesa, a Valônia. Foi ministra do Orçamento e de Política Científica. Casada, tem três filhas.

Mary Lou McDonald, líder do partido irlandês Sinn Féin  - Phil Noble - 6.fev.20/Reuters
Mary Lou McDonald, 50, líder do partido irlandês Sinn Féin
Nascida em uma família progressista de classe média em Dublin e formada em literatura inglesa, liderou a inesperada vitória do partido nacionalista irlandês no mês passado e tenta se tornar a quarta primeira-ministra do bloco europeu. Antes de entrar na política, foi pesquisadora do think-tank Instituto de Estudos Europeus e Internacionais. Casada, tem dois filhos.

Femke Halsema, 53, prefeita de Amsterdã - Evert Elzinga/AFP
Femke Halsema, 53, prefeita de Amsterdã 
Cineasta, está no terceiro de seis anos de mandato à frente da capital da Holanda e é a primeira mulher a ocupar o cargo. Especializada em criminologia, é autora de um documentário sobre mulheres no Islã. Tem liderado uma campanha para reduzir o excesso de turistas na cidade, que envolve reformar as áreas de prostituição e mudar as regras de venda de maconha a estrangeiros. Casada, tem dois filhos.

Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia - Andy Buchanan - 6.fev.20/AFP
Nicola Sturgeon, 49, primeira-ministra da Escócia 
A líder do Partido Nacional Escocês derrubou os conservadores do primeiro-ministro Boris Johnson nas eleições de dezembro e lidera uma campanha pela independência da Escócia. Formada em direito, é a primeira mulher a ocupar tanto a chefia do governo escocês quanto a liderança do partido. Casada, não tem filhos.

Elly Schlein, vice-presidente da Emilia Romagna - @Elly.Schlein no Facebook
Elly Schlein, 34, vice-presidente da Emilia Romagna 
Líder do movimento Coraggiosa, ela virou destaque da esquerda italiana ao se tornar a mais votada na reviravolta eleitoral que derrotou a direita radical em sua região no começo deste ano. Nascida e criada na Suíça, a ex-eurodeputada é filha de um americano e foi voluntária nas duas campanhas de Barack Obama nos Estados Unidos.

Alma Zadic, ministra da Justiça da Áustria  - Leonhard Foeger - 7.jan.20/Reuters
Alma Zadic, 36, ministra da Justiça da Áustria 
Nascida na Bósnia, a advogada chegou à Áustria aos dez anos de idade, como refugiada de guerra. Estudou nos Estados Unidos, na Itália e na Holanda e se tornou especialista em imigração. Membro do Partido Verde, sofreu ameaças xenófobas quando passou a integrar a cúpula do governo de direita. De origem muçulmana, não tem religião.

Lisa Nandy, candidata à liderança do Partido Trabalhista britânico - Adrian Dennis - 13.jan.20/AFP
Lisa Nandy, 40, candidata à liderança do Partido Trabalhista britânico 
Vista como estrela em ascensão na política do Reino Unido, a cientista política é filha de um professor marxista indiano e de uma produtora de TV divorciados quando ela tinha sete anos. Deputada desde 2010, já foi ministra de ação social e secretária de energia e ambiente do governo paralelo. Casada, tem um filho.


Ana Estela de Sousa Pinto, Folha de São Paulo