A liderança de João Doria (PSDB) na eleição paulistana se dá nove anos depois do lançamento da campanha "Cansei" pelo agora candidato tucano. Coincide também com o melhor momento do petismo.
Em 2007, Lula reassumiria a Presidência derrotando o tucano Geraldo Alckmin, padrinho de Doria, e o Brasil cresceria 6% sem maiores distorções macroeconômicas.
Foi um tempo de forte crescimento em que a "elite branca" reclamava da vida com o movimento "Cansei", contrário ao "estado das coisas", enquanto os mais pobres ascendiam incomodando viajantes em aeroportos lotados.
É de 2007 também a sugestão "relaxa e goza" aos viajantes de Marta Suplicy, que migrou do PT ao PMDB para tentar se viabilizar em São Paulo.
Ainda sobre aquele período, Lula disse nesta semana: "Montei uma quadrilha, sim, para tirar 36 milhões de pessoas da miséria e colocar milhões na classe média".
Os 13 anos do PT no poder foram marcados por uma excepcional distribuição de renda: o ganho dos 10% mais pobres subiu 130% acima da inflação; o do decil mais rico, 32%, segundo dados oficiais.
Na base da melhora geral, foi a renda do trabalho a protagonista da melhora na distribuição de renda, como mostra o quadro abaixo.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
O QUE MAIS CONTRIBUIU PARA A MELHORA NA RENDAParticipação em % na mudança de rendimento - 2004 a 2014 |
É certo que a sova encomendada contra o PT na eleição deste domingo tem como pano de fundo o petrolão e as tolices de Dilma na economia.
Mas o fim do ímpeto na distribuição de renda, a recessão e o medo do futuro talvez sejam a maior força por trás do balanço do pêndulo que se desloca às candidaturas mais à direita nesta eleição, sobretudo nas regiões mais dinâmicas.
Os milhões que saíram da miséria sob o PT estão rapidamente no caminho de volta ou em vias de escorregar nele por conta do desemprego e da queda na renda do mesmo trabalho que os tirou de lá há alguns anos.
Pela primeira vez ocorre um movimento inédito de queda na renda e aumento da desigualdade combinados. Se isso não mudar, todo o esforço do trabalho pessoal dos brasileiros terá sido em vão.
É nessa onda que os "cansados" de 2007 surfam, agora juntos com trabalhadores abatidos pela crise econômica.
Já a "quadrilha" de Lula virou outra coisa.