domingo, 1 de novembro de 2015

"Economia sem rumos", editorial da Folha de São Paulo

Os economistas da presidente Dilma Rousseff (PT) pareciam ter uma política econômica no segundo trimestre deste ano. Anunciaram metas para a inflação e para as contas públicas, pelo menos.
O silêncio quanto a planos e ações de mais longo alcance, além da falta de apoio dentro do próprio governo, minavam a confiança nesse programa. Ainda assim, tratava-se de orientação que pautava discussões políticas e cursos possíveis de ação tanto no setor público quanto no privado.
Dessa política restaram apenas intenções vagas. Os planos esfumaçaram-se de vez na semana que passou. Desconhece-se o tamanho da despesa; não se sabe dos objetivos quanto à inflação ou juros.
O governo ratificara a intenção de poupar R$ 55,3 bilhões ao final de maio, 1% do PIB, desconsideradas as despesas com juros. A meta foi abatida para 0,1% do PIB ao final de julho, menos de R$ 6 bilhões. Nos últimos dias, a equipe econômica reconheceu o deficit, mas ele parece imensurável.
Talvez seja de R$ 46 bilhões, a depender de alguma receita extraordinária; talvez chegue perto de R$ 118 bilhões, caso seja necessário pagar despesas atrasadas de 2014, as chamadas pedaladas.
A disparidade dos números já espanta. Pior, a meta fixada para 2016 é mera fantasia aritmética, pois se desconfia das projeções oficiais, as quais dependem dos débitos a serem liquidados neste ano –valor desconhecido, vale reiterar.
Reconheça-se que as estimativas foram desmoralizadas por vários fatores: recessão maior que a prevista, decisões irresponsáveis do Congresso e frustração de receitas extraordinárias, como as de concessões e privatizações. A equipe econômica, contudo, errou demais em suas estimativas e jamais deixou claro o tamanho do descalabro do primeiro mandato de Dilma.
A desordem nas contas públicas resultou em descrédito do governo e do país, refletido na desvalorização do real e na piora das expectativas de inflação.
Diante desse cenário, o Banco Central mais uma vez postergou a data em que pretende conduzir a inflação à meta –de 2016 provavelmente para 2017–, embora insinue que possa aumentar os juros caso vislumbre descontrole maior de preços. Na prática, elevou-se ainda mais a incerteza sobre as balizas da economia brasileira.
Não há rumo para o balanço das contas públicas, ampliam-se desconfianças sobre a inflação, não existe diretriz clara para os juros: no momento, esta é a constatação, não há propriamente política econômica –e ninguém no governo parece achar isso um absurdo.