José Isaac Peres, há quatro décadas no mercado
de shoppings, afirma que possui projetos prontos
para expandir os seus negócios, mas os milhões de
reais em investimentos foram paralisados pela
indefinição político-econômica
Há quatro décadas no mercado de shoppings, José Isaac Peres é o pai do MorumbiShopping, do BarraShopping e do BH Shopping, entre outros dos maiores centros de consumo brasileiros. A Multiplan, sua empresa, possui participação em um total de dezoito shoppings, que abrigam 5 400 lojas e recebem, anualmente, 180 milhões de pessoas. Peres afirma que possui projetos prontos para expandir os seus negócios, mas os milhões de reais em investimentos foram paralisados pela indefinição político-econômica. Ele recebeu VEJA para uma conversa, na qual se queixou de que nossos vizinhos estão arrumando a casa antes do Brasil, disse que a atual taxa de juros "existe para você não fazer nada" e que o país precisa abandonar o protecionismo e estimular os empresários a investir.
EFEITO DA CRISE
Nunca tinha passado por uma crise tão séria, apesar de ser empresário há mais de cinquenta anos. O que inibe hoje o investimento?
Não é o consumo. É a falta de confiança no governo. As pessoas, para investir, precisam ver uma linha de condução, e essa linha não está definida. Há um conflito entre o Congresso e o Executivo, uma guerrilha fratricida que não ajuda o país, é um querendo destruir o outro. O cenário é o pior possível. Não obstante, existe uma parte da população que não está no Congresso nem no governo: está nas ruas, está trabalhando, está produzindo. É o sujeito que acredita, é aquele que sonha. Felizmente, não existe ainda um decreto impedindo o homem de sonhar.
CONFIANÇA
A coisa mais importante que existe na vida de uma empresa é credibilidade e confiança. Trata-se de um ativo invisível, mas que tem um valor gigantesco. Quando um leão percebe que naquela selva não há mais água, não há outros animais, o que ele faz?
Ele migra, ele vai buscar outro lugar para sobreviver. Com o empresário é a mesma coisa. Ele passa a pensar em investir em outros países, porque neste momento no Brasil não dá para investir. É lamentável que, com tanta coisa para fazer aqui, a gente tenha de começar a olhar para o exterior.
INVESTIMENTO NO EXTERIOR
Adiamos planos de investir no exterior porque ainda há muito para fazer no Brasil. Agora, entretanto, estamos olhando de novo, muito mais objetivamente. Temos know-how, competência etc. O que prejudica o empresário brasileiro é toda a infraestrutura para se lançar no exterior, uma burocracia tremenda. Talvez compremos uma empresa lá fora, talvez seja mais fácil começar assim. Temos captação fácil no exterior, somos grau de investimento. Então podemos chegar lá fora e dizer: "Eu quero fazer aqui um empreendimento e preciso de crédito". E logicamente temos garantias para dar no Brasil. Acho que a maneira correta para nós é comprar uma empresa menor, com um sócio local, que já esteja operando. Você tem de caçar um leão, nem que ele seja um filhote. Não existe negócio sem empresário. Não adianta comprar uma empresa lá fora, mandar só executivos para lá, porque os executivos são ótimos, mas eles não resolvem. Devemos tomar uma decisão sobre esse investimento no próximo ano.
MERCADO AMERICANO
Existem shoppings demais nos Estados Unidos. A gente poderia eventualmente comprar um, mas de que adianta comprar um para competir com um cara que tem uma rede de 400? É a mesma coisa que você ser varejista e abrir uma lojinha para competir com outra loja que vende o mesmo produto mas está em 400 pontos. Muito difícil, né? Agora, na América Latina, acho que há espaço. Estou olhando principalmente a Argentina, que me parece estar tomando um novo curso. Se realmente houver mudanças, porque o populismo deu no que deu, o país poderá vir a ser um parceiro ótimo. Parece que o povo argentino acordou de um pesadelo e está votando certo, em quem prestigia a economia de mercado, em quem quer estar no eixo das grandes nações. Não adianta a gente ficar aqui associado à Venezuela, à Bolívia, ao Equador, que isso não vai levar a gente a lugar nenhum. Esses países não podem nos dar nada, não ganhamos nada com isso, não aprendemos nada com eles. Dizer que a gente vende lá meia dúzia de coisas é ridículo.