sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Marcelo Odebrecht diz que MP distorceu fatos para prendê-lo

Renato Onofre - O Globo



O empresário Marcelo Obebrecht, ao lado de Gleisi Hoffmann, também envolvida com a quadrilha Lula-Dilma  - Michel Filho / 15-06-2015 / Arquivo O Globo


O presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, entregou ao juiz Sérgio Moro um “autointerrogatório” onde nega ter qualquer gerência sobre contratos suspeitos e disse que o Ministério Público Federal distorceu os fatos para prendê-lo. O documento foi protocolado na Justiça Federal antes do seu primeiro interrogatório ao juiz, que ocorreu nesta sexta-feira. Nele, ele tenta se distanciar totalmente do comando da empresa.

Marcelo disse que a Odebrecht tem contas no exterior, mas disse desconhecer as contas suíças apontadas pelo MPF como fonte de pagamento de propina da empresa a funcionários da Petrobras. Ele disse que as anotações pessoais encontradas em seu celular usadas Polícia Federal para demostrar o suposto conhecimento dele de pagamentos de propina no exterior foram “mal interpretadas”.

“Fica evidente a distorção dos fatos com o objetivo malicioso de atribuir a mim uma intenção de fuga completamente infundada. Trata-se de uma iniciativa não apenas ilegal, como cruel, apenas para me sujeitar a pedido de prisão preventiva”, conclui o executivo no documento.

Numa das notas, em que aparece “PRC/Suíça.PV?” a PF afirma que teria haver com pagamentos feitos ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa na Suíça. Marcelo diz a anotação foi feita porque ele viu na “mídia menções da delação de Paulo Roberto Costa” e ia checar se havia alguma planilha de valores anexa à delação que pudesse ajudar uma investigação interna”.


Ele tentou explicar orientações supostamente dadas a funcionários assim que os primeiros indícios de corrupção vieram a público. Numa das notas, ele escreveu “Higienizar apetrechos MF e RA”. MF e RA, para a PF, seriam Marcio Faria e Rogério Araújo e higienizar seria apagar provas. Marcelo contesta:

“Foi feito um lembrete sobre a necessidade de discutir se Marcio Faria e Rogério Araújo estavam sendo alvos de grampos ilegais e se seria o caso de fazer uma varredura, o que também acabou não acontecendo (...). A maior prova de que nunca cogitei em apagar nada é que minhas próprias notas e mensagens foram integralmente apreendidas em meu próprio celular”

As notas sobre “dissidentes da PF” que para os investigadores seria uma maneira dele tentar atrapalhar as investigações. Para o empresário, referiram-se a notícias veiculadas pela imprensa.

“Importante esclarecer logo que nunca cogitei interferir em investigações” disse completando:

"A alegação de que eu poderia ter interesse em interferir nas investigações não é verdadeira; a interpretação da anotação é propositadamente deturpada, sendo absolutamente desarrazoada a utilização de fatos noticiados em reportagens de jornal para fundamentar uma acusação penal”

O empresário disse ainda que só conhecia socialmente representantes das empresas envolvidas no cartel e que nunca participou de nenhum conluio para ganhar obras na Petrobras.

O executivo fez questão de afirmar mais de uma vez que não se envolve diretamente na área de negócio de nenhuma das 300 empresas da holding e que como presidente do conselho de administração da empresa, tinha função apenas de “convocar e coordenar reuniões como um representante dos acionistas”:

“Há mais de quinze anos não assino nem mesmo um cheque em nome das empresas da Organização, tampouco ordeno ou controlo operações financeiras”, afirmou.

Em nota, a defesa de Marcelo Odebrecht diz que “Marcelo refutou com firmeza as acusações que são feitas a ele na peça acusatória”. E que a empresa segue “confiante não só na sua absolvição neste processo penal, como na revogação da prisão, por meio de