“Porque el tiempo passa/ Nos vamos poniendo viejos/ Y el amor
(Porque o tempo passa/ nós vamos ficando velhos/ E o amor)
No lo reflejo como ayer/ En cada conversación/ Cada beso cada abrazo
(não o reflete como ontem/ Em cada conversação/ Cada beijo, cada abraço)
Se impone siempre un pedazo/ De temor”
(se impõe sempre um pedaço/ De temor)
(Porque o tempo passa/ nós vamos ficando velhos/ E o amor)
No lo reflejo como ayer/ En cada conversación/ Cada beso cada abrazo
(não o reflete como ontem/ Em cada conversação/ Cada beijo, cada abraço)
Se impone siempre un pedazo/ De temor”
(se impõe sempre um pedaço/ De temor)
(Versos da letra de Años, música composta pelo artista cubano Pablo Milanês, sucesso no Brasil e na América Latina nos anos 70/80).
Fotografia produzida e distribuída, pelo Instituto Lula, depois da festinha comemorativa dos 70 anos do ex-presidente Lula, em São Paulo, terça-feira (27) à noite - com a presença da atual ocupante do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff -, é emblemática do vendaval que sopra na vida do fundador e maior líder do PT, nestes dias tormentosos de fim de outubro .
Imagem significativa pelo que expõe, mas, principalmente, pelo que fica oculto ou mal disfarçado. Retrato irretocável de melancolia do poder em desalinho. Reflexo evidente do inferno astral e do labirinto pessoal e político enfrentado na semana do seu aniversário, por Luís Inácio Lula da Silva. Até bem pouco tempo um dos líderes mais aclamados e acatados (temido também por muitos adversários) de seu País e da América Latina).
Habitualmente tido e visto na condição de um quase intocável, Lula agora tropeça, bambeia e acusa os golpes. Isso ficou claro na quinta-feira (29), nas palavras e gestos do seu discurso na abertura da reunião do diretório nacional do PT, em Brasília. Três dias depois de ter ingressado no clube "dos setentinhas", para usar a expressão de Chico Buarque de Holanda no vídeo de parabéns, gravado com açúcar e com afeto, que ofertou ao líder e amigo em tempo de dissabor.
A imagem produzida na casa de festejos nas vizinhanças do Instituto que leva o nome do homenageado, seu entorno e circunstâncias, mal conseguem disfarçar a realidade inexorável de "Sua Excelência o Fato", no dizer de Charles de Gaulle. São simbolicamente expressivas as palmas contidas de Dilma (posta à distância do homenageado, na composição do registro fotográfico); o sorriso enigmático da ex-primeira-dama, Marisa Letícia; e o abatimento do próprio Lula, segurando o netinho de braços abertos em frente do bolo com a vela alusiva aos 70 anos.
A foto deixa a estranha impressão de que, na festa, pairava no ar a sombra "do pedaço de temor”, de que fala a famosa canção de Pablo Milanês. Soube-se mais tarde que, depois da comemoração, na saída da casa de festejos paulistana, às 23h, Luís Claudio Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente, foi abordado por agentes da Polícia Federal.
De um deles, Luís Cláudio recebeu a intimação para prestar depoimento na PF, semana que vem. O filho de Lula é investigado pela Operação Zelotes e sua empresa de materiais esportivos foi um dos alvos, entre os vários mandados de busca e apreensão cumpridos pela PF, por suspeitas de atividades ilegais. Uma nora do aniversariante foi acusada, também, por um delator da Lava Jato, de receber propina.
Neste ponto, provavelmente, a razão principal da faca nos dentes de Lula, durante o seu discurso de anteontem, em Brasília: "É tudo muito incerto no país. Tem 19 pedidos de impeachment, denúncia contra o presidente da Câmara, denúncia contra o presidente do Senado, contra o filho de Lula . Eu tenho ainda mais três filhos que não foram denunciados e sete netos. Porra, não vai parar nunca isso. E ainda tenho uma nora que está grávida”, disse o ex-presidente em trecho do discurso reproduzido no El País.
No fim, por coragem ou por bravata, disse estar preparado para apanhar mais, nos próximos três anos. "Vou sobreviver”, avisou em recado a quem interessar possa. A conferir. Ainda assim, quanta diferença de outros aniversários de Lula, quando ele festejava comendo bolo com os vizinhos e amigos no ABC e agendas superlotadas.
Ou daquele 27 de outubro de 2002, quando disse, logo após votar no segundo turno da eleição que o tornaria presidente do Brasil: "Este é o momento mais feliz da minha vida". Lula fazia então 57 anos. Chefes de estados e grandes empresários ligando sem parar. O cantor, compositor e então futuro ministro de seu governo, Gilberto Gil, telefonava, direto de Paris, dando parabéns e votos de sucesso e longa vida. Esta semana, aos setentinha, os vídeos de Dilma Rousseff e de Chico Buarque e as velas sopradas na tensa festinha foram os destaques. E, pela imagem divulgada, os "pedaços de temor", da canção cubana, em volta da mesa.