Os documentos encaminhados pela Suíça aos investigadores da Operação Lava-Jato começam a revelar a teia oculta de contas no exterior usada para alimentar os quatro núcleos do esquema de corrupção da Petrobras: empresarial, político, de operadores financeiros e de agentes públicos.
O Ministério Público suíço rastreou mais de mil movimentações financeiras usadas para lavar recursos desviados da Petrobras. O destino, quase sempre, eram contas controladas por ex-diretores da Petrobras.
Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, a empreiteira entrou com ação na Justiça da Suíça para tentar impedir que o Ministério Público suíço envie ao Brasil documentos de operações financeiras de contas supostamente controladas pela empreiteira.
Não é a primeira vez que a empresa manobra para tentar impedir o acordo entre os dois países. Em fevereiro, após se encontrar com advogadas da construtora, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, questionou a Procuradoria-Geral da República sobre o acordo.
Ao GLOBO, por meio de sua assessoria, a Odebrecht informou que “a empresa contratou advogados locais para adotar as medidas judiciais cabíveis com o objetivo de zelar pelo cumprimento das regras de cooperação internacional”. Sobre as movimentações financeiras, a empresa informou que “as manifestações das defesas do executivo e dos ex-executivos se darão nos autos dos processos”.
R$ 1,3 BILHÃO BLOQUEADO
Até o momento, o MP suíço bloqueou R$ 1,3 bilhão em contas de pessoas e empresas investigadas na Lava-Jato. Pelo menos dez instituições financeiras suíças foram usadas para lavar recursos desviados da Petrobras. O alto número de bancos envolvidos ligou um alerta entre as autoridades suíças, que estudam abrir investigação contra as instituições desde que delatores da Lava-Jato implicaram funcionários graduados dos bancos.
Os delatores Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, Mário Góes e Júlio Faerman, apontados como operadores do esquema, disseram que uma ex-executiva do banco Safra-Sarasin, que atualmente atua no Lombard Oder, ajudou na lavagem de mais de US$ 100 milhões em propinas de contratos com a estatal.
A COOPERAÇÃO SUÍÇA COM A LAVA-JATO
11 de abril:
O Ministério Público da Suíça informa o início de investigação criminal relacionada a crimes de lavagem de dinheiro no Brasil.
4 de setembro:
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, diz, em delação premiada,
que recebeu propina da Odebrecht em contas na Suíça.
9 de outubro:
A Polícia Federal identifica pagamentos da construtora OAS para Paulo Roberto Costa na Suíça.
31 de outubro:
Em delação, o ex-consultor Júlio Camargo, da japonesa Toyo Setal e da Camargo Corrêa, entrega a procuradores extratos de contas na Suíça.
24 de novembro:
Investigadores da Operação Lava-Jato viajam para a Suíça atrás de documentos sobre as contas de Paulo Roberto Costa.
5 de fevereiro:
Jornais noticiam que advogados da Odebrecht se reuniram com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e questionaram o acordo entre Brasil e Suíça.
19 de fevereiro:
O ministro Cardozo pede informações à Procuradoria Geral da República sobre acordo de cooperação com a Suíça.
17 de março:
O MP Suíço anuncia o bloqueio de R$ 1,3 bilhão que estavam em contas de investigados na Lava-Jato.
22 de abril:
O MPF envia à Suíça pedido de colaboração para que sejam feitas buscas na residência e no escritório de Bernardo Freiburghaus, operador da Odebrecht.
22 de junho:
O MPF pede ajuda as autoridades suíças para localizar naquele país o operador
Bernando Freiburghaus.
22 e 24 de julho:
O MP suíço abre investigações para apurar se a Odebrecht usou bancos suíços para lavar dinheiro. A Suíça pede autorização para fazer diligências no Brasil.
27 de agosto:
A Odebrecht tenta, na Suíça, impedir que documentos coletados pelo Ministério Público suíço sejam enviados ao Brasil, diz o jornal “Estado de S. Paulo”.