- Ernesto Rodrigues/FolhapressPara FHC, o impeachment é um processo longo, que "paralisaria o país"
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recomendou que a presidente Dilma Rousseff "negocie" sua renúncia com o Congresso para "criar um clima positivo" no Brasil.
Segundo FHC, Dilma deveria condicionar sua saída à aprovação de uma reforma política consistente e de mudanças no sistema de Previdência Social, que devolvam governabilidade ao país. As declarações foram dadas em uma entrevista à rádio Gaúcha, na manhã desta sexta-feira (30).
"Como está em situação delicada, com baixa popularidade e dificuldades no Congresso, a presidente deveria dizer: me deem tais e tais reformas, para criar um clima mais positivo no Brasil, que eu saio. Na minha opinião, ou a presidente chama o país às falas e apresenta um caminho crível para governar, ou então deixa uma marca forte [a renúncia]. 'Saio se aprovarem tais e tais coisas, uma reforma eleitoral, uma reforma da Previdência. Se fizerem isso [o Congresso], eu caio fora'", recomendou.
FHC declarou que a solução menos custosa neste momento é a renúncia da presidente, com a consequente posse do vice-presidente Michel Temer (PMDB).
Segundo Cardoso, o impeachment é um processo longo, que "paralisaria o país". Além disso, uma eventual impugnação da chapa de Dilma e de Temer devido às denúncias de abuso de poder econômico na campanha de 2014 também provocaria "grande confusão". "É fácil de falar, mas tem custo elevado", avaliou o ex-presidente.
FHC também afirmou que aceitaria conversar com a presidente Dilma, se fosse convidado. "Aceito [conversar] em qualquer momento. Conversar não quer dizer aderir. Diria à presidente isso que estou dizendo aqui: ou assume país de verdade ou vai perdendo oportunidades. A situação é calamitosa. Não é momento de pensar em termos partidários, mas, sim, em termos cívicos", disse.
Para Fernando Henrique, a solução da crise econômica passa necessariamente pela reconstituição da base política do governo.
O ex-presidente reconheceu o "esforço" do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para retomar o equilíbrio fiscal, mas advertiu que não há base política para "levar adiante" o ajuste.
"É uma questão política. A presidente Dilma continua perdendo mais força, mais credibilidade. É uma tristeza", afirmou.
Lula cria sombra sobre o governo
Sobre Lula, FHC voltou a dizer que sua influência sobre o governo cria "uma sombra" que não é boa para o país. "Atrapalha o poder da presidente. Ele [Lula] está se expondo muito. Não sou de jogar pedras no passado, reconheço que o ex-presidente fez coisas importantes para o país. Mas essa sombra não é boa nem para ele e nem para o país", avaliou.
Ataque contra Cunha
Cardoso também atacou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e disse que o PSDB deve ser "implacável" com o parlamentar, acusado de manter contas secretas na Suíça para receber dinheiro de propina.
"Diante de tudo o que já se publicou, com toda a documentação sobre as contas secretas, com tudo comprovado e tal, Cunha está perdendo condições morais de ser presidente da Câmara. O PSDB deve ser implacável com ele", aconselhou.
Petrobras
O ex-presidente também defendeu seu governo (1995-2002) e disse que "estourou" os primeiros indícios de irregularidades administrativas na Petrobras.
FHC afirmou que, no seu governo, não havia "roubalheira" na estatal, mas problemas de gestão. "Eu estourei. Mudei tudo. O Philippe Reichstul [que comandou a Petrobras entre 1999 e 2001] reestruturou de cabo a rabo. Mas em política você não faz o que quer na hora que quer. Nós transformamos a Petrobras de uma repartição em uma empresa de mercado, regulada por regras objetivas. Eu não nomeei nenhum político para a Petrobras, nem para o banco do Brasil, nem para a Caixa, nem para nenhuma das empresas que ficaram para o Estado", afirmou.