O trabalho ainda vai melhor na média do Brasil do que nas maiores metrópoles do país. Era assim até agosto, soube-se ontem pelos dados da Pnad. No que diz respeito ao número de pessoas empregadas, a piora segue linhas paralelas, embora o buraco seja bem mais embaixo nas grandes cidades. Quanto aos rendimentos, porém, a vida de quem trabalha em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador em média piora bem mais.
No país, a baixa do número de empregos está concentrada na indústria e na construção civil (em outros setores, há crescimento). É evidente que a crise do emprego começou muito antes na construção, no segundo trimestre de 2014 e teve picos de drama de fevereiro a junho. Na indústria, ao menos nos dados nacionais da Pnad, a baixa do número de ocupados inicia um ano depois.
Sim, a crise das empreiteiras (Petrolão), do investimento do governo e do mercado imobiliário parece ter sido agravante maior da recessão.
O massacre do emprego na indústria pode explicar parte da vida mais dura nas metrópoles. Em parte: as montadoras de veículos demitem pelo interior; a Usiminas ontem anunciou demissões em Cubatão: 2.000 empregos diretos, 2.000 indiretos (ou até 5.000 indiretos, segundo sindicatos).
Pode ser ainda que, em regiões relativamente mais dependentes de transferências sociais e de empregos públicos, o impacto relativo da crise seja menor ou defasado.
Em suma, os números ainda causam certo desconcerto, em particular quanto à direção diferente dos salários.
É o que se depreende dos dados nacionais sobre o trabalho, da Pnad, coletados ao longo de um trimestre e divulgados mensalmente (a cada fim de trimestre móvel: num mês, os dados de maio-junho-julho; no mês seguinte, os de junho-julho-agosto etc.). Trata-se de pesquisa nova, com três anos, que será a única pesquisa de emprego do IBGE divulgada mensalmente. A pesquisa das metrópoles, PME, será interrompida em 2016.
A Pnad lida com um universo de 92,1 milhões de pessoas ocupadas em milhares de cidades. A PME, mensal, com 22,7 milhões em seis regiões metropolitanas. As metodologias são diferentes. Ainda assim, contrastes e coincidências chamam a atenção.
Feitas as contas em bases trimestrais, o rendimento médio caía em agosto quase 3% pela PME (ante agosto de 2014). Pela Pnad, o rendimento sobe 1% (voltou a subir desde junho. Na PME, está muito ruim desde abril. Em setembro, piorou mais). O total de rendimentos caía 4,4% em agosto, nas grandes metrópoles da PME; no Brasil da Pnad, subia 1,2%.
A piora tem-se acelerado do mesmo modo, nas duas pesquisas, quando os assuntos são taxa de desemprego e população ocupada e desocupada, embora, repita-se, a situação esteja em níveis diferentes. Em um ano, o número de desocupados cresceu 29,6% no Brasil inteiro e 51% nas seis metrópoles, até agosto.
Na Pnad, "no Brasil", o número de pessoas empregadas vinha crescendo cada vez menos desde meados de 2014 e, em agosto, estagnou. Na PME, nas seis metrópoles, vem caindo desde metade do ano passado e, em agosto, baixava 1,3%.
Na Pnad, a taxa de desemprego também aumentou muito, de 6,9% para 8,7%, em um ano. Aumentou a informalidade.