sábado, 31 de outubro de 2015

Coaf detalha transações anormais de Lula, Palocci, Erenice e Pimentel

O Globo


Relatório sobre movimentações milionárias foi enviado à CPI do BNDES


Quatro caciques do PT foram identificados pelo Coaf por transações bancárias com indícios de irregularidades, revela a revista “Época” neste sábado. Segundo o órgão do Ministério da Fazenda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da Casa Civil e da Fazenda, Antonio Palocci, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel e a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, estão entre as 103 pessoas suspeitas. Além disso, 
o Coaf também detalhou as movimentações financeiras de 188 empresas ligadas a eles. 

De acordo com o conselho, as operações somam R$ 500 milhões, sendo R$ 300 milhões somente para os quatro petistas. As irregularidades vão de transações incompatíveis com o patrimônio, saques em espécie, resistência em informar o motivo da transação e a incapacidade de comprovar a origem legal dos recursos. O relatório, com todos os dados, foi enviado à CPI do BNDES.

Segundo a reportagem, de 29 de maio a 6 de junho de 2014, o ex-presidente Lula aplicou R$ 6,2 milhões em um plano de previdência privada da seguradora BrasilPrev. Por se tratar de uma operação de mais de R$ 1 milhão no mercado segurador, logo entrou no radar do Coaf.

Além disso, a matéria afirma que a maior parte da movimentação financeira de Lula tem como origem a empresa L.I.L.S Palestras, Eventos e Publicações. A empresa também entrou na mira do Coaf. Entre abril de 2011 a 31 de maio de 2015, a empresa movimentou R$ 52,3 milhões, sendo R$ 27 milhões em recebimentos e R$ 25,3 milhões em transferências. Um dos maiores clientes da empresa de Lula é a construtora Odebrecht. A empresa pagou R$ 4 milhões a consultoria por palestras do ex-presidente e outros serviços.

Outra transação que chamou atenção do Coaf, segundo a “Época”, foi o repasse de R$ 48 mil à empresa Coskin Assessoria e Consultoria Empresarial, cujo capital social é de R$ 2 mil. A consultoria pertence a Fernando Bittar, que, no papel, é dono de um sítio em Atibaia (Interior de São Paulo), que sempre foi atribuído a Lula e este sempre negou. É a primeira prova material da relação dos dois. Bittar é sócio de um dos filhos de Lula.

Das contas da empresa no Banco do Brasil estão registradas transferências para Lula e seus filhos em R$ 1,5 milhão. A que mais recebeu dinheiro foi Lurian Cordeiro Lula da Silva, R$ 365 mil, em seguida Luis Claudio Lula da Silva, dono da LFT Marketing esportivo: R$ 209 mil.
Tanto as entradas e saídas de dinheiro na LILS foram apontadas como suspeitas pelo Coaf. De acordo com o relatório do conselho, obtido por “Época”, houve “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira do cliente”. Lula, apesar de ter movimentado R$ 52,3 milhões entre crédito e débito, tem uma renda mensal de R$ 3.753,36.

Já Antônio Palocci, segundo a revista, movimentou entre janeiro de 2008 a abril de 2015, por meio de sua empresa Projeto Consultoria Empresarial — que tem quatro funcionários e outras associadas — R$ 216 milhões. Desse total, R$ 185,2 milhões estão relacionados à conta da empresa. Segundo a revista, o Coaf fez pelo menos 11 relatórios de inteligência financeira nas contas de Palocci e de sua empresa. Todos apontaram transações suspeitas. O mais recente, de 20 de junho de 2011 a abril de 2015, foi constatado a retirada de R$ 52,8 milhões do caixa da Projeto. De acordo com o Coaf, desde que saiu do governo, Palocci repassou R$ 8,4 milhões da conta da Projeto para sua conta bancária pessoal. As operações financeiras envolvendo Palocci foram enquadradas pelo Coaf como "movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira do cliente".

Nas contas de Pimentel, chamou a atenção do Coaf um saque de R$ 150 mil feito em dezembro de 2014. Segundo o conselho, sobre essa transação, "parte dessas comunicações foi reportada porque o titular apresentou resistência na apresentação ou fornecimento de informações incorretas relativas à operação ou a identificação".

Os advogados de Pimentel, Antônio Carlos de Almeida Castro e Perpaolo Cruz Bottini, disseram à “Época” que o “governador apresentará todos os esclarecimentos assim que as informações forem disponibilizadas nos autos do inquérito e que a defesa desconhece a origem e o conteúdo dos documentos”.

No caso de Erenice Guerra, o Coaf conseguiu confirmar o esquema que a ex-ministra de Dilma montou na Casa Civil. A Capital Assessoria e Consultoria Empresarial, do seu filho Saulo Dourado Guerra, recebeu R$ 209 mil entre dezembro de 2009 a setembro de 2010. 

Segundo a “Época”, esse é o saldo do pagamento da propina realizado por Fábio Bacarat, a quem Erenice teria oferecido vantagens indevidas na Anac e nos Correiros. A movimentação foi enquadrada no seguinte indício de atipicidade: “retirada de quantia significativa de conta até então pouco movimentada que acolheu depósito inusitado”.

Erenice é advogada e, assim como Palocci, presta serviços de consultoria. Seu escritório Guerra Advogados Associados registrou movimentações financeiras da ordem de R$ 23,2 milhões entre agosto de 2011 a abril de 2015, sendo R$ 12 milhões em crédito e R$11,3 milhões em débito.

INSTITUTO LULA: ‘FACTOIDE POLÍTICO’

O Instituto Lula divulgou nota neste sábado em resposta à reportagem da “Época”. 

Segundo a entidade, a revista “especializou-se em distorcer e manipular documentos, muitos deles vazados de forma ilegal, para difamar e caluniar o ex-presidente Lula”. A equipe do ex-presidente afirma que o tratamento dado ao relatório do Coaf não passa de uma construção de “ilações”.

“A revista não tem interesse em entender ou reportar os fatos de forma fiel, quer apenas construir ilações. Não tem o que se chama de jornalistas investigativos: são apenas redatores sensacionalistas, operando documentos vazados ilegalmente. Não apresenta fatos, quer apenas especular e fazer barulho em cima de tais documentos, tentando criar factoides políticos, vender mais revista e fazer audiência em redes sociais”.

O Instituto também diz que “o relatório do COAF, vazado criminosamente para Veja” em agosto, foi “requentado pela Época”, e que “não há nada de ilegal na movimentação financeira do ex-presidente”.