sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

'A não-extradição de Oswaldo Eustáquio é mais um tabefe na cara do regime', por Flágio Gordon

 'O problema é que o lulopetismo togado acredita que seu teatro doméstico impressiona o mundo




A recusa definitiva da Espanha em extraditar Oswaldo Eustáquio, conforme solicitado pelo regime luloalexandrino, é mais um capítulo de uma sequência constrangedora que já virou rotina: o Brasil pede, democracias de verdade analisam e, por fim, recusam. O motivo é sempre o mesmo. Aquilo que, nas Cortes de Brasília, se chama “crime”, em países civilizados atende pelo nome correto — opinião. 

A Justiça espanhola encerrou o caso ao constatar que as acusações formuladas contra Eustáquio não encontram correspondência penal em seu ordenamento jurídico e carregam inequívoco conteúdo político. Traduzindo do juridiquês europeu: não se extradita alguém para ser punido por palavras. Ponto final. A Advocacia-Geral da União, reduzida ao papel de porta-voz dos juristocratas do STF, reconheceu que não há mais recursos. Ao menos fora do Brasil, o teatro acabou. 

A Folha de S.Paulo descreveu a reunião “tensa” entre autoridades brasileiras e representantes americanos. O governo brasileiro levou seu espetáculo “Democracia Inabalada” ao Ministério da Justiça: vídeos legendados, falas “golpistas”, clima de ameaça institucional. Esperavam fisionomias escandalizadas. Receberam bocejos de tédio. 

Quando exibiram o vídeo com as falas de Allan dos Santos, um representante norte-americano resumiu o drama inteiro com a simplicidade devastadora de quem vive numa democracia de verdade: “São só palavras”. A frase caiu como bofetada. Afinal, todo o edifício repressivo erguido pelo regime depende justamente da negação desse princípio elementar: a distinção entre discurso e crime. 


O problema é que o lulopetismo togado acredita que seu teatro doméstico impressiona o mundo. Acostumado a uma claque jornalística submissa, imagina que vídeos sensacionalistas, notas solenes e retórica inflada bastam para converter perseguição política em defesa da democracia. Mas o esultado é invariável — recusa, constrangimento e silêncio embaraçado


Os casos Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio


O jornalista Allan dos Santos mora nos EUA desde julho de 2020, para onde se exilou depois de ser investigado em inquéritos abertos pelo ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF) - Foto: Reprodução/Câmara dos Deputados


O feitiço virou contra o feiticeiro. Cada extradição negada funciona como laudo internacional: não é o mundo que está errado; é o Brasil que se afastou da democracia. Aqui, ela só sobrevive como encenação. Lá fora, continua sendo um regime no qual palavras são apenas palavras — jamais motivo para prisão.


Flávio Gordon - Revista Oeste