'O problema é que o lulopetismo togado acredita que seu teatro doméstico impressiona o mundo
A recusa definitiva da Espanha em extraditar Oswaldo Eustáquio, conforme solicitado pelo regime luloalexandrino, é mais um capítulo de uma sequência constrangedora que já virou rotina: o Brasil pede, democracias de verdade analisam e, por fim, recusam. O motivo é sempre o mesmo. Aquilo que, nas Cortes de Brasília, se chama “crime”, em países civilizados atende pelo nome correto — opinião.
A Justiça espanhola encerrou o caso ao constatar que as acusações formuladas contra Eustáquio não encontram correspondência penal em seu ordenamento jurídico e carregam inequívoco conteúdo político. Traduzindo do juridiquês europeu: não se extradita alguém para ser punido por palavras. Ponto final. A Advocacia-Geral da União, reduzida ao papel de porta-voz dos juristocratas do STF, reconheceu que não há mais recursos. Ao menos fora do Brasil, o teatro acabou.
A Folha de S.Paulo descreveu a reunião “tensa” entre autoridades brasileiras e representantes americanos. O governo brasileiro levou seu espetáculo “Democracia Inabalada” ao Ministério da Justiça: vídeos legendados, falas “golpistas”, clima de ameaça institucional. Esperavam fisionomias escandalizadas. Receberam bocejos de tédio.
Quando exibiram o vídeo com as falas de Allan dos Santos, um representante norte-americano resumiu o drama inteiro com a simplicidade devastadora de quem vive numa democracia de verdade: “São só palavras”. A frase caiu como bofetada. Afinal, todo o edifício repressivo erguido pelo regime depende justamente da negação desse princípio elementar: a distinção entre discurso e crime.
O problema é que o lulopetismo togado acredita que seu teatro doméstico impressiona o mundo. Acostumado a uma claque jornalística submissa, imagina que vídeos sensacionalistas, notas solenes e retórica inflada bastam para converter perseguição política em defesa da democracia. Mas o esultado é invariável — recusa, constrangimento e silêncio embaraçado
Os casos Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio
O feitiço virou contra o feiticeiro. Cada extradição negada funciona como laudo internacional: não é o mundo que está errado; é o Brasil que se afastou da democracia. Aqui, ela só sobrevive como encenação. Lá fora, continua sendo um regime no qual palavras são apenas palavras — jamais motivo para prisão.
Flávio Gordon - Revista Oeste