sábado, 27 de dezembro de 2025

'Dois pés na jaca', por Guilherme Fiuza

No primeiro segundo de 2026, pule com os dois pés na propaganda enganosa. Espalhe para o mundo inteiro que Lula trouxe a democracia de volta para o Brasil 


Foto: Montagem Revista Oeste/Julia Xavier/IA


E ntre em 2026 com os dois pés. Um no Itaú, outro na Alpargatas. Assim você vai parar de pensar pequeno. Chega dessa história de fazer um pé de meia. Agora você vai fazer dois pés de meia. E pode usar sandália com meia? Se você for pé-quente pro reinado petista, pode. 

No primeiro segundo de 2026, pule com os dois pés na propaganda enganosa. Espalhe para o mundo inteiro que Lula trouxe a democracia de volta para o Brasil. Finja que havia no país perseguição à imprensa, aos opositores e às minorias. Enfim, inverta tudo com um sorriso nos lábios. A moral cínica há de te proteger da realidade. E você ainda vai ganhar um Oscar (de efeitos especiais). 

Mas nada de enfiar o pé na jaca. Enfie os dois pés na jaca! Com essa dinheirama que as amizades certas têm te trazido, todo dia é carnaval. Quem sabe até te convidam pra um comercial de cerveja: “Entre na quarta-feira de cinzas com samba no pé, Brahma na mão e nada na cabeça! Sem anestesia”. 

Quando 2026 chegar, fale pra ele: ainda estou aqui, lutando contra a ditadura do século passado e me dando bem! Entre com os dois pés na porta do ano novo, pra ele não se fazer de bobo e não se atrever a tirar o seu ganha-pão. E bota pão nisso! O milagre da multiplicação é diário pra quem tem o PT no coração e os maiores bancos no bolso. 


Por trás da balbúrdia das facções, a sua defesa do indefensável passará impune.


Entre em 2026 com os dois pés nos peitos da democracia (jurando defendê-la). Apoie a asfixia de todos os que ousarem estragar seu conto de fadas petista. Defenda a censura dizendo que isso é combate ao ódio. Espalhe seu ódio às pessoas comuns — aquelas que você  nunca encontra nos seus camarotes VIP — e diga que elas compõem a massa fascista. Mas continue discursando a favor do povo, sem se esquecer de citar os lindos versos do cancioneiro popular contra a opressão social — compostos pelos que hoje estão enroscados com o regime. Viva a poesia chapa-branca!


Fernanda Montenegro na campanha da marca Havaianas | Foto: Divulgação/Havaianas 

E não se esqueça: se começarem a notar o seu papelão, ou seja, se a sua demagogia começar a ficar com o rabo de fora, você já sabe o que fazer. Coloque a “direita” na sua mensagem. Leve a conversa para esse playground ideológico — onde sempre há um bom lugar reservado para quem não quer chamar as coisas pelos seus nomes. Serve até um trocadilho idiota com “pé direito”. Você vai suscitar a algazarra das torcidas organizadas. E por trás da balbúrdia das facções, a sua defesa do indefensável passará impune. 

Ufa! Feliz Ano Novo.


Guilherme Fiuza - Revista Oeste