sábado, 1 de dezembro de 2018

Espaço de militares no governo Bolsonaro será o maior desde a redemocratização

O presidente eleito Jair Bolsonaro durante cerimônia na Vila Militar Foto: FERNANDO SOUZA / AFP
O presidente eleito Jair Bolsonaro durante cerimônia na Vila Militar Foto: FERNANDO SOUZA / AFP

O Ministério do futuro governo de Jair Bolsonaro tem a maior parcela de membros com origem nas Forças Armadas desde a redemocratização. À frente de sete pastas, os oficiais da reserva já ocupam 35% do primeiro escalão — até agora com 20 nomes anunciados.

O GLOBO compilou, com base em informações do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC-FGV) e de seu acervo, a composição inicial dos ministérios de todos os presidentes desde 1964.
Entre os ministros do governo Bolsonaro, fizeram carreira no Exército os generais Augusto Heleno (GSI), Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), assim como Wagner Rosário (CGU), que é capitão da reserva, e Tarcísio Freitas, engenheiro na corporação por 16 anos. O representante da Marinha no governo é o almirante de esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior (Minas e Energia), enquanto o tenente-coronel Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) é oriundo da Aeronáutica.
Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro chegou a declarar que metade dos ministérios seriam ocupados por militares. Gustavo Bebianno, futuro titular Secretaria-Geral da Presidência, afirmou ao GLOBO em outubro que a equipe do presidente eleito teria “quatro ou cinco militares”.
MILITARES NO GOVERNO
Até o governo FH, Forças Armadas tinham status de ministério
Percentual
De militares
Presidente
Ministros
Militares
7
27
25.9
33.3
17.9
16.7
19.2
2.9
2.8
2.7
2.6
4,3
35.0
Sarney
Collor
Itamar
FHC 1
FHC 2
Lula 1
Lula 2
Dilma 1
Dilma 2
Temer
Bolsonaro*
4
12
5
28
4
24
5
26
1
34
1
36
1
37
1
39
1
23
7
20
*ainda não concluiu a indicação do ministério
Fonte:CPDOC-FGV e Acervo do Globo

Collor: percentual maior

Após a redemocratização, o governo com mais membros das Forças Armadas no primeiro escalão até o momento havia sido o de José Sarney. Assim como Bolsonaro, ele iniciou sua gestão, em 1985, com sete militares. Mas sua equipe era maior do que a do presidente eleito, chegando a 27 órgãos com status de ministério.
Já em termos percentuais, a maior participação antes de Bolsonaro ocorreu com Fernando Collor: um terço das pastas (quatro em 12) ficou com militares. Isso porque, até o segundo governo de Fernando Henrique, o número de oficiais era ampliado pelo fato de Exército, Marinha e Aeronáutica terem status de ministérios na época.
Também eram ministros os chefes do Estado-Maior das Forças Armadas e do Gabinete Militar, posteriormente renomeado como Ministério da Casa Militar. Até o governo Sarney o Serviço Nacional de Informações (SNI)— órgão de inteligência que deu suporte à perseguição de opositores da ditadura militar — também tinha status de ministério.
Só em 1999 o atual desenho institucional do governo federal foi adotado, com a criação do Ministério da Defesa — que reúne as Forças Armadas. Foi também no início do segundo governo FH que a Casa Militar foi transformada no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência. Desde então, o GSI passou a ser o único órgão de primeiro escalão ocupado por militares, o que ocorreu nos governos Lula, Dilma e Temer.
(Colaborou Juliana Dal Piva)
Igor Mello, O Globo