domingo, 30 de dezembro de 2018

No Rio, Netanyahu diz que Bolsonaro confirmou mudança de embaixada do Brasil em Israel


Jair Bolsonaro e o primeiro=ministro de Israel no encontro desta sexta-feira no Rio: premiê disse que presidente eleito reiterou promessa
Foto: Agência Brasil/FERNANDO FRAZÃO
Jair Bolsonaro e o primeiro=ministro de Israel no encontro desta sexta-feira no Rio: premiê disse que presidente eleito reiterou promessa Foto: Agência Brasil/FERNANDO FRAZÃO

O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, afirmou ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que a embaixada brasileira será mesmo transferida para Jerusalém, afirmou neste domingo o chefe de governo do Estado judeu.
— Bolsonaro me disse que não é uma questão de se, mas de quando — afirmou Netanyahu em encontro neste domingo com a comunidade judaica brasileira, em um hotel de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Ontem, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, divulgou em sua conta de Twitter um vídeo de uma entrevista que concedeu no dia último dia 11 a um pastor na qual afirma que ainda está avaliando se vai transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, medida defendida por ele ainda durante a campanha presidencial e após eleito.
"Conversei com o embaixador de Israel sobre isso. Conversei com o Ernesto Araújo [futuro ministro das Relações Internacionais]. Alguns países estão realmente ameaçando boicote à nossa economia caso isso [mudança da embaixada] se concretize. E nós estamos conversando sobre a melhor maneira de decidir essa questão", afirmou Bolsonaro, na entrevista.
De acordo, no entanto, com o premier israelense, Bolsonaro também fez uma promessa de fraternidade a Israel:
— Bolsonaro disse que somos irmãos. Não que somos aliados, nem que temos interesses comuns, mas que somos irmãos de coração —  contou.
Em encontro com jornalistas na manhã deste, o primeiro-ministro afirmou que esta é uma “incrível oportunidade” para os dois países, referindo-se a acordos nas áreas de cibersegurança e tecnologia.
Esta é a primeira vez que um chefe de governo de Israel vem ao Brasil, embora o então presidente Shimon Peres — o chefe de Estado israelense — tenha vindo ao Brasil em 2009, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Posteriomente, Lula visitou Israel, em 2010. Ainda no governo Lula, o chanceler Celso Amorim também visitou o Estado do judeu. No governo Dilma, foi a vez do chanceler Antonio Patriota.

Transferência polêmica

A transferência da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém — num gesto que simboliza o reconhecimento de Jerusalém como capital israelense — é muito polêmica. Viola resoluções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), segundo as quais o destino da cidade sagrada para as três religiões monoteístas deve ser decidido em negociações entre Israel e os palestinos.
Se fizer essa mudança, Bolsonaro seguirá os passos do presidente dos EUA, Donald Trump,  que tomou essa iniciativa em maio. Além dos Estados Unidos, só a Guatemala transferiu sua embaixada para Jerusalém. Todos os demais países que têm representação diplomática no país as mantêm em Tel Aviv.
Em novembro, após declarações de Bolsonaro sobre a possibilidade de mudança da embaixada, surgiram comentários no cenário político internacional de que países árabes, grandes importadores de carne do Brasil, poderiam retaliar o país caso a medida fosse concretizada.
O comércio entre o Brasil e os países árabes é superavitário, enquanto com Israel é deficitário. A balança comercial com Israel foi desfavorável ao Brasil em US$ 767 milhões no ano passado. As exportações brasileiras para Israel somaram US$ 293 milhões, valor 27,07% inferior ao que foi contabilizado no ano anterior. Já as importações de produtos israelenses atingiram US$ 1,060 bilhão, uma alta de 29,74%.
Os principais produtos vendidos pelo Brasil ao mercado israelense são carne bovina congelada, soja e suco de laranja. Já as importações daquele país têm como principais itens cloreto de potássio, inseticidas e materiais plásticos.
André Duchiade, O Globo