domingo, 30 de dezembro de 2018

Construtoras investigadas pela Lava-Jato tentam sobreviver

Sede da Odebrecht no bairro do Butantã, em São Paulo Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Sede da Odebrecht no bairro do Butantã, em São Paulo Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Com um histórico de faturamentos bilionários, milhares de funcionários e obras espalhadas pelos quatro cantos, as grandes construtoras brasileiras são hoje uma sombra do porte que alcançaram no passado. Engolidas pela Lava-Jato, perderam negócios, tamanho e reputação. Agora, lutam para colocar as finanças em ordem e reconquistar terreno. A expectativa de retomada dos investimentos no novo governo tem funcionado como uma espécie de sopro de esperança.

A Odebrecht é o exemplo mais emblemático. Termina 2018 com um calote nos investidores que compraram bônus emitidos no exterior e com o início de uma reestruturação de dívida de US$ 3 bilhões.

Antes dos escândalos que levaram o principal executivo do grupo à época, Marcelo Odebrecht, à prisão por dois anos e meio, a empresa baiana atuava em 16 áreas de negócios. A construtora era o carro-chefe. Sozinha, empregava 60% dos 183 mil funcionários do grupo. O portfólio de obras beirava US$ 30 bilhões em 2015, ano em que a receita foi de US$ 17 bilhões. Hoje, são apenas seis áreas de atuação. Os projetos em carteira somam US$ 10 bilhões. A receita de 2018 deve ficar em US$ 2,5 bilhões, 26% abaixo do registrado no ano passado. O quadro de funcionários não chega a 50% do que era há três anos.
A Queiroz Galvão segue reestruturando uma dívida de R$ 10 bilhões que se arrasta desde o início da Lava-Jato. De lá para cá, a receita líquida do grupo teve uma queda de 58%. A OAS recorreu à recuperação judicial incluindo nove de suas empresas — da construtora à gestora de arenas esportivas — para reestruturar dívidas de R$ 8 bilhões. O pedido foi aceito em 2016, mas a empresa segue negociando pendências. Para fechar as contas, colocou à venda sua participação na Invepar, dona de 11 concessões, que incluem o aeroporto de Guarulhos (SP) e o Metrô Rio.

Recuperação à vista

A Camargo Corrêa, primeira a firmar acordo de leniência em função da Lava-Jato, viu o faturamento de sua construtora cair 64%, para R$ 1 bilhão em 2017. Com dificuldade de rolar dívidas, teve que se desfazer de negócios lucrativos como a calçadista Alpargatas — repassada à J&F em 2015 por R$ 2,7 bilhões —, e a têxtil Santista, vendida à mexicana Siete Léguas em setembro por valor não revelado. Com esse fôlego, segue atuando em construção, mobilidade (com a CCR), incorporação imobiliária, cimentos, terceirização de serviços e ainda mantém um estaleiro em parceria com a Queiroz Galvão, o Atlântico Sul.
Na Andrade Gutierrez, o diretor financeiro Gustavo Coutinho apresenta sinais de que o pior já passou. Em 2018, o faturamento deve fechar em R$ 1,9 bilhão, alta de 20% sobre 2017. Com a assinatura do acordo de leniência com a União no último dia 18, a companhia foi reabilitada para contratos públicos e crédito de fontes estatais. Como resultado do foco em setores da economia que seguiram aquecidos na crise, como a construção de linhas de transmissão, o portfólio da companhia cresceu R$ 7 bilhões em dois anos.
— O setor está bem machucado. Mas a demanda por projetos de infraestrutura deve crescer com o novo governo. Quem estiver estruturado vai aproveitar boas oportunidades — diz Coutinho.
Procuradas pelo GLOBO, as demais empresas não quiseram dar entrevista.
João Sorima Neto e Leo Branco, O Globo