Militares estão ocupando posições na economia com o discurso de evitar aparelhamento da máquina pública, escândalos de corrupção e desvios de recursos como os que contaminaram os governos do PT.
Para a Secretaria Especial da Receita, foi escalado o general da reserva José Carlos Nader Motta, que chefiou a área de economia e finanças do Exército até 2014.
Motta, no entanto, recusou o convite feito pelo titular da secretaria, Marcos Cintra, que queria o militar como seu chefe de gabinete. Mas o general alegou razões pessoais para não aceitar o cargo.
O nome de Motta chegou à área econômica pelo general da reserva Augusto Heleno, futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
À Folha Heleno afirmou que ainda não falou com o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e Cintra e que deve indicar outro militar, entre os oficiais da reserva, para a função.
Para a Caixa Econômica Federal, foi designado o brigadeiro Mozart de Oliveira Farias. Ainda sem cargo definido, pode assumir como assessor da presidência da estatal ou ser indicado para o processo de seleção em uma vice-presidência. Pelo menos dois outros militares, do Exército e da Marinha, já foram selecionados para a Caixa.
Braço de políticas públicas do governo, o banco estatal ainda hoje é alvo de investigações do Ministério Público e da Polícia Federal por envolvimento de ex-executivos em operações fraudulentas com a finalidade de desviar recursos para políticos aliados como PT, PP e MDB.
Levantamento realizado pela Folha indicou que nem durante a ditadura houve registro de militares ocupando postos importantes na economia.
O nome mais próximo do alto escalão foi o de Sérgio Faria Lemos, coronel da reserva que atuou como oficial de gabinete do então ministro Delfim Netto. Lemos, porém, não era considerado militar de carteirinha.
Economistas ligados à área de finanças públicas, que preferiram não ter o nome revelado, estranharam a presença de militares na área econômica, mas ponderaram que, como o alto escalão das Forças Armadas é composto por militares qualificados, seria preciso avaliar a experiência dos indicados e as funções que irão assumir. No entanto, a maioria considera que a manobra poderia, ao menos, conter a corrupção.
Em áreas correlatas à economia que no passado tiveram militares no comando não há registro de corrupção. Exemplo emblemático na história é o do militar e político José Costa Cavalcanti.
Ex-ministro de Minas e Energia e do Interior durante o governo do presidente Costa e Silva, foi o primeiro diretor-geral da usina de Itaipu, por indicação do então presidente Ernesto Geisel. Cavalcanti passou à reserva como general sem que se registrasse um único deslize ao longo de suas diferentes gestões.
Embora a estratégia de blindagem tenha partido do núcleo do presidente, teve o aval do futuro ministro Paulo Guedes. Ele próprio pediu indicação de militares para compor sua equipe, que ainda precisa de integrantes para o terceiro escalão.
Assim, chegou ao núcleo central da área econômica uma tática que já está sendo empregado em outros setores do governo, como infraestrutura e saúde —ambas foco de desvios de recursos e corrupção no passado.
Os militares estão sendo acionados para ocupar cargos que, no passado, foram alvo de aparelhamento e abriram caminho para irregularidades e corrupção, segundo assessores presidenciais.
Militares já tinham posições-chave na infraestrutura, que esteve na mira da Operação Lava Jato. Segundo as investigações, obras como Angra 3 e a refinaria Abreu e Lima foram superfaturadas para investigar o desvio de recursos.
Para o ministério de Minas e Energia, foi escalado o almirante Bento Costa. Na pasta da Infraestrutura, assumirá Tarcísio Gomes de Freitas, que se formou na Escola Militar das Agulhas Negras, como Bolsonaro, e chefiou a engenharia do Exército.
O general da reserva Oswaldo Ferreira, que era cotado para a infraestrutura, foi enviado para o MEC (Ministério da Educação). Ele chefiará a gestão dos 40 hospitais das universidades federais.
Nem mesmo o quartel-general de Bolsonaro escapou dessa blindagem. Foi por isso que Bolsonaro indicou o general da reserva Santos Cruz para a Secretaria de Governo, responsável pela interlocução do Executivo com parlamentares e também pela área de publicidade e patrocínio do governo federal, a Secom (Secretaria de Comunicação Social).