O Itaú fatura mais de R$ 20 bilhões por ano sendo basicamente um intermediário de crédito. Como tem reputação de bom pagador, obtém dinheiro a juros baixos e o repassa, com uma boa alavancagem e taxas mais altas, a quem precisa de empréstimo.
Também se ganhava dinheiro assim em Ur, cidade dos sumérios no atual sul do Iraque, onde foram encontrados alguns dos mais antigos registros de escrita cuneiforme.
Em 1769 a.C., um homem chamado Dumuzi-gamil pegou 250 gramas de prata emprestados de um vizinho. Prometeu devolver o metal cinco anos depois com juros de 3,78% ao ano.
Parte da prata Dumuzi-gamil investiu em padarias que forneciam alimentos para o templo de Ur. O restou ele destinou a pequenos empréstimos a pescadores e agricultores –com juros de 20% ao mês. Era comum agricultores verem o estoque de grãos acabar antes de chegar a hora da colheita, por isso precisavam ficar algumas semanas no cheque especial.
Sergio Moraes - 29.abr.2014/Reuters | ||
O Itaú fatura mais de R$ 20 bilhões por ano sendo basicamente um intermediário de crédito |
Hoje muita gente investe no Tesouro Direto ou em debêntures e depois revende os títulos da dívida. O homem que deu os 250 gramas de prata a Dumuzi-gamil também agiu assim. Obteve uma nota promissória –no caso, uma tabuleta de argila gravada com os dados do empréstimo– e vendeu esse título a dois outros investidores da cidade. Provavelmente sua situação mudou e ele precisou da prata antes do prazo de 5 anos, então recorreu a um "mercado secundário de títulos" em busca de liquidez.
Dumuzi-gamil morava numa espécie de distrito financeiro de Ur, um bairro que reunia comerciantes, "gestores de fundos" e investidores. Na esquina da sua rua, arqueólogos encontraram placas de argila com registros do negociante Ea-Nasir.
Numa atividade que lembra o 3G Capital, de Jorge Paulo Lemann, Ea-Nasir reunia dinheiro de investidores para comprar participações de empresas e para financiar expedições comerciais.
Uma das empreitadas de Ea-Nasir reuniu investimentos de 51 moradores de Ur. O dinheiro foi aplicado numa expedição marítima pelo Golfo Pérsico até Dilmun, reino no atual território do Qatar, para trocar prata e cestos fabricados em Ur por cobre, pedras preciosas e temperos.
O contrato de Ea-Nasir com os investidores, que perdurou até hoje por ser gravado em argila, lembra os fundos de private equity com responsabilidade limitada dos cotistas. Se a expedição desse prejuízo, os investidores se responsabilizavam até o limite do que tinham investido. Se desse lucro, ele seria repartido proporcionalmente ao investimento de cada um.
O mercado financeiro de Ur é um entre tantos relatos deliciosos do livro "Money Changes Everything", um compêndio de história das finanças lançado recentemente pelo historiador William N. Goetzmann. O livro tem mais de 500 páginas –difícil achar uma que não guarde histórias tão boas quanto as dos negociantes Dumuzi-gamil e Ea-Nasir.