Henrique Gomes Batista - O Globo
WASHINGTON — O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot rebateu neste sábado as críticas do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que nesta semana afirmou que ele foi o “pior procurador-geral da história do país”. Ao encerrar um evento organizado pela Associação de Estudantes Brasileiros no Exterior (Brasa, na sigla em inglês), em Washington, Janot disse não entender o que o ministro esconde e ainda brincou que, agora que está fora do cargo, pode falar mais abertamente sobre Gilmar. (Saiba mais: as polêmicas de Gilmar Mendes)
— Eu não sei (qual o motivo das críticas), eu não sei qual é o problema deste senhor — disse Janot que foi aplaudido de pé várias vezes ao falar de Gilmar Mendes. — As críticas que ele faz não são só a mim não, ele faz críticas a várias pessoas e de uma maneira muito agressiva. Eu queria entender, a pergunta que eu recebo, e eu não sei te responder. Qual é a razão deste comportamento, o que se quer esconder com este comportamento? Isso ainda eu não consigo identificar. Agora, que tem uma cortina de fumaça tem, com certeza tem. Ninguém tem essa capacidade de odiar gratuitamente várias pessoas a não ser que tenha um problema de saúde. Antes eu não podia falar, agora eu posso, né? (risos).
Após a palestra, Janot, que volta ao Brasil neste domingo, se recusou a falar com a imprensa para esclarecer o que gostaria de dizer com cortina de fumaça. Gilmar Mendes por diversas vezes fez duras críticas ao trabalho do ex-procurador-geral que apresentou duas denúncias contra o presidente Michel Temer e pediu a prisão preventiva de vários políticos, incluindo ministros de Temer e o senador Aécio Neves.
Janot ainda comentou a decisão da Câmara dos Deputados de rejeitar a segunda denúncia que ele propôs contra o presidente Michel Temer, na última quarta-feira. Afirmando que vê a decisão dos deputados com naturalidade, ele voltou a defender a denúncia e afirmou que caberá à História saber quem está certo:
— Eu fiz o meu trabalho, eles fizeram o trabalho que competia a eles, e a História nos julgará. Acho que o amanhã será cruel com vários atos que estão sendo praticados hoje no Brasil — afirmou, em palestra promovida na 5ª edição da Conferência Brasileira de Estudantes de Graduação (Brazusc, na sigla em inglês), que ocorreu na Georgetown University, na capital americana.
O ex-procurador-geral disse ainda que a segunda denúncia “é consistente” e que a câmara fez um “juízo político”, cumprindo “o seu papel”. No evento onde defendeu os resultados da Lava-Jato e o combate à corrupção no país, Janot disse ainda que as recentes polêmicas sobre exposições de arte — consideradas por alguns como pornográficas e com conteúdo que incentiva a pedofilia —, podem estar cumprindo o papel de desviar o foco da opinião pública do combate aos crimes cometidos pelos políticos:
— Nos últimos meses tivemos grandes exposições de arte no Brasil fechadas. Policiais tirando obras de galerias. Artistas sendo intimados a depor no Parlamento, juízes proibindo a realização de peças teatrais, sequestro de obras, prefeitos das duas maiores cidades do Brasil se posicionando publicamente contra exposições, proibindo-as de serem realizadas em museus públicos, proposta de edição de uma lei para proibir alguns conteúdos artísticos e tipificar como crime esse conteúdo — exemplificou Janot, que concluiu: — Isso são formas insidiosas que hoje se coloca para tirar o foco do Brasil.
Após explicar de forma didática os desdobramentos da Lava-Jato, Janot respondeu a uma pergunta de um estudante sobre se ele se arrepende do acordo de delação premiada feita com o dono da JBS Joesley Batista. Ressaltando que “não se arrepende de nada”, ele afirmou que agiu de forma correta assim que a PF revelou os áudios de Joesley que encriminavam o empresário ainda mais. Janot alfinetou Joesley Batista, dizendo que ele tinha compulsão em gravações e acabou tendo problemas com isso:
— A esperteza derrubou o esperto, e o esperto hoje responde pelos crimes que praticou — disse.