Repercutiu bastante durante a semana o novo
guia de conduta do The New York Times para jornalistas nas redes sociais. Esta
matéria do Nieman Lab traz alguns destaques do documento, que é direcionado a toda a redação, e não somente aos repórteres que cobrem política:
- Nos posts em redes sociais, nossos jornalistas não podem expressar opiniões partidárias, promover opiniões políticas, endossar candidatos, fazer comentários ofensivos ou qualquer outra coisa que prejudique a reputação jornalística do The Times;
- Nossos jornalistas devem ser especialmente conscientes em opinar tomando parte em questões que o The Times está buscando cobrir objetivamente;
- Consideramos que todas as atividades de nossos jornalistas nas mídias sociais estão sob esta política. Embora você possa pensar que sua página no Facebook, feed no Twitter, Instagram, Snapchat ou outras contas de redes sociais são zonas privadas, separadas de seu papel no The Times, de fato, tudo o que publicamos ou damos ‘like’ é em certo grau público. E tudo o que fazemos em público provavelmente será associado ao The Times;
- Evite participar de grupos privados e secretos no Facebook ou em outras plataformas que têm orientação partidária;
- Se um leitor questiona ou critica seu trabalho ou um post nas redes sociais, e você quer responder, seja consciente. Não suponha que a pessoa não tenha lido atentamente seu trabalho;
- Nós também apoiamos o direito de nossos jornalistas de silenciar ou bloquear pessoas nas mídias sociais que são ameaçadoras ou abusivas (mas por favor evite silenciar ou bloquear pessoas por mera crítica a você ou a sua reportagem);
- Se você está linkando para outras fontes, procure refletir uma variedade de pontos de vista. Compartilhar diversas notícias, opiniões ou sátiras geralmente é apropriado. Mas, consistentemente, linkar para apenas um lado do debate pode deixar a impressão de que você, também, está tomando partido;
- Tenha cautela ao compartilhar furos ou histórias polêmicas de outras organizações que o The Times ainda não confirmou. Em alguns casos, um tuíte de uma história de fora feito por um repórter do The Times pode ser interpretado como se estivéssemos confirmando a história, quando de fato não estamos.
Grande parte das críticas que o guia sofreu se refere à proibição de expressar opiniões políticas nas redes sociais. O repórter não poderia, por exemplo, opinar sobre casos de machismo, racismo, mudanças climáticas? O que não seria uma opinião política, em última instância? A orientação para que o jornalista compartilhe links com variedade de opiniões me parece pouco factível na esfera privada, na tentativa de mostrar uma neutralidade que, obviamente, não existe. Mas a última recomendação que destacamos, sobre compartilhamento de furos de outros veículos, me parece bastante sensata e oportuna.
No Brasil, vocês devem ter acompanhado a polêmica
demissão do repórter da Folha de S. Paulo, após entrevista com Danilo Gentili. O comportamento de Diego Bargas nas redes sociais foi usado pela Folha como justificativa para seu desligamento: “Os jornalistas da Folha são orientados a evitar manifestar posições político-partidárias e a não emitir nas redes juízos que comprometam a independência de suas reportagens”. Viram semelhança com o guia do The Times? A diferença é que a Folha não tem uma diretriz pública e, talvez também por isso, a demissão do repórter tenha sido tão questionada.
É claro que documentos normativos não resolvem todos os problemas, mas a meu ver eles são bastante importantes na gestão do jornalismo. Em 2012, a
dissertação de mestrado da pesquisadora Janara Nicoletti já apontava