Vera Magalhães - O Estado de São Paulo
Diante do protagonismo assumido por Rodrigo Maia (DEM-RJ) nos últimos meses, que ficou patente sobretudo nas votações das duas denúncias contra Michel Temer, muito se especulou sobre a possibilidade de o presidente da Câmara alçar voos mais altos.
Com rara sinceridade, no entanto, o próprio Maia admitiu em entrevista à rádio Jovem Pan nesta manhã que não tem “musculatura política” para uma disputa a cargos majoritários neste momento.
Para o presidente da Câmara, o grupo político do qual fazem parte seu partido, o DEM, e o PMDB tem dois pré-candidatos mais viáveis que ele ao governo: seu pai, Cesar Maia, e o também ex-prefeito da capital Eduardo Paes.
Mas a demonstração de humildade parou na frase seguinte, quando o deputado afirmou que, em compensação, nenhum dos dois teria condições melhores do que ele de articular os interesses do Rio (Estado e município) em Brasília do que ele. Razão pela qual será candidato à reeleição para deputado — e, o que ele não explicitou, mas fica subentendido, ao comando da Câmara.
O fato é que os deputados que hoje seguem a orientação de Maia já trabalham pela sua recondução a um terceiro mandato consecutivo à frente da Câmara caso ele se reeleja e a coalizão da qual o DEM fará parte seja vencedora para a Presidência da República. Apoio interno, hoje, ele tem para isso, mas mais de um ano antes muita coisa pode mudar.
Na primeira longa entrevista que deu no day after da votação de ontem da Câmara, Maia admitiu as dificuldades do governo e disse que será necessário “reorganizar” a base aliada para que Temer possa avançar com votações importantes no Congresso.
Ele criticou líderes e ministros que têm dado declarações com ameaças de retaliação àqueles que votaram contra o Planalto. Disse o óbvio: um governo que acaba de sair de uma votação apertada não pode se dar ao luxo de afastar de vez deputados que podem, mesmo tendo votado pelo recebimento da denúncia, apoiar propostas de interesse do governo em outras áreas.
Maia listou as propostas prioritárias para o governo nos próximos meses, entre elas as medidas que complementam o pacote fiscal e outras que permitem dar mais refresco aos Estados e municípios, como a que permite a venda da dívida ativa e a PEC dos Precatórios — tema que negociará com os ministros da Fazenda e do Planejamento nesta manhã, numa demonstração de que não pretende abrir mão do protagonismo político no pós-denúncia.
Numa referência aos embates que teve com Temer nas últimas semanas, Maia afirmou que o protagonismo da Câmara não deve ser “contra” o governo, mas num ambiente de “harmonia e independência” entre os Poderes. Voltou a criticar o excesso de medidas provisórias e afirmou que o caso da leniência dos bancos mostrou que, muitas vezes, é mais rápido e eficaz votar um projeto de lei. “É um protagonismo natural da Câmara, não em disputa com o governo. Cabe ao governo agora se rearticular, se reorganizar”, afirmou.