Julia Affonso - O Estado de São Paulo
O procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Operação da Lava Jato, no Paraná, declarou apoio, em sua rede social, às acusações do ministro Luis Roberto Barroso contra Gilmar Mendes, nesta quinta-feira, 26, no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Barroso disse que Gilmar mantém ‘parceria com a leniência em relação à criminalidade do colarinho branco’.
“Muito bem dito, ministro Barroso. Já passou da hora de colocar a verdade a vista de todos”, afirmou Carlos Fernando.
No plenário da Corte, Barroso acusou Gilmar de ‘destilar ódio constante’.
Gilmar disse que Barroso foi o responsável pela soltura do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil/Governo Lula), no Mensalão e que ‘não defende bandidos internacionais’.
“Não transfira para mim essa parceria que Vossa Excelência tem com a leniência em relação à criminalidade do colarinho branco”, provocou Barroso, pondo fogo no sodalício.
“Eh, eh, eh, imagina, imagina”, respondeu Gilmar, em meio aos apelos da ministra Cármen Lúcia, a presidente da Corte máxima, para que ambos voltassem à pauta.
Em meio ao bate-boca nervoso, Barroso sugeriu a Gilmar.
“Vossa Excelência devia ouvir a última música do Chico Buarque, a raiva é filha do medo e mãe da covardia. Vossa Excelência fica destilando ódio o tempo inteiro. Não julga, não fala coisas racionais, articuladas. Sempre fala coisa contra alguém, sempre com ódio de alguém, sempre com raiva de alguém.”
“Aliás, Vossa Excelência, normalmente, não trabalha com a verdade”, atacou Barroso, para perplexidade do pretório. “Está fazendo um comício que não tem que ver com extinção do Tribunal de Contas do Ceará. Vossa Excelência está queixoso porque perdeu o caso dos precatórios e está ocupando o tempo do Plenário com assunto que não é pertinente para destilar esse ódio constante que tem.”
Mais adiante, Gilmar foi à forra. “Quanto ao meu compromisso com o crime de colarinho branco eu tenho compromisso com os direitos fundamentais. Fui o presidente do Supremo Tribunal Federal que foi inicialmente quem liderou todo o mutirão carcerário, 22 mil presos que foram libertados, gente que não tinha sequer advogado. E eu não sou advogado de bandidos internacionais.”
Barroso não deixou por menos. “Vossa Excelência vai mudando a jurisprudência de acordo com o réu.”
“Ah, ah, ah”, Gilmar zombou, timidamente.
“Isso não é Estado de Direito, isso é Estado de compadrio. Juiz não pode ter correligionário”, seguiu Barroso.
Cármen Lúcia, conciliadora, tentou pôr ordem na augusta casa. “Senhores ministros, eu peço por favor, estamos no Plenário.”
Não adiantou a suave reprimenda de Sua Excelência aos ministros litigantes.
Gilmar voltou à carga. “Tenho esse histórico e, realmente, na Segunda Turma que eu sempre integrei, nós temos uma jurisprudência responsável, libertária e não fazemos populismo com prisões.”
Cármen cortou. “Ninguém faz (populismo) ministro, o Supremo faz julgamentos.”