Cada vez mais cristalina, a intenção dos brasileiros pelo novo nas próximas eleições ganha força e referência estatística nas últimas pesquisas que chegaram a público. Na mais eloquente delas, realizada pelo Instituto Ipsos a pedido da UFPE, o resultado não deixa margem a dúvida: 82% dos entrevistados disseram rejeitar os velhos políticos e asseguraram que vão em busca de candidatos de fora do establishment.
Mais grave: apenas 17,78% dos que opinaram acreditam que a pessoa mais adequada para conduzir o País deveria ser de um partido tradicional. Nesse contexto, forças políticas como o PT e o PSDB, que monopolizaram a disputa ao longo das últimas seis eleições para presidente, estariam em baixa na preferência popular, apesar de contarem com mais tempo de televisão e, portanto, maiores chances de reversão do quadro a seu favor.
A maioria deseja os chamados outsiders. E as agremiações que ousarem ir contra essa onda, insistindo em fórmulas tradicionais, podem acabar morrendo na praia. Aos números: 57,05% anseiam por um candidato que se oponha ao atual sistema político e 25,17% afirmam que o melhor mesmo seria alguém de fora do meio, mas que saiba governar com políticos e partidos.
O outsider, por esse conceito, não estaria absolutamente deslocado da vida pública ou distante do ambiente parlamentar e da gestão executiva. Ao contrário: precisaria ter algum traquejo na arte da negociação e dos combates no Congresso para fazer vingar as mudanças que o País necessita, sem ter no seu plantel de realizações atos ou fatos desabonadores.
Mostra o levantamento que quem vai votar deseja uma figura não envolvida com o sistema tradicional, mesmo sem experiência eleitoral, que traga alguma bagagem, agregue valor com atributos adquiridos em outras atividades. A ideia de uma nova formatação política vem no bojo da frustração absoluta dos brasileiros com aqueles que transformaram o Estado em um clube para desfrute de poucos.
A corrupção sistêmica provocou uma espécie de repulsa às principais lideranças partidárias e a suas respectivas agremiações. Todos os atuais e conhecidos nomes do meio estariam com as biografias manchadas pelas investigações e denúncias. Assim tenderiam a uma fragorosa derrota nas urnas como retaliação pelos erros cometidos. É o clima nas ruas. O professor da Universidade de Brasília David Fleischer assegura que “os brasileiros querem mudança e vão atrás dela”. A quase unanimidade dos analistas converge para um mesmo diagnóstico: quem for o novo ou apresentar-se com um novo discurso levará o pleito em 2018.
Nesse contexto, as figuras tradicionais já saem em desvantagem na corrida e tendem a desidratar ainda mais ao longo da campanha com a enxurrada de acusações que lhe pesam e que serão sistematicamente lembradas. O clamor popular pelos outsiders também se ancora na frustração dos eleitores com os escolhidos em outros escrutínios.
Neste momento o Brasil estaria vivendo uma espécie de déficit de representação política. Ou seja, um descompasso enorme entre o que o eleitor almejava e o que efetivamente fizeram até aqui os representantes escolhidos por eles. O fenômeno se dá em qualquer esfera e nas várias funções eletivas, de parlamentar a prefeito, governador e presidente. Meses atrás, o banco Goldman Sachs também profetizou que um outsider com boa expertise na economia e vivência empresarial terá grandes chances de vencer em 2018.
Vários nomes, a começar pelo do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o do agora prefeito paulista, João Doria, se encaixariam nesse formato. Correriam por fora na safra de outsiders figuras como a do apresentador Luciano Huck, a do ex-ministro do Supremo, Joaquim Barbosa, e mesmo a do petista Fernando Haddad. Candidatos de centro, mais conservadores, têm tido desde já larga aceitação.
Por isso mesmo, não é de surpreender que entre os que se apresentaram até aqui ganhou especial destaque a candidatura do representante da ultradireita Jair Bolsonaro. Algumas opções tendem a ficar pelo caminho. Outras sequer vão se viabilizar. Mas uma coisa é certa: os partidos, principalmente os de maior expressão, vão errar brutalmente se repetirem velhos erros.
Há de se registrar que o fenômeno da busca pelos outsiders não é novo. Muito menos circunscrito à praça eleitoral brasileira. O mesmo já aconteceu na França, recentemente, com a vitória de Emmanuel Macron; nos EUA, com Donald Trump, e mesmo na onda de rejeição aos lideres tradicionais e às políticas liberais da Alemanha e da Inglaterra, que viu vingar o Brexit. A tendência será avassaladora nas urnas brasileiras de 2018 após a Lava-Jato. É só esperar.