domingo, 28 de fevereiro de 2016

Latinos já são 10% do total de eleitores nos EUA


Protesto contra Trump, que tem propostas como muro na fronteira com México: “Ele está conseguindo algo nunca obtido: unir toda a comunidade latina”, diz analista
Foto: NYT / Cooper Neill
Protesto contra Trump, que tem propostas como muro na fronteira com México: “Ele está conseguindo algo nunca obtido: unir toda a comunidade latina”, diz analista - NYT / Cooper Neill
Henrique Gomes Batista - O Globo


Comunidade de 13,1 milhões pode se unir mais caso Donald Trump seja candidato


WASHINGTON — Um em cada dez votos nas eleições presidenciais americanas deste ano será latino. O grupo que cresce a cada pleito aumenta sua força e pode chegar a 13,1 milhões de eleitores em novembro. Mas especialistas acreditam que, se o bilionário Donald Trump conseguir a nomeação republicana, o total de votos dessa parcela pode chegar a 16 milhões. Isto porque ele, com suas propostas e ideias polêmicas — extradição de até 12 milhões de imigrantes sem documentos, defesa de que muitos imigrantes são criminosos e construção de muro na fronteira com México —, pode mobilizar os hispânicos.

— Trump está conseguindo algo nunca obtido: unir toda a comunidade latina. Se for candidato, até 16 milhões de latinos deverão votar, ou seja, três milhões a mais do que se o candidato for outro. As pessoas se mobilizam mais quando são contra algo do que a favor — explica Patricio Navia, professor da New York University.

Apesar do crescimento, ele afirma que os latinos, com exceção dos que vivem na Flórida, estão concentrados em estados com posições políticas muito definidas, seja para democratas ou republicanos, como Califórnia, Texas ou Nova York, o que reduz a influência desse eleitorado. Ou seja, o grupo não é fundamental nos chamados swing states, estados sem tendência de voto definida e que decidem a eleição a cada quatro anos. Além disso, Navia lembra que o grupo continuará com uma representação menor que seu peso demográfico e econômico:

— Os latinos já estão perto de representarem 20% da população do país e lutam, agora, para chegar a 10% dos votos. Vejo que a comunidade sofre com falta de engajamento político cultural e com a falta de participação que afeta os mais pobres dos EUA, que votam pouco, independentemente do grupo ao qual pertençam.

Grupo estaria mais informado e plural

O professor afirma que a comunidade sempre foi desunida por questões culturais, com mexicanos mais democratas, e cubanos, tradicionalmente, republicanos. A questão da imigração, por exemplo, não mobiliza os cubanos, que conseguem se legalizar mais facilmente com pedidos de asilo político, enquanto nascidos na América Central se ressentem por não receber um atendimento de refugiados, mesmo chegando aos EUA fugindo da violência.

Laura Maristany, diretora de Política da Associação Nacional de Eleitores Latinos (Naleo, na sigla em inglês), acredita que o grupo está mais informado e plural. Ela cita uma recente pesquisa da rede de TV Univisión, na qual 15% dos latinos estão indecisos sobre qual partido apoiar, embora 62% estejam inclinados aos democratas e 23% aos republicanos. E vê o aumento do voto latino nos swing states, o que eleva seu cacife político.

— O eleitor latino é inteligente e não se deixa influenciar por rótulos ou sobrenomes. Temos dois latinos na disputa (Marco Rubio e Ted Cruz, de origem cubana e que tentam a nomeação republicana), mas isso não significa que os latinos votarão automaticamente neles — diz.

A Naleo estima que, no mínimo, 13,1 milhões de latinos irão às urnas. No total, 27,3 milhões estão aptos a votar, de uma colônia de 53 milhões. A participação é maior entre os nascidos nos EUA que entre os naturalizados, segundo o levantamento.

Laura afirma que, diferentemente do que se supõe, a questão migratória pode ser tão importante para o grupo como economia, educação e saúde. Na quarta-feira, a Associação Nacional da Liderança Hispânica (NHLA, na sigla em inglês) apresentou sua pauta para os próximos quatro anos. A entidade, que reúne 40 organizações americanas, defendeu uma reforma migratória completa, com mais facilidade para obtenção de cidadania, e trouxe temas ligados a outras áreas.

— Será nosso guia para colaborarmos com o Congresso e com a Casa Branca — disse Hector Sanchez, presidente da NHLA.

Além de maior em número, o grupo parece cada vez mais organizado.