BELA MEGALE
FLÁVIO FERREIRA
Folha de São Paulo
FLÁVIO FERREIRA
Folha de São Paulo
As obras no sítio em Atibaia (SP) frequentado pela família do ex-presidente Lula custaram mais de R$ 1 milhão, em valores atualizados, segundo fornecedores de materiais e serviços ouvidos pela Folha, pelo Ministério Público de São Paulo e interlocutores de uma construtora que trabalharam no local a partir do fim de 2010, quando Lula ainda era presidente.
Quase a totalidade dos produtos e serviços foi paga em espécie, conduta incomum que levanta a suspeita de que os recursos possam ter origem ilícita. Até agora nenhum dos envolvidos assumiu ter arcado com os valores relativos à construção da edificação que se tornou a principal área do sítio.
Em depoimento na operação Lava Jato, o engenheiro da Odebrecht Frederico Barbosa apontou como uma das executoras das obras uma pequena empreiteira que tem como principal cliente e "parceira" a própria Odebrecht.
A Rodrigues do Prado, construtora de Igaratá, no Vale do Paraíba (SP), que tem como dono Carlos Rodrigues do Prado, atuou na propriedade entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, segundo Prado relatou a interlocutores.
A lista dos seis principais clientes indicados no site da construtora traz cinco empresas ligadas à Odebrecht: a Construtora Norberto Odebrecht Brasil, a Concessionária Rota das Bandeiras, a CBPO Engenharia, a Odebrecht Serviços de Engenharia e Construção e a Construtora Norberto Odebrecht. A empresa também diz ter "parcerias firmadas" com as empresas do Grupo Odebrecht.
Em petição protocolada no STF (Superior Tribunal Federal) na sexta (26), a defesa de Lula afirma que ele tinha conhecimento que o pecuarista José Carlos Bumlai, preso na Lava Jato, ofereceu a reforma ao petista, de quem é amigo, e "depois, diante de algumas dificuldades técnicas, a obra foi concluída por uma empresa situada a cerca de 50 km do 'Sítio Santa Bárbara'".
Os relatos de Prado e Barbosa indicam que a empreiteira mencionada pelos advogados de Lula é a Rodrigues do Prado. Seu dono disse a interlocutores que entrou na obra por indicação de Barbosa quando ela já estava em andamento, e que à época recebeu R$ 200 mil (R$ 280 mil, atualizados) em espécie.
À Folha, a ex-dona de uma loja de materiais de construção de Atibaia que forneceu produtos disse que a Odebrecht bancou parte das obras, que consumiram R$ 500 mil (R$ 700 mil corrigidos) só em materiais, pagos em espécie. A construtora nega ter assumido esses custos.
Segundo relato do dono da empresa Fernandes dos Anjos e Porto Montagem de Estruturas, Adriano dos Anjos, ao Ministério Público, a empresa recebeu R$ 40 mil (R$ 55 mil atualizados) da Usina São Fernando, pertencente aos filhos de Bumlai, para montar a estrutura de metal do anexo com quatro suítes. Segundo Santos, o serviço foi pago com depósito bancário.
Em janeiro, o marceneiro Antônio Carlos Oliveira Santos, 45, disse ter recebido R$ 5.400 (R$ 7.500 corrigidos) em espécie das mãos de Barbosa por serviços no sítio.
OUTRO LADO
Procurada pela reportagem, a Odebrecht disse por meio de nota que a empresa e seus integrantes estão colaborando com as autoridades e que "todos os esclarecimentos estão sendo prestados no âmbito do inquérito em curso, que corre em sigilo".
A Folha pediu à assessoria de Lula uma manifestação sobre o fato de a Odebrecht estar ligada às obras no sítio frequentado por ele. A assessoria, porém, não respondeu especificamente sobre esse tema e pediu a reprodução de nota na qual aponta que Lula e sua família usam o sítio de seus amigos em fins de semana e que tal fato não tem relação com ato ilícito.