Durante toda a cerimônia, Rock, em sua segunda vez como apresentador (a outra foi em 2005), fez o que todos esperavam e alguns temiam: brincou, por exemplo, que uma possível solução para o prolema racial seria criar uma categoria de “melhor amigo negro”, disse que nos anos 1960 os negros não se preocupavam tanto com quem era indicado porque “estavam ocupados em lutar contra os linchamentos” e ainda citou a homenagem de Hollywood aos mortos do ano anterior, causando um certo constrangimento na plateia:
— Neste ano as coisas serão diferentes. O segmento in memorian vai destacar os negros baleados por policiais no caminho para o cinema — disse Rock.
Houve aplausos, mas também sorrisos amarelos entre os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que este ano não indicaram um único negro entre os 20 atores e atrizes. O loiro Leonardo DiCaprio, porém, não teve do que reclamar: depois de seis indicações, ele enfim ganhou seu primeiro Oscar, como ator por “O regresso”.
— A mudança climática é real e está acontecendo agora. É a maior ameaça aos seres vivos — disse DiCaprio.
No total, a produção do mexicano Alejandro G. Iñárritu recebeu três estatuetas, repetindo o bom desempenho do ano passado, quando o cineasta e seu diretor de fotografia Emmanuel Lubezki foram premiados pela direção e a fotografia de “Birdman” (é, aliás, a terceira vitória seguida do também mexicano Lubezki, ganhador em 2014 por “Gravidade”). Em desempenho numérico, “O regresso” só ficou atrás do apocalíptico “Mad Max”, que recebeu seis estatuetas em categorias técnicas.
JOE BIDEN DISCURSA
A animação brasileira “O menino e o mundo”, de Alê Abreu, perdeu o prêmio para o favorito “Divertida mente”, dos estúdios Pixar. O melhor filme estrangeiro foi o húngaro “O filho de Saul”, e o vencedor como documentário foi “Amy”, sobre a cantora Amy Winehouse. Brie Larson foi escolhida a melhor atriz, por “O quarto de Jack”; Alicia Vikander, atriz coadjuvante, por “A garota dinamarquesa”; e Mark Rylance, ator coadjuvante, por “Ponte dos espiões”.
Um dos prêmios mais aplaudidos da noite foi para o italiano Ennio Morricone: um dos maiores compositores da história do cinema, ele venceu pela trilha sonora de “Os oito odiados”, de Quentin Tarantino. Também foi motivo de aplausos a participação do vice-presidente americano Joe Biden, que subiu ao palco para fazer um forte discurso contra estupro, tema do documentário “The hunting ground”, pelo qual Lady Gaga foi indicada a melhor canção — contudo, ela perdeu o Oscar para Sam Smith e Jimmy Napes, por “Writing’s on the wall”, de “007 contra Spectre.”
A festa começou às 22h30m (hora de Brasília). O primeiro prêmio foi anunciado por Emily Blunt e Charlize Theron para o roteiro original de “Spotlight”. Em seguida, Ryan Gosling e Russell Crowe apresentaram o prêmio para a outra categoria de texto, a de roteiro adaptado, vencida por “A grande aposta”. Segundo os analistas, esses dois, mais “O regresso”, disputavam cabeça a cabeça para saber quem seria escolhido como melhor filme, troféu que acabou mesmo com a investigação jornalística em forma de thriller de “Spotlight”.
— Precisamos manter o jornalismo saudável e independente, é uma das funções mais importantes do mundo hoje — disse, no tapete vermelho antes da festa, Mark Ruffalo, estrela do longa-metragem.
Naturalmente, o tema da falta de diversidade continuou predominando ao longo da cerimônia. Já na segunda aparição de Chris Rock no palo, ele exibiu um vídeo com cenas de filmes indicados, mas “levemente” alteradas para incluir atores negros ironizando a falta de diversidade em Hollywood. Participaram Whoopi Goldberg, Tracy Morgan, Leslie Jones e o próprio Rock. Mais tarde, houve uma falsa homenagem a um grande ator negro de Hollywood: o branco Jack Black (em inglês, black quer dizer negro).