Não perdeu dinheiro quem apostou na piora econômica e política do Brasil de dois anos para cá. Breves e relativas calmarias iludiram alguns, mas foram só interregnos na espiral descendente.
Essa perspectiva não se alterou para os dez meses restantes de 2016. Acaba de ser reiterada por desdobramentos das investigações judiciais, que mantiveram improvável a restituição da liderança presidencial e de sólida maioria parlamentar, sem os quais a sangria não será contida.
O processo político arrasta-se para acomodar-se à desgraça. Mais alguns meses e o apetite da oposição e de parte do PMDB para assumir logo o transatlântico desgovernado estará extinto. Todos, inclusive o PT, vão preparar-se para 2018, tomar distância de Dilma e recusar-se a colaborar até com os planos mais modestos do governo. A eleição lembrará a de 1989, com o conjunto dos candidatos a antepor-se a um presidente decorativo.
O país aguenta mais dois anos e dez meses nessa toada? A resposta cínica, embora verdadeira, é sim. Com mais inflação, mais desemprego e mais desorganização no ambiente de negócios.
A Venezuela é caso de laboratório a mostrar quanta degradação uma nação pode suportar antes de ser levada a alterar a elite governante e a maioria política. O Brasil, longe daquele estágio, tem dez anos de lenha para queimar, no mínimo.
O frustrante neste ciclo de esmagamento do poder presidencial é não ter-se formado no Congresso uma maioria reformista a tocar as mudanças que o Planalto e o PT são incapazes de liderar. Isso embaça o futuro, muito além de 2016 ou 2018.
A esperança venceu o medo, dizia o bordão de Lula em 2002. O cinismo, 14 anos depois, está prestes a derrotar o medo e a vergonha de lançar o país de volta ao labirinto do baixo desenvolvimento, onde os seres reprimem suas expectativas e se acostumam às mais tortuosas rotinas.