O segredo do sucesso deste blog é escrever o que pensa, não o que querem que escreva — mesmo quando a demanda parte de milhares de leitores. Felizmente, o PT ainda não logrou seu intento, o mundo é vasto, e as pessoas são livres para escolher. Tenho verdadeiro horror a rasgos populistas. E, quando eles se manifestam, expresso meu desagrado.
Causou certo frisson o despacho de ontem do juiz Sérgio Moro, que afirmou jamais ter recebido reclamações dos advogados dos presos da Lava-Jato sobre as condições da carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. No arremate, ele pediu que os advogados se manifestem se seus clientes preferem ir para prisões estaduais.
Vamos ver. A Folha publicou relatos sobre as condições em que vivem os presos. Reproduzo síntese que o próprio jornal fez da reportagem:
“Os presos fazem faxina das celas, comem a carne com as mãos porque os talheres são de plástico e usam o vaso sanitário na frente dos outros. A ala em que os executivos presos estão é formada por três celas de paredes brancas, unidas por uma sala comum. Com beliche, mesa e banco de concreto, cada uma delas está preparada para receber duas pessoas. Cada cela tem um vaso sanitário de aço pregado no chão e uma pia. Os presos até hoje só têm direito a duas horas de sol. É quando lavam meias e cuecas. Na hora do banho, têm que fazer fila, pois só há dois chuveiros, com água quente.”
Parece que os petistas na Papuda viviam em situação bem mais confortável. Escreveu Moro, para gáudio de alguns:
“As celas da carceragem da Polícia Federal têm as suas limitações, já que trata-se (sic) apenas de prisão de passagem, mas entendeu-se que a permanência nelas, ao invés da transferência, era do interesse dos próprios acusados. Não houve, perante este juízo, qualquer reclamação formal sobre as condições das celas ou qualquer pedido de transferência ao sistema prisional estadual”.
E ele voltou a fazer essa oferta.
Ora, é sabido que, em regra, as condições dos presídios estaduais são ainda piores. É impossível não ler um esgar de ironia na oferta, como a dizer: “Ah, é? Tá ruim na cela federal? A alternativa…”. Com a devida vênia, meu humor não alcança essas altitudes.
De resto, convenham: uma prisão preventiva que já vai entrando no quarto mês não é, assim, tão de passagem. Ademais, parece haver certa indisposição meio ranheta com a reclamação. E, lamento, entre culpados e inocentes, santos e bandidos, bons e maus, reclamar é parte do jogo.
Prefiro que o estado de direito siga caminhos mais contidos. Este blog não tem nem heróis nem bandidos de estimação.