“Ato em defesa da Petrobras” no Rio enxerga a mão diabólica do “interesse estrangeiro” se aproveitando da Operação Lava Jato. Eu também defendo a Petrobras — para tanto, gostaria de que, um dia, ela ficasse longe da mão podre do Estado

Manifestação promovida pela CUT “em defesa” da Petrobras diante da sede da empresa, no Rio. A de hoje está ocorrendo na sede da Associação Brasileira de Imprensa, no centro da capital fluminense (Foto: Federação Única dos Petroleiros)
Formidável esse ato que começou agora há pouco, no Rio, “em defesa da Petrobras”, promovido pela Federação Única dos Petroleiros, apoiado por uma plêiade de personalidades “de esquerda” e com a anunciada — e inevitável — presença do Grande Embusteiro, o ex-presidente Lula.
Aliás, começou já com troca de insultos e sopapos entre “defensores” da Petrobras e manifestantes que querem o impeachment da presidente Dilma, diante da sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em cujo auditório se realiza o evento. (Leia sobre isto aqui.)
A FUP pôs a circular um manifesto, intitulado “Defender a Petrobras é defender o Brasil” cujo texto aprova e apoia, formalmente, a operação Lava Jato da Polícia Federal, que desvendou a maior roubalheira de dinheiro público da história do país. (Leia a íntegra aqui.)
Mas coloca tantos senões ao andamento do caso e, sobretudo, à cobertura da imprensa, que consegue enxergar uma vasta conspiração diabólica por detrás de tudo de que o país tem tomado conhecimento.
O texto ressuscita o fantasma de “interesses externos” querendo desmoralizar a Petrobras, vê no horizonte o projeto de atentar contra a “soberania” do país, divisa o desejo de um suposto “favorecimento” a “fornecedores estrangeiros” — e por aí vai, no tom “antiimperialista” típico dos anos 60 e 70.
Pois bem, modestamente, deste pequeno espaço — em que um entre milhões de palpiteiros dá seu recado pela web — eu proclamo solenemente que também sou a favor da Petrobras.
Inteiramente a favor, dos pés à cabeça.
Tanto sou a favor que acho indispensável tirá-la, um dia, das mãos podres do Estado — de um Estado, como o brasileiro é pesado demais, gordo demais, incompetente, corrupto e que não está a serviço da sociedade, como deveria, mas antes suga-a impiedosamente em favor de uma minoria que o controla e dele se aproveita de forma sistemática e desbragada.
O Estado foi concebido como uma construção jurídica para organizar, disciplinar e servir à sociedade, cumprindo tarefas como a defesa nacional, a representação do país perante a comunidade internacional, a sustentação e sanidade da moeda, a promoção da segurança dos cidadãos, o estabelecimento da Justiça, o fornecimento de educação e saúde de qualidade e outras tarefas consideradas típicas.

Confusão entre petistas e grupo a favor do impeachment de Dilma marca o início do ato “em defesa” da Petrobras, próximo à sede da Associação Brasileira de Imprensa, no centro do Rio (Foto: Juliana Castro/O Globo)
O Estado produtor — de aço, de petróleo, do que seja — só pode ser concebido como algo temporário e eventual, nos casos em que a verdadeira criadora de riqueza, a iniciativa privada, não consegue atingir objetivos considerados fundamentais para a nação.
Mesmo o Estado diretamente provedor de serviços como transporte coletivo e infraestrutura (saneamento básico, aeroportos, portos, ferrovias, rodovias) já foi reciclado, em países mais adiantados do que o nosso, por um Estado que REGULA e FISCALIZA essas atividades, de forma a atender ao interesse público, deixando à iniciativa privada, que é mais competente e mais eficiente, a realização das respectivas obras e, posteriormente, a operação direta dos serviços.
No Brasil, a loucura estatizante, que chegou ao paroxismo durante a ditadura militar (1964-1985), levou o governo em seus diferentes níveis a ser responsável, direta ou indiretamente, por atividades como montagem de automóveis e caminhões, a industrialização de alimentos, a gestão de empresas aéreas, a atividade petroquímica, operação de bancos comerciais, de corretoras de papéis, de empresas gestoras de mão de obra etc etc etc… e, na medida que o BNDES assumia diretamente a gestão de empresas falidas a quem fizera empréstimos, até o grotesco de fabricar calcinhas e sutiãs.
Defendamos, então, a Petrobras — antes de mais nada, clamando para que a Operação Lava Jato chegue até o fundo nas investigações, que estas sejam levadas a juízo, que os responsáveis pela ladroagem sejam severamente punidos, que o Ministério Público lute sem tréguas para que a maior parte possível do dinheiro desviado ou superfaturado volte aos cofres da empresa.
Mas sem perder de vista o fato de que, ao longo de sucessivos governos, a empresa estatal é um ninho poderoso, quase inexpugnável de corporativismo, trabalha em primeiro lugar e acima de tudo pelo bem-estar de seus funcionários — houve época em que a empresa depositava no fundo de pensão dos servidores dez vezes mais do que era recolhido pelo próprio interessado –, tem servido de cabide de empregos para políticos no desvio e cupinchas de todo gênero, tem sido manipulada para fins políticos e tem sido utilizada aberta e declaradamente para mascarar a inflação, com manipulação de preços de seus produtos.
E sem deixar de pelo menos refletir no fato de que, longe da mão podre e viciada do Estado, ela poderia tornar-se, verdadeiramente, um gigante — sem pés de barro.