terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

"Petrobras no grau especulativo: menos crédito e juros mais altos", por Miriam Leitão

O Globo


O que se temia aconteceu. A Petrobras perdeu o grau de investimento por uma das duas maiores classificadoras de risco: a Moody’s. Pela Standard & Poor’s, ela ainda mantém, mas a agência já fez alertas seguidos à empresa. A Petrobras não conseguiu entregar um balanço auditado, tem alto endividamento, a dívida está subindo com a alta do dólar, e a empresa está em meio ao pior escândalo de corrupção de que se tem notícia no Brasil.
A empresa foi rebaixada de Baa3 para Ba2. A Moody's baixou dois degraus, o que não é comum nesses movimentos. Ficou no segundo degrau do chamado "nível especulativo". A petrolífera brasileira continua sob revisão para novo rebaixamento.
No mês passado, a empresa já tinha sido rebaixada, mas ainda continuava no último degrau do chamado "nível de investimento”. O que a agência explica é que a crise está mais profunda do que imaginada inicialmente e não tem visto progressos substanciais da empresa no enfrentamento dos seus problemas.
Ao entrar para o grupo especulativo, a Petrobras terá ainda mais dificuldade para conseguir financiamentos. Há muitas restrições regulatórias para fundos de investimentos e bancos emprestarem ou investirem em empresas sem o grau de investimento.
O risco agora cresce sobre o governo brasileiro. O Brasil também está no último degrau do nível de investimento. Como a Petrobras é a maior empresa brasileira, os riscos do Brasil e da empresa têm muita conexão. Por isso se eleva o temor de que o Brasil também seja rebaixado.
Na semana passada, o ministro Joaquim Levy esteve com as agências explicando o programa de melhoria fiscal. Mas, concretamente, a partir de agora tanto em capital de investimento quanto em crédito, a empresa brasileira terá mais dificuldade de acesso e terá que pagar mais caro.
Quando a agência fala da dificuldade de divulgar o balanço auditado e diz que a empresa tem risco de liquidez, indiretamente ela está se referindo ao fato de que, se não sair o balanço, credores podem pedir antecipação de pagamento de dívida.
A empresa está prometendo para maio a divulgação do balanço.